O ideal é não pagar o que se deve e continuar a receber fiado

João Lourenço, Presidente angolano, defende a continuidade das negociações ao nível bilateral e multilateral para o reescalonamento das dívidas, em função da situação específica de cada país africano, que enfrentam dificuldades na reactivação das suas economias. Já é um bom sinal o líder do partido que “comprou” o país há 45 anos (o MPLA) achar que Angola tem mesmo uma economia.

João Lourenço expressou a posição angolana durante a sua intervenção na abertura do Diálogo de Alto Nível sobre “Alimentar África: Liderança para o Incremento das Inovações bem Sucedidas”, promovido pela Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

Segundo João Lourenço, os baixos preços das matérias-primas nos mercados internacionais e o grande peso da dívida externa são factores que dificultam a reactivação das economias dos países africanos, além da fraca industrialização para o processamento dos produtos do campo, o que faz com que grande parte dos produtos alimentares processados sejam importados de outros continentes para África.

É verdade. Por isso urge perguntar (ou relembrar): Se Angola é independente há 45 anos, 19 dos quais em paz total, a fraca industrialização para o processamento dos produtos do campo é responsabilidade de quem? Até para alimentar o Povo o MPLA tem de importar comida. E a culpa será de quem? Da chuva, da seca, da UNITA, de Diogo Cão?

O chefe de Estado angolano sublinhou que a população rural africana está sobretudo ligada à agricultura familiar, que contribui com cerca de 70% para o abastecimento dos mercados, mas apesar disso continua a ser o mais pobre e com maiores problemas alimentares. Fora desta verdade estão os despóticos dirigentes que, há 45 anos, trabalham para que os poucos que têm milhões tenham mais milhões e, é claro, para que os milhões que têm pouco ou nada passem a ter ainda… menos.

A par das condicionantes que enumerou, João Lourenço frisou igualmente preocupação com os efeitos das alterações climáticas (como se vê crónica manutenção de Luanda como a capital do lixo), que provocam com mais frequência a seca severa e inundações, assim como o surgimento de pragas, com impacto negativo na produção de alimentos, sublinhando a ajuda técnica da FAO no combate à praga de gafanhotos, que enfrentam algumas províncias do sul de Angola.

“Uma preocupação complementar prende-se com os aspectos nutricionais, já que continuam a estar entre as causas principais das elevadas taxas de mortalidade infantil e do aumento de casos de diabetes e da tuberculose em África”, frisou. Recorde-se que, como muito bem recordam os nossos mais de 20 milhões de pobres, João Lourenço afirmou em tempos que em Angola não havia fome.

João Lourenço realçou que os jovens africanos têm um papel fundamental na transformação e desenvolvimento da agricultura e pescas, nesse sentido, “é importante motivar os jovens para o empreendedorismo e o agro-negócio, facilitando-lhes o acesso às terras, aos insumos, à formação, aos financiamentos, às novas tecnologias e aos mercados”. Também seria bom que os governantes dessem o exemplo e deixassem de plantar as couves com a raiz para cima.

“Permitam-me realçar aqui a grande contribuição e atenção reservadas ao meu país pelo FIDA e pelo BAD [Banco Africano de Desenvolvimento], pela aprovação e implementação de um conjunto de projectos de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar e à comercialização, à recuperação da agricultura e ao reforço da resiliência dos pequenos agricultores à escala familiar”, disse.

Recorde-se que a produção agrícola em Angola cresceu mais de 5 por cento em 2020, face ao ano de 2019, segundo afirmou no início de Abril o ministro da Agricultura e Pescas, António Francisco de Assis. “Este crescimento ainda é pouco para aquilo que o país precisa, apesar dos resultados positivos assinaláveis”, admitiu o ministro.

Entre múltiplos exemplos, que ainda recentemente (11 de Fevereiro de 2021) o Banco Alimentar Mundial (BAM) anunciou que ia disponibilizar a Angola 60 milhões de dólares (49,4 milhões de euros), com o objectivo de financiar o aumento da produção agrícola e a estabilidade em alimentos no país.

O anúncio foi, aliás, feito pelo presidente da instituição, Richard Lackey, à saída de uma audiência com o Presidente João Lourenço. O responsável disse que a instituição vai continuar a ajudar Angola no aumento da produção de alimentos e crescimento dos pequenos agricultores, por via de financiamentos.

“O Presidente angolano está a ser bem referenciado a nível do mundo”, referiu Richard Lackey, citado pela agência noticiosa angolana, Angop, destacando o desenvolvimento registado por Angola nos últimos anos no domínio agro-industrial.

Segundo o presidente do BAM, os investimentos da instituição bancária em Angola poderão atingir nos próximos anos até dois mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros), nos domínios do aumento da produção de alimentos e apoio aos pequenos agricultores, com vista a garantir a segurança alimentar no país.

