Desconfio mais do João
de que ontem do José

Estou preocupado, cada dia mais e mais, ante o rumo ou falta dele, que o país, está a trilhar. A opção parece cega, sem inteligência, humildade e capaz de espoletar a qualquer momento. Quando o Presidente ao invés de levantar o telefone, falar a um membro do gabinete, num eventual erro, opta por o humilhar publicamente (ofício 116/01/01/ CONF/ GMF/2020 de 26.08.20), no caso, o titular das Obras Públicas e Ordenamento do Território, que viu anulado o acto praticado de exonerar o Conselho de Administração do Fundo de Fomento Habitacional.

Por William Tonet

É estranha, sem urbanidade e descarado desrespeito aos colaboradores directos, tal postura, por marginal a um processo de reclamação administrativa dos visados (não foi referenciado, no ofício se existe).

Tendo procedido em sentido contrário, a medida presidencial é arbitrária, musculada e intimidatória. Ora isso é temeroso, denota inexistência de unidade, espírito de equipa, para além dos membros serem tratados como robots, seres menores, comandados pelo único humano, no reino; João Lourenço!

Não tenho relação privilegiada com o ministro, mas qualquer dignidade humana, abandonaria o saco de gatos, batendo, de seguida, a porta…

Não foi uma atitude solene e qualificável do presidente. Confesso, honestamente, que ao ler o ofício fiquei com medo e contida desconfiança no Presidente da República, presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo, Comandante em Chefe das FAA, João Lourenço, mais do que desconfiava de José Eduardo dos Santos, quanto aos seus actos de governação e gestão da coisa pública.

Não se trata de ter medo, mas confesso, o Presidente da República, pela prática demonstrada, ao longo da sua vida política e, agora, no mais alto patamar, nestes três anos, não inspira a confiança, que o momento exige.

O Presidente parece conviver bem com a musculação e arrogância, quando a solenidade da função, impõe o império, da humildade e urbanidade, veículos de transmissão de crença e confiança, no imaginário do cidadão.

Poucos acreditam, por este andar (justiça selectiva, corrupção direccionada), que João Lourenço seja capaz de tirar o país, do poço lamacento em que se encontra atolado…

A maioria dos autóctones acredita estar mais próximo do dilúvio do que da salvação, pois nada é transparente, salvo a perseguição aos próximos de Eduardo dos Santos, afins, alguns visados, a fome, miséria, fecho de empresas e serviços, desemprego, divisão do MPLA, num quadro a todos os títulos, aterrador.

Desconfio do Presidente da República, João Lourenço, por ver, impávido, a justiça, cada vez mais sua e menos republicana, mais militarizada, partidarizada e colada à voz do nomeador, prendendo e condenando, muitas vezes, sem provas, adversários e inimigos de estimação.

Desconfio do Titular do Poder Executivo, João Lourenço, ao posicionar-se contra a legalização de novos partidos políticos e disso dar instrução aos cabos de fila, nomeadamente, Rui Ferreira (in carta), Manuel Aragão, Tribunal Constitucional, Mário Pinto de Andrade, João Pinto, Vicente Pinto de Andrade, comunicação social pública, sendo disso exemplo a campanha contra Abel Chivukuvuku e o seu projecto, PRA-JA Servir Angola…

Desconfio do Chefe de Estado, João Lourenço, por se mostrar indiferente ao aumento do desemprego dos angolanos, jovens e adultos, que têm de, impotentes, sobreviver, recorrendo aos restos de comida, jogada nos contentores de lixo, ou assistir à prostituição das filhas, algumas menores e ainda à delinquência dos filhos, para do ilícito encontrarem meios de sobrevivência. Desconfio de João Lourenço, por estar a “matar” a liberdade de imprensa, fustigar, sub-repticiamente, jornalistas e assassinar empresas privadas de comunicação social, para que haja uma só liberdade, a de o idolatrar…

Desconfio do presidente do MPLA, João Lourenço, por não curar de ter hospitais públicos funcionais, com água, papel higiénico, material gastável, máscaras para os médicos, mas inaugurar novas unidades, sem se importar com os recursos humanos angolanos no desemprego.

Desconfio do “nomeador” de todos juízes, João Lourenço, que vira para o lado, quando o Tribunal de Contas denuncia roubos de amigos seus, como Ricardo de Abreu e Safeca que desbarataram o BPC, com compras milionárias de viaturas, abatidas de forma leonina, antes de dois anos… Mas não tem pejo em despedir trabalhadores de agências e postos, sem justa causa.

