O Presidente angolano, presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, procedeu hoje a algumas mudanças de cadeiras, mantendo-se o acesso dos mesmos à gamela do erário público, pouco importando que seja no Huambo ou em Luanda…
Assim, João Lourenço exonerou o governador da província de Luanda, Sérgio Luther Rescova, que se será substituído no cargo por Joana Lina, que deixa de ser governadora da província do Huambo.
Uma nota de imprensa da Casa Civil do Presidente da República refere que Sérgio Luther Rescova foi nomeado governador da província do Uíje, lugar que era ocupado por Mpinda Simão, hoje exonerado do cargo.
Para governadora da província do Huambo foi nomeada Lotti Nolika, enquanto Miguel dos Santos Oliveira foi nomeado vice-governador da província de Cabinda para o Sector Político e Social, em substituição de Alberto Paca Zuzi Macosso, exonerado do cargo a seu pedido.
Por último, adianta a nota, o Presidente exonerou Samahina de Sousa da Silva Saúde, do cargo de secretário de Estado para o Planeamento, e Ruth Mixinge, do cargo de secretária de Estado da Família e Promoção da Mulher, nomeando para os mesmos cargos, Milton Parménio dos Santos Reis e Elsa Maria Pires Lopes dos Santos Lourenço, respectivamente.
Talvez um dia o alvo acerte na bala
A UNITA, o maior partido da oposição angolana enquanto o MPLA quiser, questionou no dia 3 de Janeiro de 2019 a “experiência” do então novo governador de Luanda, Sérgio Luther Rescova, líder da Juventude do MPLA, partido no poder desde 1975, para dirigir aquela “complexa” província. Ninguém do Galo Negro parece ter aprendido as lições do seu fundador, Jonas Savimbi.
“Luanda é uma cidade que tem grandes desafios, veremos o que o novo governador irá fazer, não sei se ele terá experiência suficiente para estar à frente de uma estrutura tão importante como é Luanda, mas o tempo dirá”, disse Alcides Sakala, então porta-voz da UNITA. João Lourenço respondeu hoje…
Experiência? Capacidade? Integridade? Moral? Formação? Conhecimento? Honorabilidade? Claro que Sérgio Luther Rescova tinha, tem e terá, como atesta o doutoramento feito na Universidade do MPLA. Qualquer angolano de primeira, mesmo que para contar até 12 tenha de se descalçar, está apto a ser governador, ministro e até presidente. O simples facto de ser do MPLA dá-lhe, automaticamente, essa capacidade.
Alcides Sakala parecia ter-se esquecido que Angola é o MPLA e o MPLA é Angola. Entre um néscio do MPLA e um génio da UNITA (ou até sem partido), quem é que João Lourenço escolheria para governador de Luanda? Sempre assim foi e sempre assim será.
Já na altura Alcides Sakala disse trata-se da “habitual dança de cadeiras” a nível da presidência angolana, afirmando que João Lourenço “vem tentando acertar a sua estratégia”. O problema é que em cada remodelação que faz, o Presidente da República baixa a fasquia da qualidade. Para além de ter de recorrer ao baú de José Eduardo dos Santos, já não tem gente de nível e com nível para ocupar os cargos.
“Mas, fica o benefício de dúvida para aferirmos depois”, disse Alcides Sakala, mostrando uma inversão estratégica dos ensinamentos basilares de Jonas Savimbi. O antigo Presidente da UNITA dizia que ia de derrota em derrota até à vitória final. Actualmente, o Galo Negro (já sem asas e depenado) vai de derrota em derrota até à… derrota final.
Questionado se anseia por dias melhores para a capital angolana, província com cerca de sete milhões de habitantes, com a governação de Sérgio Luther Rescova, o também deputado à Assembleia Nacional falou em “ciclos incompletos” dos governadores de Luanda.
“O que temos verificado é que os governadores, muitas vezes, não terminam o seu ciclo de gestão da cidade e ficam depois programas incompletos, infelizmente tem sido assim”, salientou. E assim continua a ser, a bem do… MPLA.
Contudo, acrescentou, “sem tirar conclusões antecipadas fica o benefício da dúvida para vermos como é que ele poderá lidar com uma situação tão complexa que a gestão de uma cidade que tem milhões de habitantes”.
Pois é. João Lourenço dizia que quer implementar uma era de maior responsabilização, na qual não será tolerada a “má gestão financeira e patrimonial ou ainda o nepotismo praticado por alguns quadros responsáveis”. Como se comprovou logo com o caso de Luanda, ninguém reparou que no “contrato/promessa” que o Presidente “assinou” com os angolanos existe uma cláusula que diz: olhai para o que nós dizemos e não para o que fazemos.
Há 12 anos (Agosto de 2008), o Jornal de Angola guinchou com todos os decibéis disponíveis, dizendo que “Fernando Heitor, com tiques savimbistas de triste memória, com esgares de Jack o Estripador, também falou de milhões de dólares desaparecidos no pântano da corrupção. Heitor e a UNITA devem saber para onde foram os biliões de dólares dos diamantes de sangue”.
Mesmo sem ter frequentado as aulas de educação patriótica, o ex-deputado da UNITA resolveu em 2017 saltar a barricada e passar-se para o lado do MPLA. Não está em questão saber o montante da compra mas, apenas, esperar o que vai dizer o Jornal de Angola sobre esta comprada conversão.
Ainda segundo o Jornal de Angola, “Fernando Heitor, no seu discurso, ainda escorria umas gotas de raiva pelos cantos da boca. Um rapaz desempoeirado apareceu com a camisola do MPLA, disse que “o dinheiro é nosso” e despiu a camisola. Ficou nu da UNITA para cima. O dinheiro dos diamantes de sangue voa baixinho, como o galo negro”.
Pois é. Mas, agora, o comportamento de Fernando Heitor foi purificado e o ex-deputado (como outros ex-altos dirigentes da UNITA) passou de besta a bestial. É claro que Fernando Heitor não está preocupado. Os valores são outros e, como esperado, passou a dizer cobras e lagartos de Jonas Savimbi e acrescentar que nunca ouviu falar dos princípios do Muangai.
Para evitar assassinar os dirigentes que restam à UNITA, o MPLA optou por oferecer e prometer tudo a todos: cargos, carros, motas, bicicletas, comida, bebida, dinheiro etc.. Conseguiu até compram deputados da oposição interna, jornalistas, políticos e magistrados portugueses…
Folha 8 com Lusa