Huambo existe mesmo?

A primeira secretária provincial do MPLA no Huambo em exercício, considerou visível o dinamismo de trabalho de mobilização política e a resolução, gradual, dos problemas que as populações enfrentam. Lotti Nolika, que falava na 8ª sessão plenária ordinária do Comité Provincial, que fez o balanço das actividades realizadas no primeiro semestre, realçou que o MPLA aspira continuar a assegurar a inclusão social e política de todos os cidadãos, sem qualquer discriminação.

A fazer fé no site oficial do Governo Provincial, o Huambo não existe. Não existe nenhuma mensagem da governadora, a biografia da governada está em branco, tal como estão o “perfil da província”, a “história”, a “cultura”. Ou seja, de acordo com o governo (central e provincial) Huambo é uma região… fantasma.

Mesmo assim sabe-se que o governo do Huambo está empenhado na criação de condições para redinamizar o sector agrícola empresarial, para que a província volte a ser celeiro do país. O facto foi reafirmado no acto nacional comemorativo do Dia da Paz e Unidade Nacional, sob presidência do ministro da Defesa, João Lourenço. Na altura (4 de Abril de 2017) o governador do Huambo era João Baptista Kussumua.

Para o efeito, João Baptista Kussumua realçou o que agora é realçado por Lotti Nolika, tal como o foi por todos os outros governadores. Ou seja que o governo estava empenhado na criação de condições, sobretudo na atribuição de créditos, para aumentar a produção e eliminar o défice alimentar, sendo que o excedente poderá ser exportado.

“Existe um ambiente favorável para atrair investimento estrangeiro, para devolver a província do Huambo o título de celeiro de Angola”, sublinhou, acrescentando que era uma forma real de capitalizar os ganhos da paz, porque o sector da agricultura tem beneficiado deste facto, com a desminagem dos campos.

De acordo com Kussumua, o governo vê neste seguimento de actividade uma oportunidade para a criação de muitos postos de emprego para a juventude qualificada e não qualificada.

No quadro da agricultura familiar, o projecto a curto prazo passaria pela cedência de sementes, adubos e outros meios, nos meses de Junho e Julho, para se fazer face à produção deteriorada em função da estiagem que se verifica nos meses de Dezembro e Janeiro.

Outro desafio do governo, enfatizou o então governador, era a criação de um “grande”, centro de formação profissional para os jovens, desafio que iria contar com o apoio do Ministério da Administração Pública, Emprego, Trabalho e Segurança Social.

Memória para que serves?

No dia 14 de Abril de 2008, Fernando Nogueira, Presidente da Comissão Executiva do Conselho de Administração do Banco Millenium Angola afirmou: “Investimentos colocam a província do Huambo nos píncaros da reconstrução”.

Recordemos o que foi então dito por Fenando Nogueira: “…É com alguma emoção que digo, que nenhum outro país de África tenha sido objecto de um esforço tão gigantesco de reconstrução como aquele que está a acontecer no Huambo. Duvido que em qualquer outra ocasião tantos investimentos tenham sido lançados ao mesmo tempo, o que é, por si só, um sinal positivo para o futuro da província e do país”;

“Os governantes e empresários do Huambo estão unidos não só na reconstrução da cidade, mas também em transformar a vida das pessoas, aproveitando as riquezas que a região possui, levando pão a quem necessite, criando postos de trabalho para dignificação do homem e executando programas de melhoramento e aumento da oferta de serviços sociais básicos às populações (…)”;

“No âmbito da candidatura do governo local em transformar a cidade na primeira capital ecológica, estão em curso, desde o mês de Janeiro, em cinquenta e três jardins, trabalhos de requalificação, consubstanciados na limpeza dos terrenos, tratamento dos solos, arruamentos, vedação, plantação de relva, flores e árvores ornamentais”;

“(…) Desde o aeroporto Albano Machado, passando pelas principais artérias e avenidas, incluindo os bairros periféricos do São Pedro e São João, são notórios os esforços do governo do Huambo em requalificar a cidade. A iluminação pública, sinalização rodoviária, salubridade da cidade e o verde dos jardins já fazem relembrar na mente dos habitantes os tempos em que a cidade do Huambo se designava “Cidade – Vida”.

