Proliferação de seitas e de pseudo-profetas

Cada vez mais ouvimos, em toda a parte do mundo, estórias sobre falsos médicos, advogados, professores, funcionários, cobradores de impostos, oficiais de justiça, trabalhadores fictícios, bem como falsificadores de colarinho branco, frequentemente qualificados de usurpadores de documentos, sonhos, planos e esperança.

Por Emanuel Matondo (*)

Esses grandes bandidos, também usurpadores de títulos, causam danos irreparáveis e incalculáveis, num número infinito de vítimas.

No entanto, menos se ouve sobre uma outra categoria perniciosa na vida dos cidadãos, os falsos pastores, bispos, profetas e outros charlatães que enganam e roubam em nome de Deus, alguns exibindo títulos académicos falsificados de universidades ou altas autoridades religiosas de outras confissões e, imediatamente, se auto-proclamam “doutores, bispos ou profetas“, untados e enviados, por Deus, para pregar a fé, mas o que fazem é o inverso, pois fazem orgias e pregação ao dinheiro dos incautos, para se enriquecerem. Nos primeiros tempos levantam a bandeira da humildade, mas depois apenas brilham com base na arrogância como se fossem “sumos sacerdotes”, mestres em tudo, cujo comportamento é denunciado pela própria Bíblia.

Actualmente, denunciar os usuários de falsificações e, especialmente, os pastores falsos que enganam os cidadãos das nossas sociedades, não pode ser mais um tabu, especialmente, em Angola, face aos abusos desses impostores, as muitas vítimas, quer do ponto de vista sexual, financeiro ou psicológico.

Estes predadores da alma sempre contam com uma massa de fanáticos, seguidores fiéis e cegos, que, também, recebem algumas migalhas, na tese dos “30 dinheiros“, prestando-se a uma cumplicidade pagã sem precedentes, principalmente, passando aos fiéis a imagem dos falsos bispos e pastores, estarem acima das leis e normas estabelecidas na Bíblia, como se fossem “mini-deuses“ na terra, capazes até de manipular influentes agentes nas instituições públicas e estatais.

Mas, felizmente, nos últimos tempos, em muitas sociedades e em Angola, em particular, muitas vozes começam, pouco a pouco, a gritar forte contra as derivas e o abuso de poder, contra esses líderes de seitas religiosas que maltratam, reprimem, destilam o ódio, a discriminação, a superioridade da raça branca, num claro desrespeito das normas de convivência pacífica e na base da fé de todas as raças, costumes e tradições. Eles propagam o abuso da liberdade de religião, quando deveriam ser os primeiros a protegê-lo de perversões e promiscuidades.

A Bíblia adverte sobre os falsos profetas

Na Bíblia, Jesus Cristo já advertia os seus discípulos, a tomar cuidado com os falsos profetas e o apóstolo Paulo, por sua vez, alertou todos os cristãos não apenas contra os falsos doutores e profetas, mas também iluminou o caminho de como identificar os hereges que viriam depois de Cristo: “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos símplices.” (Romanos 16: 17-18).

Enquanto Jesus Cristo, mesmo não tendo fundado uma igreja na sua época, insistia no arrependimento como uma mensagem central para trazer a salvação humana, os falsos profetas e auto-proclamados “doutores da lei”, hoje em dia, põe em primeiro lugar a aquisição de riqueza, que alguns descrevem como “o evangelho da prosperidade”.

Para os pregadores heréticos deste evangelho errado, “enriquecer-se a pregar a palavra em nome de Deus é uma “bênção celestial” e, segundo a sua interpretação, “a pobreza é uma maldição” ou “muitas pessoas são pobres porque permanecem em pecado”.

Ao apoiar esta falsa tese, os falsos profetas sugerem que a pobreza abjecta que afecta, por exemplo, quase um bilião de populações de países africanos, embora rica em recursos naturais, não é uma consequência directa e indirecta dos líderes iníquos que desviam fundos públicos e transferem ilicitamente cada ano para exterior centenas de biliões de capitais em detrimento do desenvolvimento deste continente.

