Meninos à volta da fome

Perto de 150 crianças já morreram este ano devido à má nutrição (fome), num total de 1.375 casos notificados na província do Huambo, anunciaram as autoridades de saúde locais. Os meninos à volta da fogueira, aprenderem coisas de sonho e de mentira, aprenderam como se ganha uma bandeira, estão a saber o que custa viver sem comer.

Segundo a supervisora provincial de nutrição, Cármen Mossovela, foram registados no primeiro semestre 148 óbitos, um aumento comparativamente ao mesmo período de 2019, altura em que morreram 95 crianças de má nutrição (fome).

Do total de casos identificados, nas 13 unidades sanitárias especiais de tratamento de casos de má nutrição, 204 melhoraram, enquanto os restantes 1.023 menores de cinco anos continuam doentes.

Cármen Mossovela, citada pela agência noticiosa angolana, Angop, atribuiu o aumento do número de casos à diminuição das acções de controlo e prevenção por parte das comunidades e à demora na procura de tratamento.

O desmame precoce e a má alimentação dos menores, por negligência ou desconhecimento nutricional dos pais e encarregados de educação, sobretudo nas zonas rurais, foram apontadas pela responsável como as principais causas de casos de má nutrição.

A responsável sanitária disse que, em muitos casos, estão associadas doenças como a malária, VIH/Sida, doenças respiratórias e diarreicas agudas, que levam ao internamento e à morte de muitas crianças.

Do ponto de vista oficial, a melhor forma de combater todas estas questões é fazer de conta que não existem. De facto, se não existissem crianças… não haveria crianças a morrer à fome.

Um total de 86% de crianças angolanas dos 0 aos 23 meses estão privadas de uma alimentação adequada e nesta faixa etária cerca de 75% estão igualmente privadas de uma habitação, 71,8% da saúde, 53,8% da água. O relatório que revela estes dados não diz, mas convém acrescentar que o país é governado há 45 anos pelo MPLA.

Os dados contam de um “Relatório sobre a Pobreza Infantil em Angola – Uma Análise Multidimensional”, apresentado em Dezembro de 2018, em Luanda, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola, estudo elaborado com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e financiamento da União Europeia (UE).

Segundo o relatório, 60,1% das crianças dos zero aos 23 meses em Angola estão sem acesso ao saneamento e 73,9% sem prevenção da malária.

Baseado em dados estatísticos do Inquérito de Indicadores Múltiplos de Saúde 2015-2016 e no sistema MODA (Multiple Overlapping Deprivation Analysis – Análise de Privações Múltiplas Sobrepostas) o estudo usa as dimensões como a nutrição, saúde, protecção social, prevenção da malária, educação, acesso à água e saneamento.

No domínio da nutrição inadequada que atinge cerca de 86% de crianças no país, o estudo refere que, “a privação desta dimensão é medida tendo em consideração a privação na alimentação infantil e o consumo de micronutrientes”.

“Mas, explica-se, sobretudo, por não existirem padrões alimentares apropriados”, salienta.

Durante a apresentação do relatório, numa cerimónia que decorreu no auditório do INE, a técnica desta instituição pública, Ana Paula Machado, frisou na sua comunicação que “três em cada quatro crianças, com menos de 18 anos, sofrem entre três a sete privações ao mesmo tempo”.

O secretário de Estado para o Planeamento de Angola, Manuel da Costa, no seu discurso de abertura, sublinhou que o estudo decorre, inclusivamente, do facto dos jovens representarem cerca de 48% da população total angolana.

“Enfatizar que o Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-2022 contém opções estratégicas, até o final da presente legislatura, agrupadas em seis eixos, sendo o eixo central o desenvolvimento humano e bem-estar que constitui o centro do Plano”, disse.

A chefe da Secção Políticas, Informação e Comunicação da UE em Angola, Joana Fischer, assinalou que o estudo evidencia “extrema vulnerabilidade das crianças menores de cinco anos, defendendo “acção adequada” para melhorar o bem-estar da criança angolana.

