Quando só as balas da
UNITA é que… matavam!

Dezassete anos depois, a UNITA continua a evitar reabilitar a “Casa Banca”, onde residiu Jonas Savimbi no Huambo, residência que ficou destruída durante os 55 dias consecutivos de bombardeamentos das tropas governamentais em finais de 2001. Recorde-se que, durante a guerra, só as balas das FALA (UNITA) matavam civis. As do MPLA desviavam-se…

Hoje, a casa do líder histórico da UNITA, morto em combate em 22 de Fevereiro de 2002, não é mais do que um “ícone” da guerra que, para o ser, teve de ter dois protagonistas antagónicos, em que o “Galo Negro” pretende (enquanto o MPLA deixar, é claro!) manter como “memória” de um conflito cujo fim, precipitado com a morte de Savimbi, apenas serviu para calar as armas (o que é vital), mantendo-se vivas quase todas as questões que originaram a guerra, a começar pelos nossos 20 milhões de pobres e a acabar no colonialismo (em muitas coisas bem pior do que o português) do MPLA.

A residência, a que se juntou mais recentemente, ao lado, a sede provincial da UNITA no Huambo e também o Comité Provincial da capital do “Planalto Central”, está sem tecto, com paredes destruídas e retorcidas, tendo quarta-feira à noite acolhido uma “vigília simbólica” no âmbito das exéquias fúnebres de Jonas Savimbi.

Dezenas de apoiantes do partido do “Galo Negro” montaram, dentro da “Casa Branca”, inúmeras tendas, onde permanecem há vários dias na expectativa de prestar homenagem ao “guia e mestre” Jonas Savimbi, cujos restos mortais era suposto passarem pelo Huambo, o que não aconteceu.

As divergências entre o Governo do MPLA, de um lado, e familiares de Jonas Savimbi e dirigentes da UNITA, do outro, continuam a gerar um impasse na entrega dos restos mortais, depositados terça-feira numa unidade militar no Andulo, no norte da província do Bié, depois de o “Galo Negro” ter elaborado um programa que previa a entrega do corpo no Cuíto, a capital provincial.

Hoje de manhã, várias dezenas de simpatizantes de Savimbi continuavam a aguardar por uma definição, com informações contraditórias sobre o paradeiro do líder da UNITA, umas que davam conta da presença de Isaías Samakuva no Andulo, outras que avançavam que iria seguir para Luanda para se encontrar com o Presidente João Lourenço.

Fonte do partido disse à Lusa que Samakuva será recebido hoje, em Luanda, por João Lourenço, reunião que tem por objectivo esclarecer o impasse, para que o funeral de Savimbi, previsto pela UNITA para o próximo sábado, possa ocorrer de acordo com o calendário da formação política.

Na “Casa Branca”, na Rua 49, onde dezenas de bandeiras da UNITA estão a meia haste, o silêncio é respeitado por todos, pelo que ninguém quis falar, seguindo as ordens de Samakuva, que pediu aos apoiantes para se “manterem serenos”, para evitar especulações desnecessárias.

Por seu lado, Américo Wongo, secretário provincial adjunto da UNITA no Huambo, referiu que aguarda por uma comunicação superior para que se possa dar continuidade ao programa das exéquias fúnebres de Savimbi em Lopitanga, pequena localidade a 30 quilómetros do Andulo, onde o líder histórico do “Galo Negro” pediu, em vida, para ser sepultado, junto às campas dos pais.

“Com esta humilhação que a família biológica e partidária passa, Samakuva entendeu enviar uma carta ao Presidente da República para buscar os porquês, para saber se o Presidente está por dentro da situação ou se há alguém a violar o acordado”, afirmou Américo Wongo.

