ASSIM SE VÊEM OS (BONS) VIZINHOS

O Presidente de Angola, João Lourenço, manifestou hoje “consternação devido às perdas humanas e materiais em consequência das inundações na África do Sul”, exprimindo ao seu homólogo sul-africano a solidariedade do povo e do Governo angolano. Fez muito bem em não se abster…

“Com profundo pesar e consternação temos vindo a acompanhar a situação dramática que se abateu sobre a província do Kwazulu-Natal, provocada pelas intensas chuvas e consequentes inundações, que já provocaram cerca de quatro centenas de vítimas mortais, encontrando-se ainda desaparecidas sob os escombros várias dezenas de pessoas”, escreveu João Lourenço numa mensagem dirigida ao seu homólogo, Cyril Ramaphosa.

João Lourenço acrescenta que a elevada perda de vidas humanas, “com o sofrimento que lhe é inerente, e a dimensão das destruições de bens públicos e privados”, constitui uma perda dolorosa para todo o povo sul-africano e manifesta a Cyril Ramaphosa “solidariedade” pelo momento difícil, expressando condolências a todas as famílias enlutadas.

As recentes inundações registadas na África do Sul provocaram a morte de pelo menos 443 pessoas, e outras 63 estão dadas como desaparecidas, disseram hoje as autoridades locais.

“O número de mortos aumentou para 443”, referiu o chefe do governo da província de KwaZulu-Natal, Sihle Zikalala, numa conferência de imprensa, citado pela agência France-Presse (AFP).

A maioria das vítimas é da região de Durban, cidade portuária de 3,5 milhões de habitantes na costa do oceano Índico, onde fortes chuvas têm vindo a causar inundações e deslizamentos de terras.

“O risco de inundações é hoje baixo em KwaZulu-Natal”, disse à AFP Puseletso Mofokeng, do Instituto Nacional de Meteorologia, acrescentando que a precipitação se dissipará “completamente entre quarta-feira e o fim da próxima semana”.

Nos últimos dias, ministros e líderes tradicionais têm estado no terreno a avaliar a extensão dos danos e a apoiar as famílias das vítimas e desalojados.

Segundo a AFP, há famílias dizimadas, que perderam vários membros em poucos segundos, e crianças e bebés afogaram-se ou foram enterrados em deslizamentos de lama.

“Esta é uma tragédia de proporções esmagadoras”, disse Thabo Makgoba, arcebispo da Cidade do Cabo e sucessor do carismático Desmond Tutu (que morreu em Dezembro de 2021), aludindo ao “stress e dor” que a situação representa para a comunidade.

Em Março de 2017 morreram pelo menos 11 pessoas em Luanda em resultado das fortes chuvas que inundaram mais de cinco mil casas, o desabamento de algumas e desalojando perto de 400 famílias. Como se sabe, na versão dos donos do país (o MPLA), a culpa de a chuva não respeitar as ordens superiores é dos estrangeiros, no caso dos portugueses.

As chuvas inundaram ainda duas escolas, sete centros de saúde e uma igreja, sobretudo nos municípios do Cazenga, Cacuaco e Viana. Para tentar minimizar os estragos das chuvas foram realizados trabalhos de sucção das águas, a abertura de valetas.

No entanto, as autoridades alertaram para a iminência do enchimento e transbordo de várias bacias de retenção de águas das chuvas, bem como o alagamento da maior parte de ruas secundárias e terciárias da periferia de Luanda.

Entendamo-nos. Nesta matéria o MPLA não se abstém. Tudo o que de errado se passou e passa em Angola ou é culpa dos portugueses ou dos arruaceiros da UNITA. A independência poderia ter chegado há 500 anos mas só chegou há 46. A culpa foi primeiro dos portugueses e depois da UNITA. Os presidentes de Angola (todos do MPLA) poderiam ser brancos, mas isso não aconteceu. A culpa foi dos portugueses. Angola poderia ser um dos países menos corruptos do mundo, mas não é. A culpa é dos portugueses.

