Foram o passado, são o presente e querem ser o futuro

A primeira-dama de Angola, Ana Dias Lourenço, defende que o país (que é independente há 45 anos e que há 45 anos é governado pelo seu partido, o MPLA) “não pode desperdiçar” os melhores ensinamentos do passado, advogando que precisa de se construir uma sociedade “mais justa, digna, inclusiva e com respeito pelas experiências dos mais velhos”.

Ana Dias Lourenço, que falava na cerimónia de lançamento da plataforma “Dikota_E6.0”, projecto que se propõe “criar raízes e deixar marcas” para a sociedade angolana, garantiu “empenho e envolvimento pessoal” na iniciativa.

“É uma plataforma de esperança, de dignidade, de valores, de cidadania e de encontro intergeracional”, disse.

Segundo a primeira-dama, a plataforma “Dikota_E6.0” é um meio de “construção do futuro”, mas assente no passado e nas pessoas, pois “Angola não pode desperdiçar os melhores ensinamentos do passado”.

“E hoje é chegado o momento de as gerações mais velhas darem as mãos aos mais jovens, para que juntos construamos uma sociedade mais justa e inclusiva para todos os angolanos”, afirmou.

A plataforma “Dikota_E6.0”, iniciativa promovida pela primeira-dama angolana, visa “valorizar a experiência e o conhecimento dos seniores e, simultaneamente, explorar a capacidade e o domínio dos jovens nas áreas de conhecimento e promover uma vantajosa partilha de saberes entre as duas gerações”.

“Este é um espaço onde queremos que todos se sintam parte deste nosso tão querido país e onde todos sintam e adquirem novos ensinamentos e novas experiências”, notou.

De acordo com Ana Dias Lourenço, Angola tem vindo a registar profundas transformações demográficas, caracterizada pelo aumento da esperança média de vida que passou de 44 anos em 2014 para 60 anos em 2020.

O aumento da esperança média de vida, adiantou, “é um ganho social extraordinário e é um sinal da tendência positiva dos indicadores económicos e sociais” e um desafio de encarar os “mais velhos de maneira diferente”.

“Os mais velhos são os guardiões da nossa identidade, que tantas vezes sacrificaram a juventude para um bem maior, temos de pedir a esses, os nossos ‘kotas’ (mais velhos na língua kimbundu) que estão na origem da denominação da plataforma que procurem conduzir os mais jovens”, frisou.

“A plataforma através de estratégias multidisciplinares foi pensada para construir uma sociedade inclusiva, uma sociedade para todas as idades. Esta intergeracionalidade será transversal aos vários sectores da sociedade”, assegurou.

A pedra basilar da plataforma “Dikota_E6.0” assenta na “valorização do ser, do saber e das experiências acumuladas dos nossos seniores e na aquisição de novas aprendizagens e conhecimentos por parte dos nossos jovens”.

“Aos nossos ‘kotas’ pedimos que se juntem a nós, que não se isolem e que partilhem o seu ser e conhecimento”, exortou Ana Dias Lourenço, na cerimónia que decorreu em Luanda.

Por seu lado, o director do Gabinete de Quadros da Presidência angolana, Edson Barreto, deu conta que a plataforma surge com o objectivo de catalogar e reconhecer as valências seniores, sensibilizar a sociedade para cultivar o diálogo intergeracional.

O exercício de uma “cidadania plena, activa e participativa”, a protecção contra todas as formas de discriminação dos mais velhos e a criação de espaços de coabitação entre jovens e mais velhos, no meio público e privado, nomeadamente no seio da família e empresas constituem outros objectivos da plataforma.

Edson Barreto, que apresentou os aspectos funcionais da plataforma, disse também que o instrumento compreende vários domínios de actuação, entre os quais o conhecimento e consultoria, a criação de um espaço de orientação e indução e espaço de aprendizagem intergeracional.

A “Dikota_E6.0”, com endereço electrónico dikota.ao, onde tem disponível um “painel de seniores para inscrição dos mais velhos”, vai contar com um local físico e de funcionamento com uma equipa diária responsável pela execução dos projectos.

Na ocasião, foi apresentada uma equipa de gestão do projecto composta por 10 membros, entre jovens e mais velhos, coordenada por Manuel Correia Victor.

Os objectivos da Plataforma assentam no princípio segundo o qual o envelhecimento activo e saudável se materializa pela participação e estabilidade emocional das gerações seniores, sendo por isso, necessária a implementação de programas transversais e de estratégias multidisciplinares promotoras de “uma sociedade para todas as idades”.

Ou seja: Valorizar e captar experiências, catalogando e reconhecendo as suas valências; Sensibilizar a sociedade para cultivar a solidariedade entre gerações e o envelhecimento activo; Promover a educação e formação ao longo da vida; Sensibilizar as gerações seniores para o exercício da cidadania e protecção contra todas as formas de discriminação social, e divulgação de informação relativa a leis, normas, direitos e medidas relacionadas com o tema e Promover a educação e formação ao longo da vida;

Como objectivos específicos temos: Promover a cooperação entre os sectores público e privado para o desenvolvimento de programas que assegurem a inclusão das gerações seniores; Incentivar a mobilização de quadros seniores em actividades de tutoria/mentoria e integração profissional de jovens no mercado de trabalho; Incentivar a realização de actividades que garantam o auto rendimento com recurso à prática da consultoria e freelancing; Reforçar a necessidade de se estabelecerem mecanismos de transferência de conhecimento intergeracional; Sensibilizar, em particular a classe empregadora, para melhor gestão do processo de reforma e aproveitamento das capacidades 6.0.