Desconfio do Presidente da República, João Lourenço, quando não ataca as reais causas do aumento da delinquência, nestes três anos, pensando a poder estancar, apenas com a lei da bala policial.

Desconfio do Titular do Poder Executivo, João Lourenço, por aceitar ser tratado como se fosse um Messias, um poço de virtudes, um político com obra feita, com exemplos de imaculada gestão dos fundos públicos, enquanto foi dirigente partidário (secretário de informação, secretário geral, etc.) governante (comissário provincial, governador, ministro da Defesa) e legislador (deputado, vice presidente da Assembleia Nacional). Noutro plano de nunca ter beneficiado dos milhões de dólares e euros da “acumulação primitiva de capitais do MPLA”, e, finalmente, que não adoptou a política de intimidação, arrogância, brutalidade, para com colaboradores e adversários políticos.

Infelizmente, confesso, pelo andar da carruagem, ainda que no nosso seio trafeguem muitos bajuladores, os sinais de autoritarismo, indiferença à Constituição e à lei, as prisões arbitrárias e a violação da privacidade e intimidade, atemorizam, não por medo de enfrentar, individualmente, os novos carrascos, mas pelos danos que estão a causar ao país, pelo evidente despreparo, na sua condução, principalmente, em tempo de crise.

Desconfio do Chefe de Estado, João Lourenço, que está a “vender” ao desbarato o país ao capital estrangeiro, com a agravante de privilegiar, as comportas aos empresários do Islão, que estão, através da economia, a “quadricular” o país, depois da permissão de investirem a 100%, esquecendo-se sermos um país subdesenvolvido, sem um sistema bancário pragmático, empresários fortes (actualmente, fracos), que não pod(ia)e dar-se ao luxo de entregar, completamente, a soberania económica, com a perda de empresas, terras, rios, etc.. Considero um crime, melhor, criminoso, o sistema neoliberal, pelos malefícios que estão a causar ao nosso povo e causarão ao país, num futuro próximo, ao tornarmo-nos reféns do FMI, China, França, Brasil e Alemanha.

Por tudo isso, tenho medo, de uma implosão social de dois tempos: primeiro, a causada pelo regime, para através de um golpe de Estado simulado, provocar um banho de sangue, igual ao de 27 de Maio de 1977, matando opositores, adversários internos e, principalmente, difundir o medo, anestesiando a sociedade, segundo, causada pela insatisfação popular, liderada pelo exército dos desempregados, delinquentes, intelectuais, jovens, históricos do MPLA, numa verdadeira revolução, que se não houver uma liderança forte poderá iniciar, depois, uma verdadeira caça as bruxas, inviabilizando ainda mais o país.

Desconfio do presidente do MPLA, João Lourenço, ter uma agenda secreta e um incubado propósito, não só de inviabilizar “ad eternum” as eleições autárquicas, como, também, correr(mos) o risco do adiamento das eleições gerais de 2022, além de uma mais que provável alteração à Constituição, visando estender a permanência no poder, para lá de dois mandatos ou a sua extensão de 5 para 7 anos…

Desconfio do Presidente da República, João Lourenço, de que nada fará, para higienizar, intelectualmente, a CNE capitaneada por um juiz ilegal, Manuel da Silva Manico, acusado de ser perito, na engenharia da fraude, do presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, e do Tribunal Constitucional, Manuel Aragão, posicionados como autênticas correias de transmissão do partido no poder, que têm estado a legitimar ilegalidades e a banir adversários, podendo, estes órgãos converterem-se em instrumentos de conflitos, como ocorreu, recentemente, no Mali, onde o Tribunal Constitucional foi o responsável pelo golpe de Estado, ao não aceitar as reivindicações da oposição.

Não sou apologista de uma insubordinação ou insurreição, mas de uma atitude de alerta, pragmatismo e coragem, dos seus camaradas de partido, amigos e familiares, apontando-lhe os erros, que estão a ser cometidos, para não ficar na história, como o causador de uma revolução de ruptura.

O país está uma vergonha, paralisado, sem rumo, com muita raiva, ódio, de cima para baixo e, todos são chamados, a tocar o apito de alerta.

Os intelectuais, principalmente os patriotas e nacionalistas do MPLA, da UNITA e demais partidos, não se podem demitir de justificar a valência da coluna vertebral, logo têm de rejeitar agir, numa fase de crise, como caracóis.

Eu tenho medo da teimosia barroca e do agigantar dos políticos medíocres, apenas fortes, quando rodeados de blindados, fuzis, polícias e exércitos, única blindagem, por ausência de poder mental e intelectual para persuadir os demais, através da força dos argumentos.

Mudemos, mudando, a mudança!

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