“É somente com uma visão informada sobre a realidade da criança e das raízes profundas da pobreza que poderemos agir, de forma mais adequada, para melhorar o bem-estar da criança angolana”, realçou.

O representante da UNICEF em Angola, Abubacar Sultan, recordou na sua intervenção que a pobreza e as privações na infância “prejudicam” o desenvolvimento da criança, defendendo “esforços conjuntos” para melhoria o seu bem-estar físico, social e psicológico.

“Sendo por isso necessário incrementar o esforço de todos, tanto do Governo, que delibera sobre o investimento do Estado e gere as políticas públicas, como dos agentes da sociedade civil, do sector privado e das famílias”, apontou.

O país real que a realeza desconhece

Por cada mil nados vivos em Angola, morrem 156 crianças até aos cinco anos, de acordo com relatório da Organização Mundial de Saúde. Esta é mais uma medalha de mérito no peito (já de si atestado de medalhas semelhantes) de sua majestade o ex-rei de Angola, José Eduardo dos Santos, estando já disponível o peito de João Lourenço para receber outras, bem merecidas, medalhas similares.

Angola aparece assim, e com todo o mérito, na cauda da tabela da mortalidade infantil mundial e foi o país com a segunda mais baixa esperança de vida em 2015, indica um emblemático relatório anual da Organização Mundial de Saúde (OMS). Coisa pouca, não é senhores donos disto tudo?

Segundo o documento, por cada 1.000 nados vivos morrem em Angola 156,9 crianças até aos cinco anos, apresentando por isso a mais alta taxa de mortalidade mundial em 2015.

Além disso, em cada 100.000 nados vivos em Angola morrem 477 mães, neste caso distante da Serra Leoa, onde para a mesma proporção morrem 1.360 mulheres. Certamente que, também nesta matéria, é caso para dar os parabéns à realeza angolana, bem como a todos os seus acólitos, internos e externos.

A OMS, que não levou em conta os dados antagónicos dos especialistas do regime, refere igualmente que a esperança média de vida à nascença em Angola cifrou-se nos 52,4 anos, apenas à frente da Serra Leoa, com 50,1 anos. Boa. Mais um argumento para que, ao fim de 45 anos de poder, o MPLA lá continue por mais 55.

Mas, é claro, que a OMS não percebe nada desta matéria. É que, segundo os dados mais credíveis do mundo (os do MPLA), a esperança média de vida no país passou a estar fixada em 60,2 anos. Vejam se aprendem, Ok?

Ainda segundo regime, as mulheres angolanas aspiram agora a viver até aos 63 anos e os homens até aos 57,5 anos, num universo de 28 milhões de habitantes.

É claro que a OMS considera que essa esperança de vida foi em 2015 de 54 anos nas mulheres e de 50,9 anos nos homens, para um universo de 25,022 milhões de habitantes.

Segundo o relatório estatístico da OMS, em Angola, a expectativa de uma vida saudável à nascença é de apenas 45,8 anos, igualmente uma das mais baixas do mundo. Mas alguém acredita? Claro que não. Basta olhar para o paradigma dos angolanos – o clã presidencial, o anterior como o actual.

Mais uma vez sem levar em conta quem sabe (continuamos a falar do comité da especialidade do MPLA), a OMS refere que perto de metade da população angolana (49%) tinha acesso a fontes de água potável, o que é o segundo pior registo em 47 países africanos, enquanto o acesso a saneamento abrange 52%, a 11ª posição no mesmo grupo.

Esquece-se a OMS de dizer, mas o regime não vai em cantigas e di-lo com todas as letras, que a culpa de tudo isto é do colonialismo português numa primeira fase e também, parafraseando João Lourenço, da UNITA/Jonas Savimbi. Apesar de independente há 45 anos, este tempo ainda só foi suficiente para enriquecer as famílias (em sentido lato) de suas majestades reais.

Folha 8 com Lusa

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