O Presidente angolano, João Lourenço, felicitou hoje as mulheres africanas, em particular as angolanas, o “baluarte da educação e sustento das famílias”, destacando o seu papel na luta contra a Covid-19. Poderia acrescentar o papel das nossas Mulheres que, nos últimos 45 anos, são mães de crianças geradas com fome, que nascem com fome e que morrem pouco depois com… fome.
Numa mensagem alusiva ao Dia da Mulher Africana, que hoje se assinala, João Lourenço lembrou que o 31 de Julho encontra África mergulhada “num combate difícil contra o avanço impetuoso da Covid-19”, destacando nesse cenário “o papel e a contribuição da mulher, tanto na primeira linha dos cuidados de saúde, como no seio da família”.
E nada melhor do que usar a pandemia de Covid-19 para passar uma esponja sobre o tsunami de incompetência do MPLA que, ao longo de décadas, se esqueceu de valorizar a Mulher angolana, pouco se importando que passem fome, que vejam os filhos a passar fome, a morrer de malária ou a levar um tiro porque não usam máscara de protecção…
“A destemida mulher africana é mais uma vez posta à prova num contexto em que a pobreza tende a agravar-se devido às implicações directas e indirectas da pandemia que assola o planeta, como sejam o abrupto aumento dos números do desemprego no seio dos seus companheiros, quando não são elas próprias atingidas pela instabilidade das oportunidades laborais”, lê-se na mensagem de João Lourenço.
A pobreza tende a agravar-se? Tende porque o partido de João Lourenço, que está no Poder há 45 anos, apenas se preocupa em trabalhar para os poucos que têm milhões, esquecendo os milhões que têm pouco ou… nada.
O chefe do Estado do MPLA realçou ainda o papel da mulher africana, na “esperança por um futuro melhor em todas as dimensões da luta pela dignificação das sociedades africanas”.
Poderia, ao menos, lembrar-se de Teta Lando e dizer: Angolana segue em frente, o teu caminho é só um. Esse caminho é difícil mas traz a felicidade. Esse caminho é difícil mas traz a liberdade. Se você é branca isso não interessa a ninguém. Se você é mulata isso não interessa a ninguém. Se você é negra isso não interessa a ninguém. Mas o que interessa é a sua vontade de fazer uma Angola melhor, uma Angola verdadeiramente livre, uma Angola independente.
Com uma desfaçatez enorme, João Lourenço esqueceu-se que, por sua exclusiva responsabilidade, as verbas destinadas à luta contra a doença que mais mortes causa em Angola, a malária, diminuíram 45% nos últimos dois anos, e saudou todas as mulheres africanas, reafirmando a confiança da sua capacidade de lidar com a adversidade demonstrada de modo inequívoco ao longo do épico processo de luta como nação angolana.
O texto que se segue foi escrito por uma mulher africana. O normal seria que a autora fosse aqui identificada. O Folha 8 optou por omitir o nome da mensageira, solicitando aos seus leitores (entre os quais estão alguns bufos, chibos, delatores e similares das sucursais do MPLA ) que se concentrem na mensagem e façam a sua avaliação. Poderão, inclusive, tentar opinar sobre quem é a autora, que oportunamente será aqui revelada.
«Como africana, o meu continente e o meu país são as minhas prioridades. Todos os dias trabalho por um bem comum: criação de valor e desenvolvimento de África. Acredito que nós somos o motor da mudança e que vamos fazer da nossa terra um bom destino para viver, trabalhar e ver crescer os nossos filhos.
Na recta final deste ano, penso sobre todos os meus desejos para África. Sei que o caminho é longo, mas temos de traçar objectivos para vermos os nossos sonhos serem realizados. Partilho três objectivos que considero essenciais para o desenvolvimento do nosso continente.
Para mim, existem alguns objectivos principais que surgem dos desafios que temos hoje em dia em África. Em primeiro lugar precisamos de encontrar uma maneira de atender às necessidades básicas de todos. Refiro-me aos Direitos Humanos que todos nós precisamos para viver todo o nosso potencial de forma digna. Todos os cidadãos em África o merecem. Desde água potável a boa assistência médica, do direito à habitação até à educação igual e acessível para todos. E precisaremos de trabalhos relevantes e significativos para nossos filhos quando crescerem.
A verdadeira geração de riqueza é criada em planos a longo prazo. Mas não devemos planeá-los amanhã. Não. O futuro começa hoje.
Em segundo lugar, é urgente criar oportunidades para todos os africanos, independentemente de onde vivem, sejam homens ou mulheres, ricos ou pobres. Todos devem ter a mesma oportunidade de realizar o seu potencial e contribuir para a economia do nosso continente. Isso significa mudanças na maneira como as empresas africanas actualmente atraem e recrutam talentos, mas também como as famílias estabelecem expectativas de carreira para seus filhos.
Neste segundo ponto, essencialmente, como mãe, defendo que somos responsáveis pelo caminho que os nossos filhos traçam e por isso temos o dever de os inspirar a terem confiança em si próprios e deixá-los terem imaginação. Só assim vão crescer e encontrar o seu potencial, o seu talento.
Ainda como mãe, mas também como mulher, acredito que temos de começar a dar o destaque que as meninas verdadeiramente merecem, pois, um dia elas serão mães e serão elas o livro da educação para os seus filhos. Elas vão formar e educar as gerações seguintes, a nossa sociedade. Temos de começar hoje a mudar o paradigma, a elevar a consciência, de forma a influenciarmos positivamente a nossa sociedade e abrir um horizonte de esperança.
As mulheres desempenham um papel indispensável em todos os sectores da vida e eu acredito profundamente que elas vão mudar o mundo. Como verdadeiras gestoras que somos, temos uma dupla responsabilidade entre a gestão do lar e dos filhos, juntamente coma gestão da carreira profissional. Há muito potencial feminino nas boas práticas de gestão e liderança que deve ser fomentado desde início.
A verdadeira geração de riqueza é criada em planos a longo prazo. Mas não devemos planeá-los amanhã. Não. O futuro começa hoje.»