De reBento do José a reBento(na) do João

A UNITA “repudia e deplora veementemente” as declarações do Ministro do Interior e do 1º Secretário Provincial de Luanda do MPLA, Bento Bento, segundo as quais, “a UNITA está a mobilizar elementos afectos ao Movimento Revolucionário para efectuar manifestações violentas nas ruas de Luanda contra o MPLA e o seu líder durante a realização do V Congresso extraordinário desse partido”. Estávamos em Novembro de… 2014.

Segundo essas declarações de Bento Bento, feitas na altura, “os integrantes do Movimento Revolucionário são membros da JURA cuja direcção funciona nas instalações da Rádio Despertar, em Viana “.

“Estas declarações são falsas. Caluniosas. Irresponsáveis e eivadas de intenções inconfessas. Elas revelam, no mínimo, que o MPLA perdeu o norte e quer agora, tal como no passado, voltar a nadar nas águas turvas da calúnia e da desinformação, para sustentar os seus planos macabros, já denunciados, de executar assassinatos políticos dos seus adversários”, afirmou a Direcção da UNITA. Estávamos em Novembro de… 2014.

Os dirigentes do Galo Negro dizem que ”os angolanos sabem que a UNITA não precisa de vestir outras camisolas para exercer os seus direitos. Os actos políticos da UNITA são reflectidos, organizados e assumidos por ela mesma em toda a sua dimensão, no país e no estrangeiro”.

A UNITA disse igualmente: “Assim tem sido ao longo de quase 50 anos de história. Em 1975, aquando da invasão russo-cubana no intuito de inviabilizar a democracia, a UNITA, em legítima defesa, escolheu o caminho do sacrifício, sozinha, o que veio a culminar com a conquista da democracia multipartidária que hoje vigora no País, embora contra a vontade do MPLA”.

“Esperamos que Bento Bento e o seu MPLA não estejam assim tão alheios ao que se passa em Luanda a ponto de revelarem desconhecimento quanto à sua geografia e especificamente à topografia da Vila Alice, pois, a sede da JURA funciona em Vila Alice a uma distância de cerca de 220 metros a Oeste da sede do Comité Provincial do MPLA onde Bento Bento tem os seus escritórios”, ironizava a UNITA.

Na realidade, esclareceu na altura o maior partido da oposição, “a suposta transferência da Sede da JURA por Bento Bento para as instalações da Rádio Despertar não é inocente. Só por si ela clarifica a tácita intenção de encontrar pretexto para justificar a destruição desse órgão de imprensa resultante dos Acordos de Paz”.

“A UNITA nada tem a ver com os problemas internos do MPLA e repudia veementemente a tentativa deste Partido/Estado de atirar areia para os olhos das pessoas ao procurar atribuir à UNITA as causas das suas profundas contradições e crises de identidade”, salientou o partido então liderado por Isaías Samakuva, acrescento que “é certo que a UNITA deplora a má governação de Angola pelo MPLA. Deplora a corrupção, as gritantes violações dos direitos humanos, o nepotismo, as injustiças sociais e as fraudes eleitorais que o Partido/Estado organiza, mesmo afirmando-se de Esquerda. Mas a UNITA sabe que o soberano em Angola é o povo e só o povo tem legitimidade para escolher e demitir os governos, nos termos da Constituição”. Estávamos em Novembro de… 2014.

Nesta violenta reacção, corrobora que “a todos os agressores da Paz, mandantes e executores, a nossa mensagem é clara e inequívoca: não percam o vosso tempo com provocações à UNITA. Desistam, porque jamais voltaremos a cair nessa armadilha”.

“O único desafio agora é o de ideias e aquele que não tiver capacidade para exibir a força de seus argumentos, perde e não deverá fazer recurso aos argumentos da força porque a Constituição não permite e a Democracia não se revê neles”, disse a UNITA, afirmando ainda que “o MPLA, que até por sinal sustenta um Governo que é Membro Não Permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ajude-nos a manter a verdadeira PAZ, a Democracia autêntica e a uma Reconciliação Nacional genuína, valores pelos quais, nós da UNITA pugnamos”.

No contexto pragmático, afirma que “a UNITA sempre desejou que o MPLA fosse uma Organização democrática, pacífica e tolerante. Por esta razão, a UNITA reafirma a importância da realização de congressos democráticos, com múltiplas candidaturas e com renovação de mandatos. Só pode governar democraticamente quem prática a verdadeira democracia no seio do seu partido”.