Savimbi segundo o general russo Valentin Varennikov

No livro “Irrepetível”, o general russo Valentin Varennikov, que fez duas comissões em Angola em 1982 e 1983, integrando as forças soviéticas, é feito um retrato de Jonas Savimbi. Este “episódio” é também referido por José Milhazes no seu livro “Angola o princípio do fim da União Soviética”:

“Político enérgico, inteligente e esperto, Savimbi, recorrendo ao seu prestígio (o seu prestígio estava ao nível do de Neto, quando estavam juntos na luta de libertação nacional), infiltrou-se em todas as províncias fulcrais, em todos os seus poros: na economia, política, organização militar, ideologia, ciência, cultura, educação.

Em cada província criou uma região militar dirigida por um comandante e um quartel-general. Levou a cabo uma mobilização e formou destacamentos armados. Equipou-os com armas, munições, equipamentos, criou centros de preparação desses destacamentos, nomeou governadores os comandantes das regiões militares que lhe eram pessoalmente fiéis.

Em toda a parte foram criadas empresas, estabelecidos contactos económicos entre as províncias. A fim de reforçar a sua imagem de dirigente e defensor dos interesses dos seus concidadãos, Savimbi dedicava-se pessoalmente à reconstrução de escolas, escrevia manuais para as classes primárias, incluindo um abecedário. Isto não podia deixar de tocar no coração dos pais, principalmente das mães: um abecedário escrito pessoalmente por Savimbi!”

Savimbi segundo o general Samuel Chiwale

“C ruzei-me com a História” é um livro escrito por Samuel Chiwale, ex-Comandante Geral das FALA – Forças Armadas de Libertação de Angola, o exército da UNITA.

Sobre o presidente fundador da UNITA, mesmo que tendo sido vítima de algumas das suas injustiças, Samuel Chiwale diz: “O Dr. Savimbi era um verdadeiro fenómeno: um intelectual de mente clara e pensamento profundo. A juntar a isso estava a sua capacidade de, diante de alguém, traçar mentalmente o seu perfil e, em função disso, recorrer ao argumento apropriado para o convencer. Diante de pessoas com esta dimensão, pouco podemos fazer a não ser segui-las. Foi isso que se passou comigo” (Página 60).

Foi, aliás, isso que se passou com milhões de angolanos.

É claro que nem todos os que privaram com Jonas Savimbi, até mesmo alguns dos que com ele fundaram a UNITA, resistiram à força centrípeta dos dólares do MPLA, como recorda Samuel Chiwale. “Miguel N’Zau Puna e Tony da Costa Fernandes haviam sido comprados pelo MPLA por uns míseros milhões de dólares”, (Página 279).

Muitos dos ilustres dirigentes do MPLA devem ler (partindo do pressuposto, não confirmado, que sabem ler) esta obra da Samuel Chiwale. É que, cada vez mais, a tese de que o MPLA foi o único a dar o corpo e a alma na luta contra o colonialismo português cai por terra.

Se calhar, dos três envolvidos (MPLA, UNITA e FNLA) o partido a quem foi entregue pelos camaradas de Lisboa o Governo de Angola, em 11 de Novembro de 1975, foi o que menos fez pela libertação do país.

Samuel Chiwale desmonta o mais batido argumento do MPLA e dos bajuladores políticos portugueses (PSD, PS, CDS, PCP) quanto à suposta colaboração da UNITA com a PIDE-DGS. Mas, de facto, só o tempo clarificará uma das mais nojentas estratégias dos donos do então poder em Lisboa.

A História de Angola precisa de todos os arquivos da memória. Destes e de outros que tardam em aparecer, eventualmente porque nem tudo foi digno na UNITA, nomeadamente quanto ao processo de traição que levou à morte de Jonas Savimbi, protagonizado por ex-altos quadros militares do “Galo Negro”, como Geraldo Sachipengo Nunda, e, mais uma vez, com o apoio de cérebros portugueses pagos em dólares roubados aos angolanos.

Savimbi segundo o MPLA

Um dos maiores criminoso e terroristas de África, provavelmente o responsável pelo massacre do 27 de Maio de 1977…

Folha 8 com Lusa

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