A consultora Fitch Solutions arrasa a governação de João Lourenço. Considera que o ambiente empresarial a curto e médio prazo vai continuar difícil para as empresas em Angola, afirma que há falta de energia, água e combustíveis e garante que a desigualdade e os altos níveis de pobreza são factores que contribuem para o elevado nível de crimes. Por sua vez, os economistas da Bloomberg agravam previsão de recessão em Angola para 0,6%. Nada de preocupante. Angola vai aos mercados buscar até 3 mil milhões de dólares.
“A ngola tem uma classificação de 32,4 pontos num total de 100 relativamente ao Risco Operacional, o que coloca o país no 11º lugar de 13 países da África Austral analisados e na 169ª posição entre os 201 países analisados a nível mundial”, lê-se no relatório sobre o Risco Operacional de Angola da Fitch Solutions.
No relatório, enviado aos clientes e sem que – como exige o MPLA – tenha sido feito o… contraditório, os analistas desta consultora detida pelos mesmos donos da agência de “rating” Fitch escrevem que “os negócios em Angola vão continuar a enfrentar um ambiente operacional desafiante a curto e médio prazo, devido aos desafios económicos que foram exacerbados pela seca e pelo declínio da produção de petróleo, o principal pilar da economia”.
As significativas faltas de divisas externas, que contribuíram para o aumento da inflação e redução das importações, bem como uma subida dos custos de financiamento para as empresas e os consumidores, vão fazer com que esta situação se mantenha bem para lá de 2020, acrescentam os analistas, notando também as deficiências logísticas do país. Mas então o que é que a Fitch Solutions quer? Esquecem-se que o MPLA só está no governo há 44 anos dois dos quais sob a emérita liderança de João Lourenço.
“As operações empresariais enfrentam deficiências estruturais no ambiente logístico do país que vão manter o investimento no sector não petrolífero significativamente prejudicado pela falta de energia, água e combustíveis, num contexto de lentidão das reformas e dos esforços de diversificação”, afirmam.
Falta de energia? Falta de água? Falta de combustíveis? Lentidão das reformas e dos esforços de diversificação? Onde é que os analistas da Fitch Solutions descobriram isso? Em Angola isso não existe. Basta ouvirem o Presidente João Lourenço que, aliás, conseguiu de um dia para o outro acabar com a fome.
A corrupção continua a ser uma preocupação, “exacerbada pelo forte envolvimento do Estado na economia, bem como por uma histórica falta de transparência”, concluem os analistas no relatório. Mas porque carga de chuva (que tanta falta faz no Sul do país) é que a corrupção é uma preocupação? Se Fitch Solutions analisar bem a questão verá que só há corrupção no seio do MPLA porque, aliás, faz parte da sua genética inculcada (contra a sua vontade) nos tempos em que Diogo Cão por cá andou.
Noutra frente, mas contígua, e de acordo com um relatório que apresenta os riscos operacionais em Angola para o primeiro trimestre de 2020, produzido pela Fitch, a história violenta de Angola, a desigualdade e os altos níveis de pobreza são factores que contribuem para o elevado nível de crimes com motivação económica no país.
Um risco “exacerbado pela falta de capacidade das forças policiais em investigar e lidar com o crime, por estarem mal equipadas, receberem salários baixos e serem consideradas altamente corruptos pela maioria da população”, indica o documento.
Angola – que está classificada em 10º lugar num conjunto de 13 países do Sul de África analisados pela Fitch quanto ao risco de vulnerabilidade ao crime, e em 11º no que respeita à criminalidade e delinquência – implica assim custos adicionais para as empresas que terão de gastar “recursos significativos” em medidas de segurança privadas para garantir a segurança dos seus trabalhadores e bens.
Segundo a Fitch, as empresas do sector logístico e de abastecimento enfrentam riscos particularmente elevados de roubo de mercados e perdas financeiras devido à subida da criminalidade, associada ao aumento dos níveis de pobreza e escassez de alimentos.
“Os altos níveis de pobreza, desigualdade e corrupção presentes no país, sugerem que a taxa de criminalidade aumentou nos últimos anos” o que, associado ao “passado violento do país e à histórica falta de responsabilização democrática entre as instituições do Estado” colocam riscos significativos para as empresas que atuam em Angola, continua a consultora.
