Califórnia, olé! MPLA, olé!

O Presidente da República, João Lourenço, está de visita a Benguela (a Califórnia de Angola, segundo o Presidente do MPLA), onde vai assistir ao reinício do reinício do eventual reinício do processo de produção da fábrica África Têxtil.

Em 2013 (recordam-se?) o MPLA (partido que só está no Poder há… 45 anos) previa que a empresa África Têxtil voltaria a funcionar no início de… 2014, depois de obras de reabilitação e ampliação.

Inaugurada em 1974, a África Têxtil foi encerrada no final dos anos 1990 e em 2013 o projecto de reabilitação e ampliação desta empresa do Estado/MPLA estava orçada em 280 milhões de dólares.

O projecto África Têxtil, nos arredores de Benguela, faz parte de um programa mais amplo que inclui as empresas Satec, na cidade do Dondo, no Cuanza Norte, e a Textang, em Luanda. O projecto pretendia relançar o sector industrial têxtil do país. Esperava-se que, em 2015, a unidade fabril produzisse 350 mil toneladas de colchas e 100 mil toalhas por ano.

No tempo colonial, Angola produzia algodão em quantidade que era depois exportado para Portugal. Porém, depois o MPLA comprou o país e de forma inovadora, bem visível na agricultura, inverteu o que os portugueses faziam e ordenou que as couves fosse plantadas com a raiz para… cima.

Exactamente em Benguela, na pré-campanha eleitoral (acto simbólico que mais uma vez permitiu fingir que em Angola existe uma democracia), João Lourenço afirmou que o governador provincial, Rui Falcão, era obrigado a ‘’transformar a região numa Califórnia em Angola’’, capaz de mexer com a economia e gerar empregos.

Isto, é claro, porque João Lourenço considerava que o agro-negócio, a pesca, a indústria e o turismo podiam elevar Benguela à categoria da região norte-americana da Califórnia.

Entretanto ficou a saber-se que Lisboa e Benguela poderiam vir a ter um voos directos em 2020, dependendo da conclusão do processo de certificação do aeroporto da Catumbela. Recorde-se que já em Fevereiro de 2014 este aeroporto, inaugurado dois anos antes, estava à espera de receber a certificação de aeroporto internacional por parte do Instituto Nacional da Aviação Civil.

Na altura, há sete anos, faltava o terminal de carga, instalações para alfândega e montagem de algum equipamento. Em declarações feitas em Fevereiro de 2014, o presidente do Conselho de Administração da Enana, Manuel Ceita, foi peremptório: “Já existe a ordem por parte da tutela para se resolver essa questão e nós vamos cumpri-la.”

Segundo o actual ministro dos Transportes, Ricardo Daniel Sandão Queirós Veigas de Abreu, citado no Jornal de Angola, a certificação do aeroporto internacional da Catumbela, 20 quilómetros a norte da cidade de Benguela, capital da província homónima, estava numa fase “avançada” de negociações, devendo estar concluído até ao fim de 2019 ou, o mais tardar, no início de 2020.

Ricardo de Abreu falava na sequência da visita que o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, efectuou às províncias da Huíla e Benguela, tendo adiantado ter tido conversas com as autoridades portuguesas sobre a possibilidade de a ligação aérea directa se concretizar, o que dependerá também de um estudo de viabilidade económica.

As duas províncias, vizinhas, albergam uma das maiores comunidades portuguesas em Angola, sobretudo empresários ligados às áreas industriais e agrícolas, região que aloja também o Porto do Lobito, um dos maiores do país, e os Caminhos de Ferro de Benguela (CFB), e que o Governo de Luanda pretende transformar numa plataforma de transporte de mercadorias.

O “hub”, a concretizar-se em pleno – já está em funcionamento, embora ainda de forma deficitária -, vai permitir não só escoar a produção agrícola e industrial do interior angolano, via caminho-de-ferro, como também a dos países da região, como República Democrática do Congo, Zâmbia e Zimbabué (tal como fora previsto na altura colonial).

Em 1899, o governo português iniciou a construção da ferrovia para dar acesso ao interior e às riquezas minerais do então Congo Belga. Após a morte de Cecil Rhodes, em 1902, Robert Williams, um amigo de Rhodes, tomou conta da construção e completou a ligação a Luau, em 1929, constituindo a empresa Companhia do Caminho-de-Ferro de Benguela SARL.

O acto solene do início da construção do CFB foi realizado no dia 1 de Março de 1903, junto à ponte sobre o rio Cavaco (então Ponte D. Carlos), tendo sido presidido pelo Governador-Geral de Angola, Cabral Moncada.

O primeiro trecho operacional da CFB iniciou-se em 1905, ligando o Lobito à Catumbela, graças à chegada ao porto do Lobito da primeira locomotiva, a nº 1, em Novembro de 1904, vinda de uma metalúrgica de Leeds, no Reino Unido.

A linha mostrou ser um sucesso, revelando-se muito rentável para as potências coloniais, especialmente por ser a ligação mais curta para transportar as riquezas mineiras do Sul do Congo para a Europa. Em 1931, o porto do Lobito recebeu por via férrea o primeiro carregamento de cobre proveniente do Catanga.

Segundo Ricardo de Abreu, se tudo correr normalmente, as ligações aéreas directas de e para Lisboa, bem como de e para outras capitais africanas, poderão ser uma realidade a partir do aeroporto da Catumbela, inaugurado em 27 de Agosto de 2012.

“Acredito que sim, por aquilo a que assistimos ao longo da visita do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Há a possibilidade de termos a Catumbela a fazer ligações directas a Lisboa e outras capitais”, sublinhou, citado pelo Jornal de Angola.

Ricardo de Abreu adiantou que estava também em curso a alteração do próprio regime de exploração dos aeroportos de Angola, o que irá permitir acelerar o processo de certificação não só da Catumbela como de outros aeródromos do país.

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