A consultora FocusEconomics reviu em baixa a previsão de crescimento para Angola, antecipando uma estagnação económica e considerando “cada vez mais improvável que o país recupere este ano da prolongada recessão” devido à evolução do sector petrolífero. Que chatice! Estes marimbondos não lêem os comunicados do Departamento de Informação (e Propaganda) do MPLA?
“P arece cada vez mais improvável que a economia de Angola consiga recuperar de uma prolongada recessão este ano; a crónica dependência do sector petrolífero vai pesar no crescimento, num contexto de queda do consumo interno e preços globais do petróleo incertos”, escrevem os analistas da FocusEconomics no mais recente relatório sobre as economias africanas.
No relatório, enviado aos clientes, a consultora espanhola diz esperar “que o Produto Interno Bruto registe um crescimento zero este ano, menos 0,2 pontos percentuais do que a estimativa do mês passado”, e que em 2020 a economia regresse ao crescimento, com uma expansão de 1,6% do PIB.
A economia, afirmam, “parece ter perdido fôlego de forma significativa no primeiro trimestre, devido à deterioração no sector do petróleo”, lembrando que “a produção de petróleo continuou a cair nos primeiros três meses, mais do que compensando os preços mais altos do crude a nível mundial”.
O mesmo aconteceu com as exportações, que “consequentemente contraíram-se de forma notável, o que, juntamente com o aumento das importações, quase que apagou por completo o excedente da balança corrente no primeiro trimestre”.
Assim, concluem, “o quadro parece ter continuado sombrio”. Com a actividade nos sectores petrolífero e não petrolífero em queda, “a actividade afundou-se ainda mais em território negativo em Abril, indiciando uma deterioração da dinâmica no princípio do trimestre”, conclui a FocusEconomics.
Recorde-se, contudo, que a FocusEconomics usa a mesma estratégia, infalível, do Governo de João Lourenço. Ou seja, às segundas, quartas e sextas diz uma coisa, às terças, quintas e sábados outra. Ao domingo vão â missa.
No passado dia 20 de Fevereiro, por exemplo, desceu ligeiramente a previsão de crescimento económico para Angola, apontando mesmo assim para uma expansão do PIB de 1,2% este ano, seguindo-se a uma recessão de 2,4% em 2018.
“A economia parece ter ficado presa na recessão no último trimestre do ano passado, que se segue a um desapontante terceiro trimestre, que marcou o quarto trimestre consecutivo de contracção”, escrevem os analistas desta consultora com sede em Barcelona.
No relatório então divulgado sobre as principais economias africanas, os analistas revelaram uma descida das previsões de crescimento para Angola, este ano, antevendo uma expansão do PIB de 1,2%, que contraste com os 1,3% esperados no mês de Janeiro, 1,9% em Dezembro e os 2,3% que os analistas previam para Angola, em Novembro.
“O importante sector petrolífero continuou a desapontar no último trimestre do ano passado, quando a descida dos preços do petróleo anulou qualquer ganho da produção ligeiramente maior face ao trimestre anterior”, vincaram os analistas.
Além disso, acrescentavam, “o índice da actividade económica continuou a deteriorar-se de Outubro a Dezembro, apontando para a segunda maior recessão em quase três anos em Novembro, principalmente devido à pobre produção da indústria petrolífera”.
No relatório, os analistas consideraram que a intenção de Angola regressar às emissões de dívida internacionais nos próximos meses, com uma emissão a 10 anos, “pode mostrar-se desafiante”, principalmente devido à recente descida da Perspectiva de Evolução da economia por parte da Standard & Poor’s, que desceu a previsão de Estável para Negativa, curiosamente em sentido inverso à opinião mostrada pela Moody’s, que melhorou o ‘Outlook’ de Negativo para Estável.
Para este ano, “os analistas da FocusEconomics vêem o crescimento a recuperar; inflação a moderar-se, um ambiente mais acomodatício na política monetária e um kwanza mais estável devem sustentar o consumo privado, enquanto as reformas em curso, apoiadas pelo Fundo Monetário Internacional, devem potenciar o crescimento do investimento e da actividade económica este ano”.
Recorde-se, por outro lado, que a agência de notação financeira Fitch desceu a Perspectiva de Evolução da economia de Angola, mantendo o país no nível B, abaixo da recomendação de investimento, com o “rating” de “lixo”, devido à lenta recuperação económica e ao aumento da dívida pública.
“A revisão da Perspectiva de Evolução da economia de Estável para Negativa reflecte a deterioração das métricas da dívida, a contínua queda das reservas externas e uma recuperação económica adiada e mais lenta do que o previsto”, escrevem os analistas na explicação que sustenta a acção de “rating”.
