Cerca de três em cada cinco angolanos têm acesso a uma fonte segura de água, mas as metas do Governo de atingir 76% da população, em 2022, “não serão alcançadas”, refere um estudo de um instituto sul-africano. É uma chatice. Quarenta e quatro anos de governação, 17 de paz total, não foram suficientes para resolver os problemas do Povo. Serão, talvez, precisos mais 56 anos.
Denominado “Relatório – O Caminho Actual: Angola Rumo ao ano 2050”, o estudo, que integra variáveis geográficas, económicas, energia, infra-estruturas, saúde, entre outras, baseadas no programa Futuros Internacionais (IFs, na sigla inglesa), refere que “pouco progresso foi feito no aumento da disponibilidade de fontes seguras de água” em Angola.
“No momento, o IFs estima que cerca de três em cada cinco angolanos têm acesso a uma fonte segura de água, traduzindo-se em 13 milhões de pessoas sem acesso à água potável”, assinala o estudo, observando que a taxa “é ligeiramente abaixo da média” para os países de baixos rendimentos (mas de altíssima e criminosa incompetência) de África.
Para os autores do estudo, apresentado, em Luanda, pelo Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola (UCAN) e o ISS o crescimento rápido da população angolana vai concorrer para o aumento de pessoas sem acesso à água.
“Graças ao crescimento rápido da população, a população sem acesso à água potável deve continuar a crescer até 2040, alcançando um pico de mais de 18 milhões de pessoas”, aponta o estudo.
Segundo o relatório, o Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-2022 estabelece a meta do Governo do MPLA (o único partido a governar Angola desde a independência em 1976) de aumentar a taxa de acesso urbano à água potável de 60% em 2017 para 85% em 2022 e a taxa de acesso rural à água potável de 66% em 2017 para 76% em 2022.
No domínio do saneamento básico, o programa Futuros Internacionais estima que dois em cada cinco angolanos têm acesso a instalações sanitárias melhoradas e, embora seja uma taxa melhor do que a média dos países de baixos rendimentos de África, é aproximadamente sete pontos percentuais abaixo da média para o resto dos países de rendimentos médios-baixos de África.
“Isso traduz-se em 18 milhões de pessoas sem acesso a uma instalação sanitária melhorada em Angola”, refere o estudo. Só falta mesmo o MPLA perguntar para que é que precisamos de instalações sanitárias minimamente funcionais, não é?
O projecto é financiado pela fundação alemã SeidelHanns e pela Agência Sueca de Cooperação para o Desenvolvimento Internacional (SIDA).
Electricidade apaga promessas do governo
O mesmo estudo estima que a taxa de acesso à electricidade em Angola ficará aquém das metas estimadas pelo governo para 2022. Nova chatice. Nem mesmo as iniciativas do Secretário itinerante do Comité Provincial de Luanda do MPLA, general Bento Kangamba, para tornar a electricidade… potável estão a ajudar.
No tal Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-2022, o Governo de João Lourenço prevê que metade da população tenha acesso à electricidade em 2022, mas, de acordo com um estudo do Programa Africano de Futuros e Inovação do Instituto de Estudos e Segurança (ISS, na sigla inglesa), nessa data apenas 39% dos angolanos terá energia eléctrica, se o Governo “não envidar esforços adicionais”.
Segundo o estudo, estima-se que a taxa de acesso nacional à electricidade de Angola passará de cerca de 36% em 2018 a 39% em 2022, 51% por volta de 2030; 68% em 2040 e 82% por volta de 2050 e, talvez, de 100% quando o MPLA completar 100 anos de governação ininterrupta, ou seja, daqui a 56 anos.
“Com as taxas rurais substancialmente abaixo das taxas urbanas, mas com uma convergência crescente ao longo do horizonte temporal”, observa o documento, cujas metas foram analisadas num workshop sobre “O Futuro de Angola” promovido pelo CEIC e o ISS.
Para os autores, “esforços adicionais” do Governo angolano serão necessários “caso se queira atingir as metas” plasmadas no PDN 2018-2022.
Actualmente, acrescenta, a energia hidráulica em Angola gera metade do fornecimento nacional de electricidade, “embora a potência instalada seja suficiente para fazer provisão para 67%”.
Mortalidade infantil deve diminuir
O referido estudo indica que a taxa de mortalidade infantil em Angola vai diminuir para quase metade da actual em 2050, diminuindo “significativamente para cerca de pouco mais de 51 mortes” por cada mil nados vivos. Para os próximos anos, os dados apontam para “47 mortes em 2035 e cerca de 31 em 2050”.
“Embora ainda seja elevada em comparação com seu grupo de pares”, a taxa em Angola “diminuiu significativamente”, com o país a registar uma “taxa de mortalidade materna de cerca de 452 mortes por 100 000 nascimentos, comparável à Eritreia e Moçambique”.
Como Angola está nas “fases iniciais da transição demográfica”, as taxas de mortalidade “continuam a ser elevadas”, e as doenças transmissíveis ainda são a causa mais comum de morte, liderada por outras doenças transmissíveis”, infecções respiratórias, malária e diarreia.
A malária é a principal causa de mortes em Angola e o estudo refere que a doença “continua a ser a principal causa de morte entre as crianças”, secundado pela diarreia causada por “uma falta generalizada de água potável e instalações sanitárias adequadas” e “um sistema de saúde pública ineficaz”.
“Angola está a passar pela transição epidemiológica, onde as doenças não transmissíveis, tais como o cancro e a diabetes, substituem doenças transmissíveis, como a principal causa de morte”, pode ler-se no estudo.
De acordo com o relatório, no caminho actual, prevê-se que a carga de doenças não transmissíveis vai ultrapassar a de doenças transmissíveis “antes dos meados do século”, transição epidemiológica que “exigirá investimentos substanciais no sector de saúde”.
Reduzir a taxa de mortalidade materna de 239 em 2016 a 119 por 100.000 nados vivos em 2022, reduzir a taxa de mortalidade por malária a 10% em 2022 são algumas das metas do Governo angolano estabelecidas no tal Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-2022.
Folha 8 com Lusa