Curioso é ver que o ministro António Francisco de Assis (como todos os seus colegas de governo) só estão autorizados a repetir o que for dito por João Lourenço que no dia 17 de Fevereiro se regozijou-se pelo crescimento positivo de cerca de 5% do sector da agricultura…

João Lourenço, que discursava na 44ª sessão do Conselho de Governadores do Fundo Internacional de Desenvolvimento (FIDA), frisou ainda que as importações de bens alimentares no país conheceram também no ano passado uma redução de 24%, “o que é um sinal de que a produção nacional começa a ganhar espaço e a substituir os produtos que antes eram importados”.

A redução das importações de bens alimentares poderá ser também graças ao facto de haver cada vez mais angolanos a saber viver se… comer. Ou, ainda, devido à estrutural estratégia do Governo “substituir” as cestas básicas por uma estrutura mais ampla e abrangente: os contentores (básicos) do lixo.

Segundo o Presidente João Lourenço, mesmo com os constrangimentos causados pela pandemia de Covid-19, o executivo continua a desenvolver as iniciativas no sentido de aumentar os investimentos na agricultura. Desta forma o MPLA pensa atingir dentro de alguns anos, talvez dentro de dez ou 15 anos, o mesmo nível agrícola (entre outros) que os portugueses tinham conseguido em Angola em 1974.

Programas e projectos de extensão rural e de financiamento de concessão aos operadores rurais e do agronegócio têm sido desenvolvidos, com taxas de juros bonificadas a empréstimos concedidos ao sector privado, destacou João Lourenço.

O chefe de Estado realçou o apoio de parceiros externos, tais como o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvimento, a Agência Francesa de Desenvolvimento, a União Europeia, entre outros, no aumento da resiliência e autonomia do país, atingindo os objectivos da luta contra a pobreza (Angola só tem 20… milhões de pobres) e aumento da segurança alimentar e nutricional.

Em particular, ao FIDA, João Lourenço agradeceu a atenção e apoio moral, técnico e material, que tem dado a Angola, nos esforços de desenvolvimento agrícola e rural do país. Nomeadamente a garantia, que aliás há muitos anos era dada pelos portugueses mas que nunca foi levada a sério, de que plantar as couves com a raiz para cima não resultaria.

De acordo com o Presidente, o FIDA tem mobilizado, de forma crescente, recursos técnicos e financeiros para executar os projectos de desenvolvimento agrícola e pesqueiro, intervindo nos domínios-chave de pesquisa e extensão agrárias, reabilitação de infra-estruturas rurais, apoio directo aos investimentos produtivos e promovendo o acesso aos mercados, o que vem beneficiando mais de 480 mil famílias em pelo menos dez províncias do país.

“Permitam-se sublinhar que os esforços em curso para a abertura da representação do FIDA em Angola, bem como a criação recente junto do Ministério da Agricultura e Pescas de coordenação dos projectos financiados pelo FIDA irá aumentar e melhorar a capacidade nacional de implementação dos programas”, disse.

João Lourenço frisou que, apesar dos resultados positivos na implementação de programas e projectos agrícolas, pode ser feito “mais e melhor na criação de condições para a retoma do crescimento económico do país em geral, e para o desenvolvimento do sector agrícola e rural, em particular”.

“Julgamos importante garantir um envolvimento cada vez mais activo das organizações de agricultores, bem como reforçar o contributo das pequenas, médias e grandes empresas, que actuam a montante e a jusante da produção agro-pecuária, tanto através do fornecimento de bens e serviços de apoio à produção, como através da aquisição, processamento e distribuição de produtos de origem local”, referiu.

Como muito bem sabe, até por ter vivenciado essa realidade (na altura António Francisco de Assis teria 17 ou 18 anos de idade), enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia. Não tenhamos receio de aprender com quem sabe mais e fez melhor, muito melhor. Só assim poderemos ensinar a quem sabe menos.

Angola era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.

Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.

Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.

Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.

Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.

Além disso, porque o Folha 8 continua a querer salvar João Lourenço através de verdade, enquanto os seus caninos seguidores o preferem assassinar com a mentira, recordamos que, em 1974, Angola era:

O terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; o primeiro exportador africano de carne bovina; o segundo exportador africano de sisal; o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe.

Além disso, Angola em 1974, por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África; tinha o CFB – Caminho-de-Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC, o CFM – Caminho-de-Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho-de-Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho-de-Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela.

E também tinha no Lobito os estaleiros de construção naval da SOREFAME; três fábricas de salchicharia; quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes; pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas; pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas; seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito.

Além disso tinha ainda a fábrica de pneus da Mabor; três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande. Pois. E também rinha a linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum, e…, e…

Folha 8 com Lusa

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