A Fitch mantém a opinião sobre a qualidade do crédito soberano em B, abaixo da recomendação de investimento, ou seja, “lixo” ou “junk”, como é normalmente conhecido.
“O nível de dívida pública continuou a aumentar de 80,2% do Produto Interno Bruto, em 2018, para 83,8% este ano, segundo as nossas previsões”, escreve a Fitch, notando que este rácio está “bem acima da média dos países com uma nota ‘B’, nos 59,1%.
O nível de dívida seria ainda maior se as contas da Sonangol (empresa âncora do regime) fossem incluídas, o que elevaria 88,8% este ano, diz a Fitch, notando que uma parte desta deterioração nas métricas da dívida “é o resultado da depreciação do kwanza, apesar de alguns dos riscos sobre a liquidez da moeda externa estão mitigados, de alguma forma, pelo facto de o governo receber a maioria das suas receitas em dólares”.
Há um ano (10 de Julho de 2018), embalada pelas promessas do Governo de João Lourenço e pela enciclopédia de promessas económicas, financeiras e políticas, a Fitch melhorou a perspectiva de evolução da economia de Angola de negativa para estável, mantendo o “rating” da qualidade do crédito soberano em B, abaixo do nível de recomendação de investimento.
“A revisão da perspectiva de evolução da economia de Angola de negativa para estável reflecte as melhorias na gestão do regime de câmbio e a adopção de uma ambiciosa agenda de reformas, que inclui ajustamentos nas vertentes monetária, orçamental e estrutural, que vão diminuir as vulnerabilidades externas e melhorar as finanças públicas”, disseram na altura os analistas.
De acordo com o relatório completo de “rating” sobre Angola, a Fitch manteve (apesar dos elogios) Angola no “lixo”, ou seja, abaixo do nível de recomendação de investimento, mas sobe a avaliação que faz sobre a direcção da política económica, o que significa que não antecipa eventos que possam fazer descer o “rating” do país. Enganou-se. Foi enganada. Confundiu a beira da estrada com a estrada da Beira.
“A revisão da perspectiva de evolução da economia de Angola de negativa para estável reflecte as melhorias na gestão do regime de câmbio e a adopção de uma ambiciosa agenda de reformas, que inclui ajustamentos nas vertentes monetária, orçamental e estrutural, que vão diminuir as vulnerabilidades externas e melhorar as finanças públicas,” idealiza então a Fitch.
Entre as principais e ingénuas (como tantas vezes escreveu o Folha 8) razões para a melhoria da avaliação do andamento da economia, a Fitch apontava os ajustamentos externos em curso, nomeadamente o fim da taxa de câmbio fixa, a melhoria do crescimento económico, ainda que limitado, e a retoma da consolidação orçamental, salientando que o sector bancário continua a ser uma fraqueza e que os factores estruturais do país são um constrangimento para a avaliação da qualidade do crédito.
“Os ratings de Angola estão constrangidos pela fraqueza estrutural, principalmente pelo fraco desempenho nos indicadores de desenvolvimento humanos e de governação e pelo mais alto nível de dependência de matérias-primas entre os países analisados pela Fitch”, escreveram os analistas no relatório completo.
A Fitch antevia na altura que o crescimento económico de Angola subiria de 2,3%, em 2018, para 2,5% em 2019, e que o défice orçamental diminua para 5,4% em 2018, depois de no ano anterior ter chegado aos 6,8%.
“A dívida pública aumentou para 66,6% do PIB no final do ano passado (2017), quando era de 50,7% no final de 2015″, lembravam os analistas, que antecipavam que a dívida pública chegaria a um pico de 67,5% no final de 2018 e depois começasse a cair a partir de 2019, para chegar a 2020 nos 58,7% do PIB.
A Fitch considerava também que o volume de dívida pública de Angola era sustentável a médio prazo, alertando, no entanto, para as dificuldades do país em servir a dívida durante o próximo ano (2019).
“Na opinião da agência de notação, a posição de Angola em termos de dívida externa a médio prazo é sustentável, ainda que em dificuldades. No entanto, cumprir os pagamentos da dívida durante o próximo ano (2019) será um desafio“, escreveram os analistas no relatório.
Entre as razões para a dificuldade em servir a dívida, para além do próprio volume, estavam (estão) “a falta de capacidade dentro do Ministério das Finanças, que foi responsável por pagamentos atrasados aos credores oficiais e o registo de erros administrativos noutros pagamentos”.
Folha 8 com Lusa