A Fitch refere que Luanda é particularmente afectada pelo crime, indicando que os roubos praticados por motocicletas armados são comuns e apontado os riscos para os estrangeiros, que são frequentemente vistos como alvos ricos e, por isso, com maior probabilidade de serem escolhidos como vítimas.
O crime violento representa também uma ameaça às operações em Angola, pois embora as taxas de homicídio sejam relativamente baixas, em termos regionais, os conflitos separatistas no norte e as fronteiras relativamente porosas de Angola facilitam o acesso a armas de fogo que estão generalizadas entre a população.
Além disso, embora os grupos separatistas que actuam na província de Cabinda tenham como alvo preferencial as forças armadas angolanas e não as empresas, os investidores devem tomar precauções em caso de escalada de conflitos ou aproximação de um ataque.
Os riscos de criminalidade organizada são também altos, particularmente para empresas envolvidas em actividades de importação e exportação ou outras onde as mercadorias estão em circulação por longos períodos. O que se justifica em parte devido à incapacidade do governo de garantir a segurança marítima, especialmente na indústria de petróleo ‘offshore’, alerta a Fitch.
Os custos económicos do crime organizado em Angola são por isso percebidos como “muito altos”, colocando o país acima dos seus vizinhos, Namíbia, Botsuana e Zâmbia.
O crime organizado é particularmente prevalente entre alguns segmentos da população chinesa em Angola, refere o relatório, apontando os casos de gangues acusado de extorsão e ataques violentos contra trabalhadores angolanos, perante a impotências das forças policiais angolanas que esbarram na barreira da língua e na auto-suficiência de muitas comunidades chinesas.
A consultora alerta ainda para as alegações de corrupção em torno da polícia, salientando que “a coerção policial nas principais estradas urbanas é comum”, sendo os “trabalhadores estrangeiros frequentemente aconselhados a evitar o confronto policial” e associa as práticas de extorsão, o suborno e o crime aos baixos salários dos polícias e à fraca estrutura de comando destas forças.
Como se isso não bastasse, também os economistas da Bloomberg estão a dizer que Angola enfrentará uma nova recessão, este ano, de 0,6%, saindo dos crescimentos económicos dos últimos quatro anos em 2020, com uma expansão de 1,3%, que foi revista em baixa este mês.
Os nove economistas contactados regularmente pela agência de informação financeira Bloomberg agravaram a previsão de recessão deste ano para Angola, de 0,2% para 0,6%, descendo também a previsão de crescimento em 2020, para 1,3%.
Relativamente ao aumento dos preços, os nove economistas contactados pela Bloomberg também reviram em baixa a previsão de inflação, que está agora nos 16,5% face aos 17,4% esperados no mês passado. Para 2020 a previsão aponta para uma inflação de 14,9%, que compara com os 14% previstos em Outubro.
Coerente com a sua linha estratégica, o Governo prepara-se para angariar até 3 mil milhões de dólares nos mercados internacionais ainda este ano ou no princípio de 2020, tendo já reunido com investidores em Nova Iorque na semana passada.
Numa nota enviada aos clientes, o gabinete de estudos do Banco Fomento Angola diz que a equipa do Ministério das Finanças reuniu-se com vários investidores na semana passada em Nova Iorque, numa operação que será apoiada pelo Deutsche Bank, ICBC e Standard Chartered.
A autorização presidencial para esta emissão foi publicada a 7 de Novembro, e nela pode ler-se que “é autorizada a ministra das Finanças, no âmbito do Programa Global de Médio Prazo para a Emissão de Títulos de Dívida Soberana, a emitir títulos de dívida soberana nos mercados internacionais sob a forma de Eurobonds, até ao montante de 3 mil milhões de dólares [2,71 mil milhões de euros] ou o equivalente em outros moedas, em uma ou mais séries”.
A assunção de mais este encargo deverá elevar o rácio da dívida pública em mais de três pontos percentuais face ao Produto Interno Bruto (PIB) de Angola, que o Fundo Monetário Internacional estima que valha cerca de 90 mil milhões de dólares.
Ainda segundo os dados do FMI, divulgados em Outubro, este rácio deverá ficar, no final deste ano, nos 95% do PIB.
Folha 8 com Lusa