O mundo exige, por vezes, um propósito para aconselhar uma certa reflexão aos que fervem em pouca água, xinguilam ou xingam com um certo histerismo. Sempre que escrevo e falo de alguém que já não existe (como o desta crónica), raramente não com o mesmo argumento, tenho a convicção do vazio e, de que os ente queridos que partiram (os mortos) não se podem defender.
Por Fernando Vumby (*)
Nós, infelizmente, vivemos num país onde os “criminosos vivos” não têm a coragem de dar a cara, tão pouco mostram sinais, em respeito pelas vítimas, de arrependimento. Eles acovardam-se, ao ponto de nem sequer se defenderem, pelo menos, de forma credível e convincente dos crimes que lhes são apontados.
Por tudo isso, ambicionava dizer ou fazer tudo hoje e não deixar nada para amanhã, mas, infelizmente, ninguém consegue fazer tudo, que gostaria, de fazer no mesmo dia sem deixar nada para o dia seguinte, pelo tamanho da (minha) memória em termos de arquivos, mas do muito que ainda tenho para escrever, grande parte nunca tornada pública, não tenho como não guardar para amanhã.
Eu vou continuar a falar dos mortos, alguns dos quais, não teria nada contra, tão pouco se fossem enterrados algemados, doa a quem doer.
Hoje trago à tona um dos colegas de José Eduardo dos Santos, na ex-URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), Zé Vavá, que Lúcio Lara mandou executar, no 27 de Maio de 1977.
José Sebastião também conhecido pelos seus camaradas por, “engenheiro Zé Miló”, nasceu em 1943, no Ambrizete (puro ambrizetano de gema) que cresceu desde os 10 anos de idade, naquele que já foi o mais famoso e populoso bairro de Luanda; Sambizanga.
No entanto, foi no futebol que ganhou a alcunha de Zé Vavá dada as suas características e fintas raras tão semelhantes á da estrela que brilhava no futebol brasileiro, naquele tempo, o Vavá.
Este jovem, juntou-se à guerrilha em Leopoldville em 1962 quando ainda estava na flor da juventude, ao lado do MPLA. Tempos depois, beneficiou de uma bolsa de estudo para a então União Soviética, fazendo parte do mesmo grupo de José Eduardo dos Santos, tendo-se se licenciado em Agronomia.
Nas conversas sempre confidenciou que Lúcio Lara, então secretário administrativo (uma espécie de secretário geral) MPLA, tinha uma má relação com ele, ao ponto de boicotar a sua colocação mesmo já depois de formado.
No regresso a Angola a animosidade da guerrilha permanece e Lúcio Lara é apontado, como tendo, na ressaca, do 27 de Maio de 1977, aproveitado para ordenar a sua busca, captura… sem nunca mais ter sido visto, nem vivo, nem morto, contabilizando mais um dos muitos desaparecidos, da longa lista dos executados anónimos.
Tal como José Eduardo dos Santos o mais velho José Manuel Sebastião, também havia casado, na Rússia, com uma cidadã russa, de nome Elvira, com quem fez um filho, Wilson Manuel Sebastião formado como engenheiro agrónomo, tal como o pai.
(*) Fórum Livre Opinião & Justiça
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