A economia de Angola caiu dois lugares e foi ultrapassada pela Etiópia e pelo Quénia, ocupando agora o quinto lugar na lista das maiores economias da África subsaariana, segundo dados estatísticos dos bancos centrais. Com os peritos dos peritos que o MPLA escolheu a dedo, é apenas a confirmação de que continuam a plantar as couves com a raiz para… cima.
De acordo com a edição de Março do relatório da consultora FocusEconomics sobre esta região africana, Angola terá este ano um Produto Interno Bruto (PIB) de 72 mil milhões de dólares, o que compara com os 106 mil milhões do Quénia e os 121 mil milhões de dólares estimados para a Etiópia, que ainda assim ficam distantes dos 535 mil milhões da Nigéria e dos 363 mil milhões de dólares da África do Sul.
Os dados, recolhidos dos institutos estatísticos nacionais e dos bancos centrais, e apresentados no relatório de Março sobre a África subsaariana, enviado aos clientes, explicam-se pela redução do crescimento económico no segundo maior produtor de petróleo da região, Angola, desde que entrou em recessão há cinco anos, e pelo rápido crescimento da Etiópia e do Quénia nos últimos anos.
No ano passado, de acordo com os dados apresentados pela FocusEconomics, Angola já tinha sido ultrapassada pelo Quénia, que avançou o PIB para 96,7 mil milhões de dólares, o que comparava com os 85,8 mil milhões de Angola em 2019.
“A economia angolana parece ter continuado presa em recessão no último trimestre do ano passado, depois de ter contraído ao ritmo mais rápido no ano durante o terceiro trimestre”, lê-se na parte do relatório sobre Angola.
“A actividade no sector petrolífero aparentemente caiu outra vez, com a queda na produção doméstica a ser suficiente para compensar o aumento dos preços a nível internacional”, acrescenta-se no documento, que nota ainda que a descida do valor do kwanza prejudicou a despesa das famílias.
“O primeiro trimestre deste ano mostra também uma imagem sombria, com a produção nacional e os preços internacionais a caírem em Janeiro, sugerindo que o sector petrolífero arrastou a actividade económica global”, escrevem os analistas da FocusEconomics.
Os analistas consultados por esta consultora para a elaboração das previsões económicas reduziram também a previsão de crescimento económico para este ano em metade do valor do mês passado, antecipando agora uma expansão de 0,2%, que vai acelerar para 1,8% em 2021.
“A previsão foi novamente cortada em Fevereiro num contexto de descida dos preços internacionais e de redução da procura pelo ouro negro”, escrevem, notando, ainda assim, que “a economia deve sair da recessão este ano, apoiada pelas reformas económicas em curso e pela assistência do Fundo Monetário Internacional (FMI)”.
Angola em ponto… morto
Em Abril do ano passado, a unidade de análise da agência de informação financeira Bloomberg já considerava que a economia de Angola iria cair para quinto lugar das maiores economias da África subsaariana, sendo ultrapassada pelo Quénia e Etiópia até 2022. Só se enganou no ano. Foi bem mais cedo.
“A economia de Angola emergiu da recessão no último trimestre de 2018, mas vai-se debater para evitar outro abrandamento económico em 2019 devido ao declínio da produção de petróleo”, escreveu o analista Mark Bohlund, considerando que “é provável que escorregue dois lugares na lista das maiores economias da África subsaariana nos próximos dois anos, atrás do Quénia e Etiópia.
Na base desta previsão esteve a desvalorização que a Bloomberg diz que vai continuar a existir em Angola: “Ao contrário dos seus pares, como o Gana, esperamos que as autoridades deixem o kwanza depreciar-se ainda mais, num esforço para equilibrar a balança corrente e devido às baixas receitas petrolíferas”.
