Numa entrevista concedida pelo Presidente de Angola, também Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, à RTP, canal de televisão público português, afirmou não haver fome no país. Em Setembro de 2018, o ministro da Agricultura e Florestas de Angola, Marcos Alexandre Nhunga, disse que o país tem alguma “população considerável que não passa fome como tal”.
Durante a entrevista, transmitida no dia 4 de Março, o jornalista português da RTP referiu-se ao relatório do UNICEF que coloca Angola como um país onde pessoas morrem de fome. João Lourenço negou a existência de fome no país, embora tenha admitido a subnutrição.
João Lourenço afirmou: “A nossa luta é lutar para reduzir os índices de pobreza, devido aos longos anos de conflito armado. Hoje há oferta de bens alimentares em Angola, não se pode dizer que existe hoje fome em Angola, é uma questão de alguma má nutrição.”
O Presidente João Lourenço fez estas declarações em vésperas da chegada a Angola do seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, e poucos dias antes de um padre católico e defensor dos direitos humanos ter denunciado a morte de cidadãos angolanos por conta da fome numa zona do país onde há seca.
O activista cívico Manuel Mapanda, mais conhecido como Dago Nível, questionou as declarações do Presidente, tendo dito: ”Como é que o senhor vai dizer que não existe fome em Angola? Não leu a denúncia do padre Jacinto Wacussanga sobre a morte de um Angolano por fome? Será que nos Gambos e no Curoca já não há fome? Assim que JLo assumiu a presidência a maioria dos Angolanos passou a ter a cesta básica, e a fome foi eliminada?”
Durante entrevista, o chefe de Estado angolano também deixou patente a sua propagandeada vontade em combater a corrupção que fez parte do programa eleitoral do partido, tendo dito: Ninguém pode garantir que daqui para a frente não haverá corrupção e, que não haverá corruptos, mas que não ficarão impunes tal como sempre foi. Não haverá mais intocáveis, segundo João Lourenço. Esse tempo ficou para trás.
Em 2018, o Fórum Regional para o Desenvolvimento Universitário (FORDU), uma associação cívica da área de educação, sediada no sul de Angola, elaborou um documentário intitulado “Angola, um país em risco”, o qual aponta o elevado número de pessoas que procuram por comida nos contentores, quer no centro urbano da província do Huambo, foco do documentário, quer na capital do país.
Setembro de 2018. O ministro da Agricultura e Florestas de Angola, Marcos Alexandre Nhunga, disse que o país tem alguma “população considerável que não passa fome como tal”, mas que “se encontra numa situação difícil”.
Marcos Nhunga falava aos jornalistas depois de questionado pela agência Lusa sobre o relatório de segurança alimentar e nutrição elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o qual indica que, em Angola, 23,9% da população passa fome.
“É uma realidade, mas não temos essa realidade. A FAO divulga os seus dados e não queremos fazer comentários. Mas a FAO, quando divulga, tem dados com base num levantamento a nível mundial”, afirmou o governante.
No relatório de 2018, a FAO refere que cerca de 821 milhões de pessoas no mundo passam fome, o que se traduz num aumento quando comparado com os dados de há dez anos. Em Angola, segundo a FAO, “23,9% da população passa fome”, o que equivale a que “6,9 milhões de angolanos não tenham acesso mínimo a alimentos”.
Marcos Nhunga sustentou que a constatação é diferente da que pode parecer. “Angola ainda tem alguma população considerável, que não digo que passem fome como tal, mas que está numa situação difícil. Exactamente por isso é que o governo quer melhorar e está a fazer intervenções no meio rural no quadro da actividade produtiva, para que possa resolver os problemas ligados à fome e à pobreza”, disse.
O que João Lourenço disse na tomada de posse
“V amos priorizar o sector social, com uma séria aposta nos recursos humanos. Esta é a única via, se pretendemos realmente tirar o país do lugar em que se encontra no que respeita a vários indicadores de desenvolvimento humano e de desenvolvimento económico.
A adopção de práticas correctas, seja no exercício público, seja no âmbito da sociedade, vai exigir das famílias, das escolas, das igrejas e das demais organizações da sociedade civil, o reforço dos valores morais, da coesão social e do patriotismo.
Para além da necessidade da erradicação da fome e do combate à pobreza através de um programa integrado, vamos lutar pelo empoderamento e apoio às famílias mais desfavorecidas, tendo em vista a ascensão social de um bom número de famílias angolanas, tanto no meio urbano como no meio rural.
Continuaremos a incluir na agenda governamental, a protecção e valorização das crianças e da juventude, a garantia da equidade do género, a valorização e protecção do idoso e dos antigos combatentes e veteranos da Pátria.
No domínio da habitação, prosseguiremos com a implementação do programa de fomento habitacional e vamos incrementar a aposta na construção dirigida, sobretudo em benefício dos jovens casais e dos jovens quadros.
Vamos trabalhar para garantir o pleno funcionamento dos hospitais e centros de saúde, com respeito pelos princípios éticos e pelos valores que devem nortear a deontologia profissional. O nosso objectivo será, para os próximos cinco anos, reduzir consideravelmente as actuais taxas de mortalidade e de mortalidade infantil, com o concurso das unidades sanitárias públicas e privadas, bem como com a reactivação do programa de educação para a saúde.
Vamos orientar o sector da saúde no sentido da criação de um sistema de avaliação de hospitais, centros de saúde e clínicas, feito por uma entidade independente, que nos permita passar a prestar aos cidadãos informação correcta a respeito da qualidade dos serviços de saúde em cada unidade sanitária.
O domínio da educação é aquele a que dedicaremos uma atenção muito especial, no quadro do projecto de capacitação dos quadros angolanos, de modo que possam competir com os demais. O Executivo continuará a encarar a educação como um direito constitucional, que deve ser garantido a todas as angolanas e a todos os angolanos.
Isso vai exigir de nós uma aposta clara e permanente na equidade do sistema de ensino, na educação pré-escolar, na qualidade do ensino primário, na qualidade do subsistema de formação de professores, na reforma do sistema de administração e gestão escolar, na reforma curricular tendo em conta as especificidades regionais e na valorização da carreira docente a todos os níveis do nosso sistema de educação e ensino.
O Executivo vai trabalhar no sentido de diminuir a taxa de analfabetismo e vai investir decididamente no ensino técnico-profissional e no ensino especial.
Estará no centro das nossas preocupações a necessidade de adopção de uma política de fomento do livro e da leitura, que inclua a isenção de direitos alfandegários e impostos na importação de livros escolares e dos destinados às bibliotecas.
O investimento na qualidade do ensino superior universitário e politécnico será outra grande aposta do Executivo nos próximos anos, com vista à criação de um modelo de ensino superior que esteja mais de acordo com as práticas universais.“