É imperativo Luso bajular,
mas só se o rei for do MPLA

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, elogiou hoje o contributo de Angola (na verdade ele gostava de dizer do MPLA, mas como sabe que o MPLA é Angola e Angola é o MPLA…) para a paz na região da África Central e salientou que a relação entre a União Africana e a União Europeia é “uma prioridade”. Assim como entre o PS e o MPLA, acrescente-se.

Em declarações aos jornalistas, após a abertura oficial da Bienal de Luanda – Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz, Santos Silva, lembrou que Portugal vai assumir a presidência da União Europeia no primeiro semestre de 2021, e salientou que a promoção da relação entre a União Africana (UA) e a União Europeia é “uma das prioridades”.

Considerou também que “a cultura de paz é uma dimensão essencial” nesta parceria e saudou “o contributo de Angola para a paz, estabilidade e segurança em toda a região de África Central”, nomeadamente as “iniciativas bem-sucedidas do Presidente João Lourenço”, que recentemente mediou um acordo entre o Uganda e o Ruanda. Dizia o mesmo no tempo de José Eduardo dos Santos, mas adiante…

O governante socialista português recordou ainda que África concluiu recentemente um acordo de livre comércio, a nível do continente, “um feito notável” que se inspirou no mercado único europeu, mas que “não é possível concretizar” sem um ambiente de paz.

No âmbito da agenda bilateral, Santos Silva terá, ao longo da sua visita de dois dias, um encontro com o seu homólogo, o ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, no qual serão abordadas questões relacionadas com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em particular o novo regime de mobilidade e circulação no interior do espaço lusófono.

Entre outros assuntos que vão ser discutidos está o programa de privatizações, apresentado em Agosto pelo executivo angolano, indicou, acrescentando que veria “com bons olhos” o interesse de empresas portuguesas no programa, como forma de fomentar as relações económicas com Angola, um dos “principais clientes” e segundo fornecedor de petróleo a Portugal.

“A relação económica é muito forte, há muito investimento angolano em sectores tão importantes em Portugal como a banca e há também investimento português em Angola, portanto é uma relação económica com muito futuro”, destacou o chefe da diplomacia portuguesa.

Santos Silva terá oportunidade de conhecer o novo ministro da Agricultura, António Assis, e fazer o ponto da situação de alguns projectos, entre os quais o Projecto de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola (FRESAN), gerido pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.

Portugal foi um dos 16 países convidados para participar na Bienal de Luanda, uma iniciativa que decorre até ao dia 22 de Setembro, tendo em destaque o tema da resolução de conflitos no continente africano.

A receita de João Lourenço

Por sua vez, o Presidente João Lourenço considerou a Bienal de Luanda um espaço para atrair parceiros dispostos a contribuir com fundos e recursos para a cultura da paz em África e nas diásporas africanas.

O chefe de Estado angolano, também Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, discursava na abertura da Bienal de Luanda-Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz, uma organização do Governo angolano em parceria com a União Africana e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

João Lourenço referia-se a empresas do sector público e privado, fundações e organizações filantrópicas, Governos, bancos de desenvolvimento, organizações internacionais, comunidades económicas regionais e comunidades linguísticas, que estejam dispostos a apoiar a cultura da paz em África e nas várias diásporas africanas.

Na sua intervenção, João Lourenço frisou que uma das grandes tarefas reservadas às lideranças do continente e aos diferentes actores da sociedade civil tem a ver com os objectivos da União Africana, na sua agenda para a promoção de uma cultura de paz e de não-violência denominada “Silenciar as armas até 2020”.

Segundo o Presidente angolano, este objectivo é aparentemente difícil de atingir, mas o legado deixado pelos líderes africanos, “que ergueram bem alto a bandeira do pan-africanismo e se bateram por todos os meios para a libertação da África do colonialismo e de outras formas de dominação”, constitui uma fonte de inspiração para os esforços conjuntos para pôr fim aos conflitos, que “lamentavelmente persistem no continente”.

“Importa encontrar soluções sustentáveis para muitos dos grandes problemas que África ainda vive, como a fome, a miséria, as doenças, o analfabetismo, as desigualdades sociais, o desemprego galopante, o terrorismo, que fomentam o tribalismo e xenofobia, dividindo os africanos, o que atrasa o harmonioso desenvolvimento dos países e o bem-estar das suas populações”, frisou.

Para o chefe de Estado angolano, a Bienal de Luanda — Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz representa um passo importante para o aprofundamento do conhecimento das diferentes realidades africanas, para a reafirmação da identidade africana, no plano cultural e artístico, e para uma “troca fecunda de ideias”, que concorram para o progresso e o desenvolvimento de África.

“Só com paz podemos realmente implementar a zona de livre comércio africano, só com paz o continente pode atrair o investimento privado estrangeiro, industrializar-se, passando a acrescentar valores aos seus principais produtos de exportação”, disse.

Numa mensagem mais directa aos jovens, o Presidente angolano apelou ao uso consciente das redes sociais, porque já ficou demonstrado em vários países o perigo que representam “quando utilizadas para desinformar e alterar a realidade dos factos, com o objectivo de criar convulsões sociais, como meio de pressão para a remoção do poder de Governos legitima e democraticamente eleitos pela maioria dos cidadãos eleitores”.

Estaria a pensar no que se escreve sobre o genocida Agostinho Neto e o seu papel nos massacres de 27 de Maio de 1977? Ou nas monumentais aldrabices sobre a Batalha do Cuito Cuanavale? Ou nos 500 mil empregos que prometeu criar? Ou nos nossos 20 milhões de pobres? Ou, ou, ou…

“A crescente importância das redes sociais no seio da juventude deve ser aproveitada, sobretudo para o reforço da cultura da paz e da não-violência”, ressaltou João Lourenço, fazendo lembrar as aulas de “Educação Patriótica” do MPLA.

A cerimónia de abertura da bienal contou com a presença dos Presidentes da Namíbia, Hege Geingob, e do Mali, Ibrahim Keita, a directora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, o Prémio Nobel da Paz 2018, Denis Mukwege, entre outras entidades.

Folha 8 com Lusa

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