O diagnóstico de Ana e a amnésia de… João

A melhoria do bem-estar dos cidadãos e da qualidade de vida das famílias angolanas, a redução da pobreza e das desigualdades e a promoção do nível de desenvolvimento humano são condições essenciais para o progresso económico e social de Angola. É verdade. O diagnóstico data de… 2018 e foi feito pela primeira-dama, Ana Dias Lourenço. A receita está nas mãos do marido, João Lourenço. Continua, contudo, à espera de ser aviada.

Trata-se, contudo, de um diagnóstico que já tem 45 anos (alguns dos quais com Ana Dias Lourenço como ministra). Até agora o máximo que o MPLA conseguiu fazer foi virar o disco e tocar o mesmo. O que tem mudado são apenas e só os “músicos”.

Recordamos que numa mensagem aos participantes do Fórum Nacional da Mulher Rural e das Micro-finanças, realizado em Luanda em 2018, Ana Dias Lourenço apresentou a sua terapêutica para melhor enquadrar a abordagem desta problemática no contexto do desenvolvimento económico e social integrado e sustentável que, presume-se, um dia chegará a Angola.

Segundo Ana Dias Lourenço, o desenvolvimento local, como forma de reduzir a pobreza no meio rural, e o empoderamento da mulher devem ser vistos como as apostas do Governo para conferir e reconhecer às mulheres rurais o seu papel na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.

Num país que já não é de partido único mas que continua a ser de um único partido, para falar destas questões basta consultar os manuais do MPLA, ter estômago para continuar a mentir, repetir a mesma receita com alguns retoques de marketing e fazer-se de conta que o autor só ontem chegou ao país e que, por isso, nada tem a ver com o que foi anteriormente feito.

Para Ana Dias Lourenço, o investimento e as modalidades do seu financiamento concorrem para regenerar o sector agro-pecuário e conferir-lhe capacidade para fixar as populações, desenvolver a agricultura familiar e reconhecer o tremendo papel da mulher rural, em todo este contexto de adversidades, mas também de oportunidades e desafios. Ou seja? Vai tudo continuar na mesma porque, mais uma vez, o diagnóstico tem muitos anos mas a medicação usada para tratar a “doença” é feita à base de farinha (placebo) para que o doente pense que está a ser medicado.

A primeira-dama alertou o marido que sem investimento, no princípio do processo de produção, e sem infra-estrutura, que confere rendibilidade ao investimento, as tendências de desequilíbrio demográfico e económico entre o interior e o litoral vão continuar a acentuar-se no futuro. Tem razão. Vão continuar a acentuar-se, tal como tem sido prática desde 1975. Mas, de facto, o importante no país não é fazer-se mas, apenas, dizer-se que se vai fazer.

Ana Dias Lourenço apontou a questão das micro-finanças e do associativismo como modalidades de apoio ao desenvolvimento da actividade produtiva das mulheres rurais. Novidade? Nenhuma. Mas que fica sempre bem ver alguém que, aliás, até foi ministra, dizer o óbvio, repetir o óbvio, isso fica. Não alimenta, não resolve, não cura… mas disfarça e distrai.

O universo das mulheres rurais representa cerca de 20% da população total. Segundo Ana Dias Lourenço, são estas mulheres a principal força de funcionamento das economias agrárias familiares e às quais os apoios governamentais não têm sido suficientemente substantivos e sustentáveis. Pois não têm. E de quem é a culpa? Provavelmente das mulheres, neste caso, que não conseguem transformar a mandioca em lagosta e que estão à espera que o Governo resolva começar a governar para o Povo e não para os donos do Povo. Ora o Governo tem outras prioridades, como por exemplo a construção do Novo Aeroporto de Luanda ou a aposta na construção de satélites. Portanto…

Em muitos casos, de acordo com a primeira-dama, a mulher rural é a principal fonte do rendimento familiar, por meio do trabalho nas lavras e nas pequenas unidades de produção agrária. É verdade. Mas como a verdade não enche barriga, o melhor mesmo é elas voltarem às lavras e fazerem de conta que o problema só se resolverá quando Angola for… independente.

Por sobrevivência ou conscientes do seu papel no tecido produtivo nacional, as mulheres rurais constituem-se em pequenas unidades de produção/comercialização, muitas vezes com organização precária e relevância enorme no funcionamento da economia nacional, no processo de criação de valor e principalmente na salvaguarda da sobrevivência da família rural e dos valores tradicionais associados.

Ana Dias Lourenço reforça que a perspectiva do género, no contexto geral do desenvolvimento, é tão importante, que a Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres de 1979 recomenda, enfaticamente, a consideração dos problemas específicos delas, em zonas rurais e o papel significativo, que desempenham na sobrevivência económica das suas famílias. De 1979? É só para levar em conta que Angola tornou-se independente em 1975, data a partir da qual foi sempre governada pelo partido da primeira-dama, o MPLA.

Em 2014, a preocupação com o papel da Mulher Rural levou a uma ampla consulta nacional, que resultou num conjunto de recomendações em matérias de políticas públicas diversas (o papel deste agente na agricultura familiar, necessidade de facilitar os meios de funcionamento – com produtividade – necessários ao aumento da produção, a formação, etc.).

“Em geral, a posição e o papel da mulher em Angola são desvalorizados e subalternizados e no que toca ao segmento rural é muito mais”, diz Ana Dias Lourenço, certamente com a concordância do marido que, por sinal, é Presidente da República e do MPLA, para além de Titular do Poder Executivo.

A Organização das Nações Unidas dedicou 2018 à Mulher Rural, como reconhecimento do papel deste peculiar agente económico, que nos países menos desenvolvidos tem sob os seus ombros tarefas importantes e diversas na sociedade, mas sobretudo na família. Papel que em muitos casos, como é o caso de Angola, caberia aos políticos com responsabilidades governativas.

Folha 8 com Lusa

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