ASSUNÇÃO DOS ANJOS, 2009

A então secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse no dia 9 de Agosto de 2009, em Luanda, que as eleições presidenciais em Angola não deviam ser adiadas e pediu um esforço no combate à corrupção. Foi há 13 anos.

Por Orlando Castro

No primeiro dia da sua visita a Angola, Hillary Clinton saudou a realização de eleições legislativas “pacíficas e credíveis” (não sei qual é a bitola norte-americana para “credíveis”) no ano anterior, as primeiras em 16 anos, mas acrescentou que o país devia organizar “uma eleição presidencial no prazo previsto”, numa altura em que se admitia que essa eleição, agendada para 2009, poderia ser adiada.

“Esperamos com impaciência que Angola aproveite esta etapa positiva adoptando uma nova constituição, perseguindo as pessoas que foram culpadas no passado pelas violações dos direitos do homem e organizando no prazo previsto uma eleição presidencial livre e justa”, afirmou a responsável pela diplomacia norte-americana, citada pela AFP, numa conferência de imprensa com o seu homólogo angolano, Assunção dos Anjos.

O discurso foi (como são todos) bonito, nem outra coisa seria de esperar. Como é que os EUA julgam possível julgar os culpados pelas violações dos direitos humanos se, para isso, é preciso sentar no banco dos réus muitos dos actuais donos do poder?

“A corrupção é um problema em toda a parte e onde existe mina a confiança do povo na democracia, distorce a governação e impede o pleno envolvimento das populações na vida das sociedades”, afirmou Hillary Clinton, acrescentando que “é justo dizer que Angola começou a dar passos para melhorar a transparência”, refere a Reuters. Isto foi dito há… 13 anos.

Provavelmente Hillary Clinton viu o que escapa à esmagadora maioria dos angolanos. Ou seja, viu alguns passos para melhorar a transparência. Não disse quais, mas também não poderia dizer muito mais.

Assunção dos Anjos respondeu que Angola estava (em 2009, recorde-se) a esforçar-se por retirar milhões de pessoas da pobreza e melhorar a transparência. Treze anos depois já só temos… 20 milhões de pobres e a transparência continua cada vez mais… opaca.

Gostei. É sempre bom, apesar do dramatismo inerente, ouvir um ministro do partido que governa Angola desde 1975, o MPLA, reconhecer que há milhões de pessoas na pobreza. Não basta reconhecer, mas só isso já representa um fenomenal esforço. É claro que, com a chegada ao Poder de João Lourenço, tudo mudou. Ele baixou uma ordem superior para se passar a dizer que a fome, a corrupção, a pobreza são agora… relativas.

“Infelizmente, não é possível erradicar a pobreza com uma varinha mágica. Não se pode dizer que não haverá pobres daqui a dois anos. Será erradicada através de programas bem estruturados que gerarão riqueza”, afirmou o ministro angolano há… 13 anos.

E tinha razão. Não é com uma varinha mágica que se acaba com os pobres. Aliás, como todos sabem, a varinha só funciona quando é para dar mais uns milhões aos poucos que já têm muitos milhões.

E assim, Hillary Clinton disse algumas coisas que a oposição queria ouvir e guardou para o recato dos gabinetes o essencial da questão: o petróleo.

Já agora recordo quem eram os colegas de Assunção dos Anjos no governo escolhido por José Eduardo dos Santos e que tomou posse a 15 de Outubro de 2008.

O Presidente da República de Angola indicou hoje os ministros que vão integrar o novo executivo para a legislatura que arranca oficialmente a 15 de Outubro.

Na Defesa, José Eduardo dos Santos manteve Kundi Paihama, mas nas Relações Exteriores substitui João Miranda por Assunção Afonso dos Anjos.

O executivo liderado pelo primeiro-ministro Paulo Kassoma tinha 33 ministros, mais cinco do que o anterior, tendo o Presidente da República indigitado ainda, depois de ouvido o chefe do executivo, dois secretários de Estado.

No novo executivo mantiveram-se os ministros do Interior, Roberto Leal Monteiro “Ngongo”, da Administração do Território, Virgílio Ferreira de Fontes Pereira, da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, António Pitra Neto, e do Planeamento, Ana Dias Lourenço.

Permaneceram ainda, com as mesmas pastas, os ministros dos Transportes, Augusto Tomas, da Agricultura, Afonso Pedro Kanga, das Pescas, Salomão José Chirimbimbi, da Indústria, Joaquim Duarte da Costa David, das Obras Pública, Higino Carneiro, da Geologia e Minas, Makenda Ambroise, da Assistência e Reinserção Social, João Baptista Kussumua, dos Antigos Combatentes e Veteranos de Guerra, Pedro José Van-Dunen, e da Comunicação Social, Manuel Rabelais.

O executivo de Luanda passou a contar ainda com pastas novas, como as da Economia, que foi ocupada por Manuel Nunes Júnior, do Urbanismo e Habitação, entregue a Diakumpuna Sita José, e das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, atribuída a José Carvalho da Rocha.

Para a Justiça, o Presidente indicou Guilhermina Costa Prata, para as Finanças Eduardo Leopoldo Severino de Morais, com o Comércio ficou Maria Idalina Valente.

O ministro da Hotelaria e Turismo foi Pedro Mutindi e dos Petróleos José Maria de Vasconcelos.

A nova ministra do Ambiente era Maria de Fátima Monteiro Jardim, com a Ciência e Tecnologia Maria Cândida Teixeira, na Energia Manuel Viera Lopes e na Saúde José Viera Dias Van-Dunen.

A Educação teve como ministro António da Silva Neto, a Cultura Rosa Maria da Cruz e Silva.

A pasta da Família e da Promoção da Mulher foi atribuída a Genoveva da Conceição Lino, enquanto Gonçalves Manuel Muandumba ficou com a Juventude e Desportos.

Como ministros sem Pasta, José Eduardo dos Santos manteve António Bento Bembe e nomeou Francisca do Espírito Santo. Foram ainda indicados os secretários de Estado para o Desenvolvimento Rural, Maria Filomena de Fátima Lobão Telo Delgado, e para o Ensino Superior, Adão Gaspar Pereira do Nascimento.

Nota. Morreu nesta segunda-feira, 12 de Dezembro, vítima de paragem cardíaca, em Madrid, Espanha, o diplomata Assunção dos Anjos, antigo ministro das Relações Exteriores e embaixador de Angola em França, Espanha e Portugal. Assunção Afonso Sousa dos Anjos nasceu a 13 de Fevereiro de 1946, em Luanda.

Artigos Relacionados

Leave a Comment