Espectro da derrota põe MPLA de dedo no gatilho

Mais uma vez os especialistas (muitos são portugueses) contratados pelo regime angolano dizem a João Lourenço que a vitória eleitoral não está garantida. O MPLA começa a ficar nervoso e procura soluções radicais. Iremos assistir a uma reedição da estratégia seguida em 2012?

Pouco antes das eleições de 2012, em várias províncias, nomeadamente Benguela e Kwanza Sul, a população começou a debandar para as matas temendo, como diziam, o regresso da guerra.

Mas, afinal, quem falava em guerra? O próprio regime que estava então a movimentar as Forças Armadas Angolanas (FAA) por todo o país, justificando com uma normal movimentação de efectivos. A população não acreditava. E era isso mesmo que o MPLA pretendia.

Na capital mas com repercussão nacional, Bento Bento, pedia aos militantes do seu partido para que controlassem “milimetricamente” todas as acções da oposição, em especial da UNITA, para não serem “surpreendidos”.

De acordo com o então primeiro secretário de Luanda do MPLA, a oposição liderada pela UNITA decidira enveredar por “manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando à desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus”.

Era caso para dizer: Que bandidos são estes tipos da oposição. E na altura (como hoje) Bento Bento ainda não tinha descoberto que Alcides Sakala, Lukamba Gato, Isaías Samakuva e Abílio Camalata Numa, Adalberto da Costa Júnior tinham em casa um arsenal de Kalashnikov, mísseis Stinguer e Avenger, órgãos Staline, katyushas, tanques Merkava e muito mais…

Dizia Bento Bento que a direcção do MPLA “tinha dados da inteligência (informações) nas suas mãos que apontam que a UNITA estava prestes a levar a cabo um plano B”. Tinha? Será que agora não tem?

Este plano previa, segundo os etílicos delírios de Bento Bento, “uma insurreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto e Tunísia”, sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla, Benguela e Uíge as visadas. Aí estava o espírito da guerra, tão querido ao MPLA.

Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, ténue e embrionária, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver a UNITA a governar o país.

Para além do domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA sempre apostou forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.

No início de 2008, circularam notícias convenientemente plantadas que, no Moxico, “indivíduos alegadamente nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”.

Disparate? Não, de modo algum. Aliás, um dia destes vamos ver por aí Bento Bento ou Luvualu de Carvalho, afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA.

E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada, tão do agrado das potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o perigo de terrorismo ou do regresso à guerra civil.

Se no passado, pelo sim e pelo não, falaram de gente armada no Moxico, agora deverão juntar o Bié ou o Huambo.

Bento Bento, um dos maiores especialistas de Eduardo dos Santos e agora também (pudera!) de João Lourenço nesta matéria, não tardará – se assim for conveniente – a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia, certamente comer farelo.

Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou ganha ou será o fim do mundo.

Além disso, nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos armados, ou a armar-se, que precisam de ser neutralizados.

Aliás, como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus BB (Bentos Bentos) para criar a confusão mais útil. E, como também todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA será culpada até prova em contrário.

O regime reeditará em 2022, obviamente numa versão acrescentada e melhorada, as linhas estratégicas do seu plano de 2008 e de 2012.

“A situação interna não transparece em bons augúrios para o MPLA, devido a várias manobras propagandísticas por parte dos partidos da oposição e de cidadãos independentes apostados em incriminar o Partido no Poder para fazer vingar as suas posições mercenárias junto da população civil e das chancelarias e comunidade internacional”, lia-se na versão de 2008.

Na de 2012 manteve-se o conteúdo e só a embalagem mudou qualquer coisa. Pouca coisa, aliás. Na de 2017 apenas deixou de aparecer a chipala de José Eduardo dos Santos.

No terreno está a onda propagandística sobre a UNITA e os seus dirigentes. Para além da apertada vigilância sobre os dirigentes da cúpula da UNITA (incluindo escutas telefónicas), foram reactivadas as células-mortas de informadores no interior do Galo Negro, bem como as Brigadas Populares de Vigilância nos bairros de Luanda e nas capitais provinciais, as quais podem contar – se for necessário – com armamento ligeiro.

Afinal, na História recente (desde 1975) do regime angolano, nada se perde e tudo se transforma para que os mesmos continuem a ser donos do poder e, é claro, de Angola.

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