A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) deixava implícito um valor de 336 kwanzas para cada dólar, o que compara com a previsão de 314 kwanzas por dólar em Outubro de 2019, explicava Mark Bohlund, concluindo que “em conjunto com uma revisão em baixa de 11% ao Produto Interno Bruto nominal em moeda local, isto significa que o FMI espera que Angola seja ultrapassada pelo Quénia como a segunda maior economia da África subsaariana”.
No último trimestre de 2018, “o PIB real subiu 2,2% face ao último trimestre de 2017, recuperando de quedas de 5,1% e 1,6% no segundo e terceiro trimestre, respectivamente”, acrescentou o economista da unidade de análise da Bloomberg.
“O ajustamento sazonal face aos dados oficiais mostra uma expansão de 1,7% nos últimos três meses de 2018 face ao trimestre entre Julho e Setembro, com o petróleo a recuperar e a actividade não petrolífera a expandir-se”, acrescentava o economista numa nota divulgada pela Bloomberg.
O sector dos hidrocarbonetos dará uma ajuda à recuperação económica, mas Mark Bohlund avisava que “Angola ainda vai debater-se para sair da recessão” e admitia que a perspectiva de evolução “vai contra a tese do Fundo Monetário Internacional, que prevê um crescimento de 0,4%, face aos 3,1% previstos em Outubro de 2018 e a média de 2,3%” prevista pelos inquéritos da Bloomberg.
A consultora Bloomberg Intelligence (uma espécie de marimbondo que de vez em quando teima em azucrinar o superior e divina qualidade governativa da equipa de João Lourenço/MPLA) já no dia 12 de Dezembro de 2018 alertava que novas desvalorizações do kwanza, no seguimento do acordo com o FMI podiam fazer com que Angola tombasse para o quinto lugar das maiores economias da África subsaariana, sendo ultrapassada pelo Quénia e Etiópia.
Mal sabia a consultora que, nessa altura, estava já a ser escolhida uma comissão técnica e multissectorial para encontrar matéria de facto que justifique que o Presidente emita um Decreto para a sua… exoneração.
“O Fundo elenca a flexibilidade da taxa de câmbio para recuperar competitividade como um pilar crítico do programa; uma desvalorização adicional do kwanza deve fazer com que Angola escorregue para o quinto lugar das maiores economias da África subsaariana”, escreveram os analistas da Bloomberg Intelligence.
A Nigéria e a África do Sul lideravam a lista das maiores economias apontadas pelo FMI, seguidos de Angola, Quénia e Etiópia, sendo que estes dois últimos ultrapassariam Angola na lista se as desvalorizações do kwanza continuassem, segundo a Bloomberg Intelligence. Assim aconteceu.
Sobre a redução do valor do programa do FMI, várias vezes apontado pelo Executivo (4,5 mil milhões de dólares) para 3,7 mil milhões de euros, esta consultora dizia que este valor “deve ajudar a redimensionar a sua economia para uma produção de petróleo mais baixa”.
No princípio de Dezembro de 2018, o administrador do Banco Nacional de Angola, Pedro Castro e Silva, garantiu que a pressão sobre as divisas em Angola “terminou”, após as medidas que geraram uma maior previsibilidade no mercado cambial e de uma melhor comunicação com os bancos comerciais.
O facto de, desde Janeiro de 2018, o kwanza ter-se depreciado significativamente estava previsto no âmbito do Programa de Estabilidade Macroeconómica (PAM), que passou por uma maior liberalização da taxa de câmbio.
“Esta tarefa está cumprida e já não temos mais nenhum ajustamento a fazer”, sublinhou Castro e Silva, para justificar a relativa estabilidade da moeda angolana.
Castro e Silva disse acreditar que, nos próximos tempos, a tendência será a de Angola entrar numa fase em que a moeda nacional “vai assumir comportamentos como se vêem nas outras moedas”, com movimentos de depreciação, quando a procura for maior que a oferta, e de apreciação, quando suceder o contrário.
Folha 8 com Lusa