No dia 27 de Dezembro de 2008, o então governador da província do Huambo , Albino Malungo, apelou ao contributo permanente dos jornalistas para a melhoria da governação na região. Fosse hoje e o Bureau Político do MPLA, a ERCA e a Fundação Agostinho Neto mandavam-no para um campo de reeducação.

“Eu estou a governar a província do Huambo há pouco dias, reconheço e sinto o empenho da classe jornalística e espero que mantenham o mesmo espírito de empenho, pelo que espero que o prémio de jornalista não seja apenas a iniciativa do governo, mas também do sector privado”, sublinhou.

O reconhecimento do governador provincial do Huambo foi expresso durante a cerimónia do prémio “Huambo de Jornalismo 2008”, tendo manifestado a necessidade de se transferir a gestão da gala para o sector privado.

“Esperamos que nas próximas edições não seja o governo a liderar a gala e o comité deve rever o regulamento e o Estado vai prestar o maior apoio e chamar os grandes empresários, por formas a tornar o prémio mais aliciante”, acrescentou o governador.

Albino Malungo referiu ainda que o governo contava com o empenho dos jornalistas e que iria estimular a classe.

Em texto publicado no Folha 8 nessa altura, interrogamo-nos se Albino Malungo seria uma daquelas raras excepções que também acontecem no MPLA, ou se seria só fogo de vista?

O primeiro lugar do prémio Huambo de Jornalismo então atribuído foi conquistado pela jornalista da Agência Angola Press (Angop) Dolina Miguel, que apresentou o tema sobre a ecologia. O jornalista do jornal de Angola no Huambo, João Constantino, ocupou a segunda posição, enquanto Gabriel Ulumbe da Angop quedou-se na terceira posição.

Em Maio de 2009 foi notícia que o avançado estado de degradação dos monumentos e sítios da província do Huambo e o abandono a que muitos deles estavam votados preocupavam a Direcção Provincial da Cultura.

O então director provincial da cultura, Pedro Nambongue Chissanga, afirmou que técnicos da sua instituição realizaram na altura uma vistoria aos monumentos e sítios para se inteirarem das suas reais condições e indicarem soluções para a sua recuperação.

O responsável da cultura no Huambo fez saber que muitos destes monumentos e sítios, que constituem o património histórico-cultural, estão a ser invadidos por populares, colocando em risco a existência destes lugares.

Indicou, a título de exemplo, o forte da Quissala, nos arredores da cidade do Huambo, que, devido à sua proximidade com o mercado informal, estava em vias de extinção, caso não sejam tomadas medidas cautelares que passam por vedar o local e erguer um monumento.

Além do forte da Quissala, Pedro Nambongue Chissanga lamentou ainda a situação em que se encontra a estação meteorológica do Feti, local onde, segundo fontes históricas, surgiram os primeiros povos umbundos e nganguelas, além de terem sido feitas, no mesmo local, as primeiras fundições de ferro, no século XIII.

Localizada no sector de Ngove, a 120 quilómetros a Sudoeste da cidade do Huambo, a estação meteorológica do Feti assemelha-se a uma península. A mesma corre risco de desaparecer devido às obras em curso na barragem hidroeléctrica do Ngove.

“Quando são abertas as comportas da barragem, a estação meteorológica de Feti fica em terra firme, mas, em caso contrário, ela fica submersa nas águas”, lamentou.

A província do Huambo, segundo Pedro Nambongue Chissanga, possui 122 monumentos e sítios divididos em monumentos de arquitectura civil, religiosa e funerária, militar, sítios arqueológicos, históricos, zonas paisagísticas, símbolos do poder tradicional e estátuas.

Deste vasto património cultural, apenas o forte da Quissala, localizado a quase sete quilómetros da cidade do Huambo, capital da província, está classificado como património cultural e histórico nacional, enquanto os restantes aguardavam por tal classificação, que é feita por especialistas do Ministério da Cultura.

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