“Folha 8 – Resiliência em contexto de adversidade”

O “Folha 8” existe desde 1995. Se lhe pedíssemos, caro leitor, um depoimento sobre o nosso trabalho, o que nos diria? Foi essa pergunta que foi colocada a algumas personalidades do universo lusófono e que temos vindo a divulgar. Hoje publicamos a opinião de Paulo de Morais, presidente da associação portuguesa Frente Cívica.

Por Paulo de Morais

«O Jornal “Folha 8” tem-se constituído como a primeira consciência cívica de Angola. Ao longo do seu ainda jovem mas marcante percurso, tem sido no “Folha 8” que as poucas vozes livres de Angola podem exprimir desafrontadamente as suas opiniões e denunciar os desmandos de um regime que teima em não se democratizar.

Em Angola, há, formalmente, liberdade de expressão. Em teoria, os cidadãos podem exprimir a sua opinião. Mas não tem havido veículos para a expressão dessa opinião, para a divulgação de pontos de vista discordantes do poder vigente. A censura, por norma, exerce-se não sobre o emissor, mas sobre o veículo que transporta a sua mensagem “incómoda” para o regime. E o “Folha 8” assume-se como o único difusor das mensagens dissonantes, discordantes e livres de que Angola tanto necessita.

A leitura do Folha 8 (em papel e no site) é imprescindível para quem se queira inteirar sobre a verdadeira vida política e económica de Angola e das suas conexões com Portugal e com o Brasil. Só nas suas páginas encontramos a denúncia de um regime corrupto e dos seus principais malfeitores. Em particular em Portugal, tem sido através do “Folha 8” que os leitores puderam acompanhar as ligações do escândalo do Banco Espírito Santo a Angola, nomeadamente através do BES (Angola), da ESCOM e de outras entidades; também o envolvimento destes e de outros actores nos escândalos de corrupção no Brasil como o “Mensalão” e a “Lava-Jacto”; ou a preponderância da empresa brasileira Odebrecht em Angola.

Também só o “Folha 8” dá conta das ligações dos dirigentes angolanos a off-shores em múltiplas paragens, do Panamá a Hong-Kong, da praça Suíça aos fundos tóxicos americanos.

Todos estes temas sensíveis são apenas divulgados pelo “Folha 8”, censurados na restante imprensa angolana e até silenciados em muita da cúmplice comunicação social portuguesa.

Angola deve, nos dias de hoje, envergonhar-se da sua classificação relativa, como um dos países onde mais periga a liberdade de imprensa, segundo os indicadores facultados pela reputada organização “Freedom House”. Mas não só! Também o Índice de Democracia, elaborado pela Universidade de Gotemburgo e publicado recentemente, aponta como um significativo factor de risco os frágeis desenvolvimentos de Angola no que diz respeito à liberdade de expressão e liberdade de imprensa. Se há lição que podemos tirar da evolução histórica da imprensa e do jornalismo, é que não há democracias sem liberdade de expressão. Este é o princípio é fundamental para o exercício de todos os outros direitos cívicos.

Nesta matéria, na provisão aos seus cidadãos destes direitos fundamentais de liberdade de expressão e de informação, Angola tem um longo percurso pela frente. Que todos esperamos percorra nos próximos anos, para que finalmente o País possa ser uma democracia plena num país livre, tal como o sonharam os resistentes dos tempos da Guerra da Independência contra o regime ditatorial português.

Angola libertou-se duma ditadura europeia, a do regime de Salazar-Caetano, com o objectivo de se constituir numa democracia; e não o de se transformar numa ditadura africana, refém de governantes corruptos, como vem acontecendo. E como esperamos que deixe de acontecer.

Neste contexto que permanece até aos dias de hoje, o “Folha 8” tem sido pioneiro na mudança que vai ajudando a fazer, mas cujos resultados são ainda tíbios e precários. O percurso será longo, as dificuldades e os obstáculos imensos. Mas estou certo que a vontade férrea continuará a ser a marca do “Folha 8” nos próximos tempos. Vontade que resulta das convicções dos seus dirigentes e jornalistas, que estão acompanhados de muitos colaboradores – todos irmanados na defesa da Liberdade e da Democracia de que Angola tanto necessita.

À Direcção do “Folha 8” – em particular aos combatentes William Tonet e Orlando Castro – todos devemos uma homenagem pelo esforço que vem desenvolvendo para que Angola se vá tornando (muito lentamente, com pena nossa), um país mais livre. E se Angola ficar mais livre, o mundo estará melhor.»

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