Em tempos recentes, o ex-Presidente da República (que só esteve no poder 38 anos) José Eduardo dos Santos considerou que a província de Luanda vivia “graves problemas decorrentes da situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra-estruturas e saneamento básico”.

Sua majestade, então rei do país e hoje apenas um marimbondo conluiado com as forças do mal (os tais arruaceiros), intervinha na abertura de uma reunião técnica, dedicada à problemática dos constrangimentos sócio-conjunturais da cidade capital, e que juntou alguns membros do Executivo e responsáveis da província em busca de fórmulas mais consentâneas para a implementação dos projectos decorrentes de programas aprovados há alguns anos.

Segundo o então Presidente, os 30 anos de guerra que o país viveu (por culpa dos portugueses e da UNITA, é claro) não permitiram a mobilização de recursos humanos e financeiros para satisfazer todas as expectativas das populações.

Para o MPLA, os desafios são enormes, as despesas cresceram muito e, em certos casos, “superam a nossa capacidade”, daí a necessidade de recorrer-se à sabedoria no domínio da gestão parcimoniosa.

José Eduardo dos Santos disse também ser preciso trabalhar com base em prioridades “atacando os problemas essenciais”, que, por sua vez, permitam a resolução de outros, decorrentes dos eixos fundamentais.

Antes dessa reunião, no Marco Histórico “4 de Fevereiro”, no município do Cazenga, com titulares das pastas da Construção, Transportes, Planeamento e Desenvolvimento Territorial, Urbanismo e Habitação, os secretários de Estado das Águas e do Tesouro, entre outros responsáveis, o “querido líder” cumpriu uma jornada que o levou às obras de intervenção na zona conhecida como da “Lagoa de São Pedro”, na comuna do Hoji-Ya-Henda, assim como a algumas vias rodoviárias, que supostamente vão conferir melhores condições de vida às populações.

Foi então que, com a impressão digital de um dos seus sipaios (no caso até é filho incerto de pais portugueses) que dirigia o Pravda do regime, Eduardo dos Santos mandou dizer que “no ano de 2015, de grande significado para os angolanos, a empresa lusa Mota-Engil foi contratada para reabilitar todos os passeios e ruas da cidade de Luanda”.

Até aqui tudo normal. Mas seguiu-se a reprodução do argumentário simiesco do sipaio (José Ribeiro, então director do Jornal de Angola), com o aval do Presidente: “Durante as obras, a construtora vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas. Quando nesse ano as fortes chuvas chegaram, as ruas ficaram transformadas em rios e no sítio dos esgotos abriram-se crateras que ainda hoje se vêem.”

E depois não queriam que a rapaziada critique Portugal, mesmo que tenha de se descalçar para contar até 12. Então a Mota-Engil “vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”? Isso é coisa que se faça? Nem os “arruaceiros” da UNITA se lembrariam de tal. A ideia seria dar razão ao MPLA quando este fala da “situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra-estruturas e saneamento básico”. Mas, convenhamos, poderiam não ter vedado “com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”.

“Com a acumulação de charcos e lixo, as condições de saúde na capital angolana degradaram-se. A cidade foi assolada por um surto de febre-amarela. A crise só foi ultrapassada com a substituição do governo provincial”, escreveu o Pravda. E escreveu muito bem, ou não estivesse a reproduzir o recado de um líder que até conseguiu pôr o Rio Cuanza a desaguar na foz e não na nascente…

Com todo este cenário, é bom de ver que Portugal para se redimir de todos os seus históricos erros em relação a Angola, deve rapidamente pedir desculpas às terças, quintas e sábados e pedir perdão às segundas, quartas e sextas. Aos domingos devem ser os “arruaceiros” da UNITA. A bem, é claro, da Nação. Da nação do MPLA, entenda-se.

Folha 8 com Lusa

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