Contra a UNITA marchar,
com o dedo no… gatilho

A UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista em Angola, manifestou preocupação com actos de intolerância política (como se isso fosse possível…), que ocorrem pelo país contra cidadãos críticos ao regime e acções “pouco éticas” contra o líder desta formação política.

Em comunicado de imprensa, o Comité Permanente da Comissão Política da UNITA refere que tomou conhecimento pela imprensa (com exclusão da que é propriedade do MPLA) do plano do MPLA, partido no poder há 45 anos, que visa “combater até à exaustão” o presidente do partido, Adalberto da Costa Júnior.

Em causa está uma notícia, na linha de outras, divulgada pelo semanário Novo Jornal, que dá conta do referido plano, que admite a movimentação de arsenal partidário (ou outro, acrescentamos nós), que tem como principal alvo Adalberto da Costa Júnior, com recurso à invasão da esfera privada do líder da UNITA.

A posição do partido que governa Angola consta, segundo o semanário, de um estudo denominado “posicionamento Estratégico do MPLA para o reforço da sua afirmação no cenário político actual face aos adversários políticos na oposição”, que coloca Adalberto da Costa Júnior como novo líder da oposição aos camaradas, cuja pesquisa recomenda que seja “vigiado e combatido até à exaustão”.

“Face à sua gravidade, o Comité Permanente da Comissão Política alerta a opinião pública nacional e internacional para o perigo que este horrendo plano do MPLA representa para a vital estabilidade política e social em Angola”, refere-se no comunicado da UNITA.

Para a segunda maior força política de Angola, o plano revela “a impreparação do MPLA para uma competição política saudável, num ambiente democrático e o seu apego ao poder, por meios não previstos na Constituição da República, através da subversão das instituições do Estado, como é o caso da Comissão Nacional Eleitoral, dos tribunais e da corrupção política e eleitoral”.

De acordo com a nota, o constante envolvimento dos Serviços de Inteligência e Segurança do Estado em acções de aliciamento e compra de consciências a favor do partido no poder, é outra flagrante violação dos direitos dos cidadãos, inadmissível, 28 anos depois da institucionalização do Estado democrático em Angola.

“O Comité Permanente conclui que os actos de intolerância política que ocorrem amiúde pelo país contra cidadãos críticos ao regime e agora reforçados com a intenção de desencadear acções pouco éticas contra o presidente Adalberto da Costa Júnior, são também reveladores do carácter ditatorial e exclusivista do MPLA”, refere-se no documento.

Tais actos, para o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite, indiciam também o desespero do MPLA face ao crescimento da consciência dos cidadãos agastados pela má governação do país desde 1975 pelo mesmo partido.

“O Comité Permanente exorta os militantes, simpatizantes, amigos e os cidadãos angolanos em geral, a manterem-se serenos, vigilantes e a não responder às provocações perante as manobras de quem sempre recorreu à violência para se perpetuar no poder”, frisa-se na nota.

O que a memória nos diz

Estávamos em Agosto de 2015. A UNITA recusava a autoria de um alegado plano para atentar contra as instituições do Estado (MPLA) e a tomada do poder pela força. Isto porque, segundo as etílicas e paranóicas teses do regime, um golpe de Estado estaria ali mesmo nas esquinas de Luanda.

Aposição foi assumida no dia 15 de Agosto de 2015 em conferência de imprensa pelo secretário-geral do partido, Vitorino Nhany, que visou denunciar o que apelidou de um “plano macabro” das autoridades angolanas (MPLA) para imputar à UNITA as referidas intenções.

Tal como nos velhos tempos, o MPLA dizia na altura e diz hoje que a UNITA é a culpada de tudo. Não se sabe bem se, um dia destes, ainda vai descobrir que o Galo Negro é responsável pelo massacre do 27 de Maio de 1977. Nunca se sabe.

O que se sabe, no período anterior à morte de Jonas Savimbi, é que as balas das FAPLA/FAA só matavam os terroristas da UNITA, enquanto as das FALA só matavam civis.

