A agência de notação financeira Fitch desceu a Perspectiva de Evolução da economia de Angola, mantendo o país no nível B, abaixo da recomendação de investimento, com o “rating” de “lixo”, devido à lenta recuperação económica e ao aumento da dívida pública.
“A revisão da Perspectiva de Evolução da economia de Estável para Negativa reflecte a deterioração das métricas da dívida, a contínua queda das reservas externas e uma recuperação económica adiada e mais lenta do que o previsto”, escrevem os analistas na explicação que sustenta a acção de “rating”.
A Fitch mantém a opinião sobre a qualidade do crédito soberano em B, abaixo da recomendação de investimento, ou seja, “lixo” ou “junk”, como é normalmente conhecido.
“O nível de dívida pública continuou a aumentar de 80,2% do Produto Interno Bruto, em 2018, para 83,8% este ano, segundo as nossas previsões”, escreve a Fitch, notando que este rácio está “bem acima da média dos países com uma nota ‘B’, nos 59,1%.
O nível de dívida seria ainda maior se as contas da Sonangol (empresa âncora do regime) fossem incluídas, o que elevaria 88,8% este ano, diz a Fitch, notando que uma parte desta deterioração nas métricas da dívida “é o resultado da depreciação do kwanza, apesar de alguns dos riscos sobre a liquidez da moeda externa estão mitigados, de alguma forma, pelo facto de o governo receber a maioria das suas receitas em dólares”.
Há um ano (10 de Julho de 2018), embalada pelas promessas do Governo de João Lourenço e pela enciclopédia de promessas económicas, financeiras e políticas, a Fitch melhorou a perspectiva de evolução da economia de Angola de negativa para estável, mantendo o “rating” da qualidade do crédito soberano em B, abaixo do nível de recomendação de investimento.
“A revisão da perspectiva de evolução da economia de Angola de negativa para estável reflecte as melhorias na gestão do regime de câmbio e a adopção de uma ambiciosa agenda de reformas, que inclui ajustamentos nas vertentes monetária, orçamental e estrutural, que vão diminuir as vulnerabilidades externas e melhorar as finanças públicas”, disseram na altura os analistas.
De acordo com o relatório completo de “rating” sobre Angola, a Fitch manteve (apesar dos elogios) Angola no “lixo”, ou seja, abaixo do nível de recomendação de investimento, mas sobe a avaliação que faz sobre a direcção da política económica, o que significa que não antecipa eventos que possam fazer descer o “rating” do país. Enganou-se. Foi enganada. Confundiu a beira da estrada com a estrada da Beira.
“A revisão da perspectiva de evolução da economia de Angola de negativa para estável reflecte as melhorias na gestão do regime de câmbio e a adopção de uma ambiciosa agenda de reformas, que inclui ajustamentos nas vertentes monetária, orçamental e estrutural, que vão diminuir as vulnerabilidades externas e melhorar as finanças públicas,” idealiza então a Fitch.
Entre as principais e ingénuas (como tantas vezes escreveu o Folha 8) razões para a melhoria da avaliação do andamento da economia, a Fitch apontava os ajustamentos externos em curso, nomeadamente o fim da taxa de câmbio fixa, a melhoria do crescimento económico, ainda que limitado, e a retoma da consolidação orçamental, salientando que o sector bancário continua a ser uma fraqueza e que os factores estruturais do país são um constrangimento para a avaliação da qualidade do crédito.
“Os ratings de Angola estão constrangidos pela fraqueza estrutural, principalmente pelo fraco desempenho nos indicadores de desenvolvimento humanos e de governação e pelo mais alto nível de dependência de matérias-primas entre os países analisados pela Fitch”, escreveram os analistas no relatório completo.
A Fitch antevia na altura que o crescimento económico de Angola subiria de 2,3%, em 2018, para 2,5% em 2019, e que o défice orçamental diminua para 5,4% em 2018, depois de no ano anterior ter chegado aos 6,8%.
“A dívida pública aumentou para 66,6% do PIB no final do ano passado (2017), quando era de 50,7% no final de 2015″, lembravam os analistas, que antecipavam que a dívida pública chegaria a um pico de 67,5% no final de 2018 e depois começasse a cair a partir de 2019, para chegar a 2020 nos 58,7% do PIB.
A Fitch considerava também que o volume de dívida pública de Angola era sustentável a médio prazo, alertando, no entanto, para as dificuldades do país em servir a dívida durante o próximo ano (2019).
“Na opinião da agência de notação, a posição de Angola em termos de dívida externa a médio prazo é sustentável, ainda que em dificuldades. No entanto, cumprir os pagamentos da dívida durante o próximo ano (2019) será um desafio“, escreveram os analistas no relatório.
Entre as razões para a dificuldade em servir a dívida, para além do próprio volume, estavam (estão) “a falta de capacidade dentro do Ministério das Finanças, que foi responsável por pagamentos atrasados aos credores oficiais e o registo de erros administrativos noutros pagamentos”.
Folha 8 com Lusa