O chefe de Estado de Angola, João Lourenço, considerou hoje que a ausência do Parlamento, há mais de 90 dias, de “Tchizé” dos Santos, deputada do seu partido, o MPLA, deve ser esclarecida pelo Presidente da Assembleia Nacional. E, é claro, o Presidente do MPLA (João Lourenço) está de acordo…
“E u acho que é uma questão a ser respondida pelo presidente da Assembleia Nacional (Fernando Piedade Dias dos Santos “Nandó”), respondeu João Lourenço, nada mais adiantando sobre a situação em que se encontra a deputada do MPLA.
No dia 7 de Maio, o Grupo Parlamentar do MPLA enviou uma carta a “Tchizé” dos Santos, filha do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos, a “sugerir” à deputada que “suspenda” o seu mandato na Assembleia Nacional angolana, por se encontrar ausente do país há mais de 90 dias.
Os três meses de ausência implicam, segundo o Regimento da Assembleia Nacional de Angola e o Estatuto de Deputado, a suspensão do mandato, havendo várias formas de o fazer: ser a própria deputada a solicitá-lo, o Grupo Parlamentar do partido a que pertence, o próprio MPLA ou ainda o presidente do Parlamento.
Isso mesmo foi dito a 11 deste mês pelo porta-voz do MPLA, Paulo Pombolo, lembrando que o partido tem meios para suspender o mandato de “Tchizé” dos Santos, que contestou o conteúdo da carta e recusou pedir a suspensão, alegando que vive no Reino Unido porque tem receio pela sua segurança se regressar a Angola.
Paulo Pombolo lembrou que o partido “não tem por norma” (mas há, é claro, sempre excepções) discutir os assuntos internos na “praça pública”, tanto mais que “Tchizé” dos Santos integra o Comité Central do MPLA, cujos membros têm responsabilidades acrescidas, superiores às dos militantes de base.
“A camarada Tchizé dos Santos, como membro do Comité Central, sabe que há regras e normas a cumprir e está a portar-se mal”, afirmou, lembrando que tudo começou com uma carta do grupo parlamentar do MPLA.
Questionado sobre o que pode acontecer se “Tchizé” dos Santos não o fizer – alega, além de razões de segurança pessoal, perseguições políticas e intimidações feitas por dirigentes do partido -, Paulo Pombolo indicou (embora entenda que o partido “não tem por norma discutir estes assuntos na praça pública”) que, em última análise, e à luz do Regimento da Assembleia Nacional e do Estatuto de Deputado, o MPLA, o seu próprio Grupo Parlamentar e até o próprio Presidente do Parlamento podem decidir a suspensão temporária do mandato.
“O que fizemos [na carta do grupo parlamentar] foi facilitar o trabalho da deputada [sugerindo que solicitasse a suspensão temporária do mandato]. Já passaram 90 dias e o MPLA não pode continuar sem um deputado no Parlamento. As regras são do parlamento e não do partido”, insistiu, sempre realçando – é claro – que o partido “não tem por norma discutir estes assuntos na praça pública”.
O porta-voz do MPLA disse não compreender porque é que “Tchizé” dos Santos não solicita a suspensão do mandato de deputada, para o qual foi eleita nas presidenciais e legislativas de agosto de 2017, uma vez que a Assembleia Nacional garante o regresso ao assento parlamentar assim que voltar ao país.
Paulo Pombolo afirmou (reforçando que o partido “não tem por norma discutir estes assuntos na praça pública”) que “Tchizé” dos Santos, na carta que dirigiu ao Presidente da Assembleia Nacional para justificar a saída do país, alegou razões de saúde dos filhos e não questões de insegurança ou de perseguições.
“Não faz sentido. Não é verdade”, garantiu, sublinhando que a melhor solução para “Tchizé” dos Santos é escrever ao Presidente da Assembleia Nacional para suspender temporariamente o mandato. Isto, note-se, porque o partido “não tem por norma discutir estes assuntos na praça pública”.
Na contestação à proposta do Grupo Parlamentar do MPLA, “Tchizé” dos Santos também acusou João Lourenço de estar “a fazer um “golpe de Estado às instituições” em Angola e defendeu a respectiva destituição.
Na ocasião, a deputada assumiu que está “involuntariamente” fora do país devido à doença da filha e que há vários meses está a ser “intimidada” por dirigentes do partido (coisa que o MPLA nunca fez na sua história, como foi no caso dos massacres do 27 de Maio de 1977, já que não intimidou – assassinou) no poder em Angola desde 1975.
Face à realidade em Angola, a deputada disse ainda que está à procura de advogados em Luanda para avançar para o Tribunal Constitucional com uma participação sobre o seu caso, e ainda com “um pedido de “impeachment” (destituição)” de João Lourenço no Parlamento, procurando para tal o apoio de deputados para uma proposta de Comissão de Parlamentar de Inquérito para apurar a conduta do actual chefe de Estado.
“O Presidente da República é conivente porque nada faz. Está a haver um crime contra o Estado. Isto é um caso para “impeachment”. Este Presidente da República merece um isso”, afirmou Welwitschea “Tchizé” dos Santos, considerada a filha mais próxima, politicamente, de Eduardo dos Santos.
Em reacção, também à Lusa, o porta-voz do MPLA considerou (sendo “certo” que o partido “não tem por norma discutir estes assuntos na praça pública”) “muito graves” as declarações de “Tchizé” dos Santos, lembrando que o partido tem órgãos próprios – Comissão Nacional de Disciplina e Auditoria – e vai analisar as declarações à luz dos estatutos partidários.
“Exigir a destituição do Presidente João Lourenço? Acusar o Presidente de ser um ditador? De estar a fazer um golpe de Estado às instituições em Angola? Tem provas? São palavras absurdas e declarações graves, muito graves, que o partido vai analisar”, afirmou Paulo Pombolo, sempre com o emblemático cuidado de dizer que o partido “não tem por norma discutir estes assuntos na praça pública”.
O porta-voz do MPLA acrescentou que o assunto vai ser ainda debatido pela Comissão de Disciplina, pelo que não se pode antecipar seja o que for sobre uma eventual decisão de órgãos que são “independentes e autónomos”, sendo certo que – como se constata – o partido “não tem por norma discutir estes assuntos na praça pública”.
Folha 8 com Lusa
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