Segundo Vitorino Nhany, o então presidente da UNITA, Isaías Samakuva, escreveu ao Presidente José Eduardo dos Santos para “denunciar a falsidade” de um documento forjado, supostamente produzido pelos Serviços de Inteligência do Presidente da República, mas atribuído ao Gabinete de Estudos, Pesquisas e Análise da UNITA – GEPA.

“O presidente Samakuva escreveu ao senhor Presidente da República para repudiar o objectivo velado de tal documento e garantir-lhe categoricamente que o documento é absolutamente falso”, referiu Vitorino Nhany.

O Secretário-geral da UNITA afirmou ainda que o documento “é falso” no seu conteúdo, autoria e origem que lhe é atribuída.

Para a UNITA, o objectivo da elaboração de tal documento visou a extorsão de dinheiro do Orçamento Geral do Estado “alegando que precisam de milhões de dólares para abortar tais planos da UNITA”.

O dirigente da UNITA sublinhou que as acusações não visam criar tensões no país, mas alcançar entendimento. “Não estamos a esconder, estamos a informar, de novo, o próprio Presidente da República para buscarmos diálogo”, salientou.

Igualmente com intenção de buscar diálogo, Vitorino Nhany disse que em Maio de 2015 foi endereçada uma carta ao Secretário-Geral do MPLA, partido no poder desde 1975, para a discussão de assuntos que afectam o país.

“A resposta fez-nos crer haver intenções de se adiar o encontro solicitado para as calendas gregas, o que por métodos diplomáticos significará, negar”, frisou o político.

A finalizar, Vitorino Nhany apelou à opinião pública nacional e internacional para a importância do assunto, que acredita tem, entre outros, o objectivo de “forjar um motivo para uma purga militar ou criminal contra a direcção da UNITA”.

E o culpado é…

Nada disto é novo. Em plena campanha eleitoral de 2012, o MPLA defendeu que a UNITA deveria pedir desculpas a algumas famílias devido ao que fez no passado.

Na altura, o secretário para os Assuntos Políticos do MPLA em Luanda, Norberto Garcia, virou-se para o passado no ataque à UNITA. É natural. Desde logo porque, como bem sabem os angolanos, o MPLA nunca – mas nunca – fez mal ao Povo.

Aliás, como todo o mundo sabe e nunca deve ser esquecido, tudo o que de mal se passou, passa ou passará em Angola é culpa da UNITA.

Mas há mais factos que dão razão às teses do MPLA. Todos sabem que a UNITA é que foi responsável pelos mais de 60.000 angolanos torturados e assassinados em todo o país depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.

E só por ter um espírito reconciliador, democrático e benemérito é que o MPLA, seguindo ordens superiores, não refere que a UNITA foi também responsável pelo massacre de Luanda que visou o seu próprio aniquilamento e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.

E é esse mesmo filantrópico espírito que evitou que ele dissesse os nomes de alguns angolanos que, esses sim, representam o povo angolano. A saber, entre muitos outros: Lúcio Lara, Iko Carreira, Costa Andrade (Ndunduma), Henriques Santos (Onanbwe), Luís dos Passos da Silva Cardoso, Ludy Kissassunda, Luís Neto (Xietu), Manuel Pacavira, Beto Van-Dunem, Beto Caputo, Carlos Jorge, Tito Peliganga, Eduardo Veloso, Tony Marta, Agostinho Neto, João Lourenço.

Como evitou que se fale dos que não são angolanos, mas apenas oportunistas e criminosos. A saber, entre outros: Alda Sachiango, Isaías Samakuva, Alcides Sakala, Jeremias Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces, Elias Salupeto Pena, Jonas Savimbi, António Dembo, Arlindo Pena “Ben Ben”, Adalberto da Costa Júnior.

Mas, apesar desta postura, o MPLA tem na manga muitas outras provas. Um dia destes vai provar que o massacre do Pica-Pau em que, no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA em Luanda… foram obra da UNITA.

Como irá provar que o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção, foi obra da UNITA.

Mas a lista é interminável. Entre 1978 e 1986, centenas de angolanos foram fuzilados publicamente, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda. Responsável? A UNITA.

Foi, aliás, a aviação da UNITA que, em Junho de 1994, bombardeou e destruiu Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores; que, entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, bombardeou indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.

Folha 8 com Lusa

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