Frequentemente, vemos esses falsos profetas buscando aproximação com as mulheres e homens do poder, para melhor enriquecerem ilicitamente ou através das próprias pessoas que produzem pobreza no nosso continente, como em todas parte do mundo, os políticos.

Esses falsos profetas criaram a sua própria linguagem, considerando muitas vezes os homens fortes do poder de “parceiros” das respectivas seitas religiosas, não importando se essa figura política é ou não conhecida, na opinião pública, como “criminosa de colarinho branco”.

Para ganhar esse tipo de parceiros da fortuna roubada”, discretamente passam-lhes (aos políticos) cheques em dólares ou Euros, como garantia da continuação dos crimes religiosos, por ser o dinheiro o que mais conta para eles. Além disso, eles insistem ou pressionam os seus seguidores a pagar, obrigatoriamente, e regularmente os dízimos, ou o décimo dos seus salários ou subsídios, para encher os bolsos que andam a expor posteriormente ao público como riqueza própria, acumulada duma maneira tão fácil, mais que eles justificam como uma “bênção divina“.

Em alguns casos, também observe-se os falsos profetas praticam o ocultismo, usando rituais satânicos rejeitáveis e indignos, sob o convencimento da realização de “milagres de cura de doenças incuráveis” ou exorcizar para “expulsar os demónios dos corpos”, ou ainda, para “purificar um indivíduo amaldiçoado/enfeitiçado”, recorrem às práticas que frequentemente acabam em danos à integridade física ou à morte das pessoas envolvidas.

Eles prometem curar tudo, que as vítimas depois não hesitam em ser financeiramente muito generosas com esses falsos profetas e doutores, verdadeiros charlatães.

Vimos casos em que alguns falsos profetas afirmavam curar a doença HIV/SIDA ou outros vendiam soluções produzidas à base de azeite para os seguidores a um preço exorbitante com o único objectivo de se enriquecer. Para muitos desses falsos profetas, a encenação pública de milagres da cura é a acção principal para atrair e enganar as massas. No entanto, a Bíblia diz que “o arrependimento é o maior milagre” que pode acontecer.

Corrupção religiosa dos falsos profetas

Na Bíblia se ensina que todos aqueles que acreditam nela devem ” buscar primeiro o reino e a justiça de Deus”, mas para os profetas do nosso tempo, na maioria, falsos, eles buscam primeiro a prosperidade e a riqueza e é aí que todos os problemas começam, porque, no sentido de alcançar os seus objectivos, esses homens recorrem a todos os meios, incluindo, os não permitidos, como: provocar divisões de famílias e casais, acusar falsamente crianças e pais de bruxaria, difamar membros de família, em assuntos fora da sua competência, praticando perjúrio, às vezes incitando publicamente o ódio religioso contra outras crenças, levando as crianças a se rebelar contra os seus pais e mães, etc..

Em certos países da África ou da América Latina, mais precisamente, também, observamos como os falsos profetas participam activamente nos diferentes crimes, incluindo o crime organizado transnacionalmente, como o tráfico de seres humanos, de minerais, a evasão de divisas, o branqueamento de capitais, a imigração ilegal para países ricos, etc..

Essa nova actividade religiosa torna-se a mais lucrativa, ao permitir-lhes, com base nas debilidades dos países e dirigentes, lucrar em centenas de milhares de dólares, além de se verem falsos pastores, directamente envolvidos no grande negócio de importação de mercadorias e produtos do exterior, isentos de taxas alfandegárias.

Alguns, tornam-se pouco tempo depois, grandes empresários e são identificados, sem vergonha, como “os homens mais ricos do planeta”, ou bilionários, levando-os tornarem-se, ao longo do tempo, “personalidades mais influentes” nas sociedades usando os seus próprios aviões particulares luxuosos para voar pelo mundo, enquanto os seus seguidores fanáticos, continuam confinados na pobreza, mas celebrando, muitas vezes, estes charlatães como grandes celebridades do show business.

(*) Jornalista e escritor

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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