Tirando o que está mal… tudo está bem

A economia de Angola terá registado um crescimento de 1,2% no segundo trimestre deste ano face ao período homólogo de 2021, mas teve uma queda de 2,4% face aos primeiros três meses do ano, segundo dados oficiais. Bem que INE poderia omitir qualquer comparação homóloga…

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a economia de Angola registou uma expansão de 1,2% de Abril a Junho deste ano, o que representa o maior crescimento desde o primeiro trimestre de 2019, ainda antes da pandemia de Covid-19, quando Angola tinha crescido também 1,2%.

A subida da actividade económica no segundo trimestre deste ano acontece devido ao efeito muito baixo da actividade económica de Abril a Junho do ano passado, no período mais acentuado da pandemia, altura em que a economia de Angola tinha caído 8,4%, pelo que o resultado de 1,2%, este ano, não compensa a quebra anterior.

“O desempenho das actividades económicas no segundo trimestre de 2021 em relação ao segundo trimestre de 2020, em termos de variação positiva, deveu-se, fundamentalmente, às actividades Agro-Pecuária e Silvicultura (8,5%); Pesca (104,2%); Produtos da Indústria Transformadora (1,4%); Electricidade e Água (2,4%); Comércio (14,5%); Transportes e Armazenagem (80,4%); Correios e Telecomunicações (8,6%); Intermediação Financeira e de Seguros (5,5%); Administração Pública, Defesa e Segurança Social Obrigatória (5,0%); Serviços Imobiliários e Aluguer (5,0%); Serviços de Intermediação Financeira, Indirectamente Medidos (8,9%)”, lê-se no comunicado disponível no site do INE.

A economia angolana registou no ano passado uma contracção de 5,4%, que se segue a quatro anos de crescimento negativo impulsionado pela descida do preço do petróleo desde meados de 2016 e, depois, pelos efeitos da pandemia de Covid-19.

INE também é sucursal do MPLA?

Sob o título “Diversificar a mentira para enganar matumbos”, o Folha 8 publicou no dia 10 de Janeiro de 2018 um texto em que dizia: «As exportações angolanas de produtos agrícolas cresceram 120 vezes do segundo para o terceiro trimestre de 2017, atingindo a fasquia dos 21,1% do total de vendas ao exterior, segundo as mais do que duvidosas contas do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola. Não. A terra ainda não tinha sido alimentada com esse miraculoso “adubo” chamado João Lourenço.»

De facto, as contas do INE eram mais do que duvidosas. Terão sido feitas em cima dos joelhos de alguém que não tinha joelhos. Cinco dias depois o INE corrigiu o valor das exportações agrícolas no terceiro trimestre de 2017, do crescimento inicial de 120 vezes para menos do dobro face aos três meses anteriores.

A informação consta de uma errata, publicada no dia 15 de Janeiro de 2018 pelo INE, à Folha de Informação Rápida do Comércio Externo do terceiro trimestre de 2017, alegando a ocorrência de “um erro na codificação de um produto do grupo combustível, com o código de produto agrícola”, que resultou “no aumento do valor da exportação de produtos agrícolas em 21,2% em detrimento de combustível em 74,2%”.

Na versão corrigida, Angola exportara produtos agrícolas no valor de 3.706 milhões de kwanzas entre Julho e Setembro de 2017 – contra os anteriores, que seriam históricos, 292.479 milhões de kwanzas (1.400 milhões de euros) -, neste caso um aumento de 53,2% face ao trimestre anterior, mas uma quebra de 26,3% tendo em conta o período homólogo de 2016.

Com esta revisão, o peso das exportações agrícolas desceu 21,1% do total para apenas 0,3%, voltando as exportações petrolíferas ao patamar habitual, passando de 74% para 95,1% do total.

Na mesma altura, contactado pela Lusa, o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, desvalorizou estes números, que classificou como “bons de mais para serem verdade”, tendo em conta a pretensão, arrastada no tempo, de diversificação da economia nacional. “Não é possível um crescimento assim”, afirmou então o empresário.

Agora, na versão corrigida da Folha de Informação Rápida do Comércio Externo, o INE refere que as exportações de petróleo no terceiro trimestre de 2017 aumentaram 4,3%, face ao trimestre anterior, para 1,317 biliões de kwanzas (5.850 milhões de euros), o que também representa uma descida homóloga de 0,7%, tendo em conta o registo no mesmo período de 2016.

Antes, no dia 8 de Janeiro de 2018, o Presidente João Lourenço afirmou que era tempo de Angola passar das acções à prática no que toca à diversificação da economia, para que quando se fale das exportações nacionais não seja apenas do petróleo.

O Presidente da República falava nos jardins do Palácio Presidencial, em Luanda, na sua primeira conferência de imprensa, com mais de uma centena de jornalistas de órgãos nacionais e estrangeiros, quando passavam 100 dias após ter chegado à liderança no Governo, tendo sido questionado sobre os efeitos da austeridade no processo de diversificação da economia.

“É absolutamente necessário. A nossa salvação está aí. E a autoridade não significa não diversificar a economia, antes pelo contrário. É precisamente a austeridade que nos obriga a diversificarmos a economia”, defendeu.

Até ao segundo trimestre de 2017, segundo os dados do INE, cerca de 95% das exportações angolanas eram de petróleo bruto, pelo que a economia do país se ressente, desde finais de 2014, da quebra prolongada na cotação do barril de crude no mercado internacional.

“Angola não tem outra saída senão diversificarmos de facto a sua economia. Sobre isso já muito se falou, já correu muita tinta. Temos que passar a acções concretas, no sentido de fazer com que as nossas exportações não se baseiem apenas no crude, no petróleo bruto, mas quando falarmos de exportações de Angola falemos sobretudo mais de outros produtos”, defendeu João Lourenço.

Ainda assim, as receitas fiscais angolanas com a exportação de petróleo deverão atingir, em 2018, mais de 2,399 biliões de kwanzas (12 mil milhões de euros), com o Governo a estimar vender cada barril a 50 dólares. Os dados constam do relatório de fundamentação do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018.

O documento do Governo previa que 24,8% de todas as receitas a angariar pelo Estado sejam provenientes do sector petrolífero, enquanto os impostos do sector não petrolífero deverão ascender, em 2018, a 1,740 biliões de kwanzas (8.875 milhões de euros).

Folha 8 com Lusa

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