A inércia da visão letárgica

A história já é muito antiga. Havia um agricultor que tinha um cavalo muito forte e resistente para os trabalhos agrícolas. O agricultor sentia-se muito orgulhoso e vaidoso por ter um cavalo tão bom. O único problema era que o cavalo também necessitava de comer. O agricultor resolveu experimentar não alimentar o cavalo. O cavalo continuou a trabalhar, durante mais alguns dias, e depois morreu. O agricultor lamentou com os vizinhos: ”Agora que o cavalo só dava lucro, sem qualquer despesa, morreu. Pouca sorte a minha”!

Por Domingos Kambunji

Esta é uma metáfora que se poderá usar para ilustrar a queda de uma ponte na província do Zaire, entre Tomboco e Nóquia, noticiada pelo jornal da Angola do MPLA, e a inércia letárgica da visão dos dirigentes do MPLA.

As águas do rio destruíram e levaram a ponte. O jornal da Angola do MPLA chegou à conclusão de que “o desabamento de pontes pelo país dificulta muitas vezes a circulação de pessoas e bens”.

São necessários muitos anos de estudo na Universidade Agostinho Neto ou na Universidade José Eduardo dos Santos para se chegar a uma conclusão “tão brilhante”, como esta a que chegou o jornal da Angola do MPLA? É verdade que a circulação de pessoas e bens, de uma maneira geral, não se faz de helicóptero…

O jornal da Angola do MPLA também informou que a falecida ponte já foi visitada pelo primeiro secretário do MPLA na província do Zaire, Pedro Makita. Os restos mortais da ponte poderiam ter sido visitados por um agente funerário, por um engenheiro civil ou pelo Ministro das Obras das Estradas Esburacadas…

Mas não! A autoridade mais “importante e sabedora” para estes assuntos de avaliação de estradas e pontes foi o primeiro secretário provincial do MPLA… Será que o Pedro Makita, primeiro secretário provincial do MPLA foi baixar uma ordem superior para prender o rio, por pertencer a uma organização de malfeitores e ter destruído a ponte? Será que o Pedro Makita está a aguardar uma ordem superior, baixada pela Fundação Agostinho Neto, para mandar fuzilar o rio, “sem perder tempo com julgamentos”?

Até admira o primeiro secretário provincial do MPLA do Zaire, Pedro Makita, não ter convidado a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, o primeiro secretário nacional da JMPLA, Crispiniano dos Santos, e a primeira secretária nacional da OMA (Organização das Mandadas de Angola) para o acompanharem na “cerimónia oficial de inauguração do desabamento da ponte na estrada entre Tomboco e Nóqui”.

A grande anedota da reportagem matumba do jornal da Angola do MPLA reside no facto de invocar a desculpa de essa ponte ter sido construída no tempo colonial. O que é que isso tem a ver com a negligência provocada pela inércia letárgica da visão dos dirigentes do MPLA?

Há muitíssimos exemplos em todo o mundo de pontes construídas há muitos séculos que continuam de pé, porque as autoridades desses países fazem uma coisa que os dirigentes do MPLA não sabem fazer, cuidados de manutenção. Há pontes construídas durante o império romano que não são levadas pelas águas dos rios, como aconteceu com a ponte entre Tomboco e Nóqui, no Zaire, porque houve e continua a haver cuidados de manutenção e reparação.

O primeiro secretário do MPLA no Zaire, Pedro Makita, já prometeu que “o governo fará tudo para repor a circulação de pessoas e bens o mais rápido possível”? Isso inclui a exoneração do governador provincial Pedro Makita e a substituição por alguém que não sofra de inércia letárgica na visão de planeamento, implementação e manutenção de obras públicas?

O kumbu para a construção e manutenção de pontes na Reipublica da Angola do MPLA foi gasto a construir estátuas do assassino Agostinho Neto, o fundador da guerra civil e pai dos fuzilamentos do 27 de Maio de 1977?

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