Donos do (nosso) petróleo têm lata de falar de arroz

A França, tal como a Itália, pretende apostar “fortemente” no sector agrícola em Angola para apoiar a política de diversificação económica angolana, disse o embaixador francês em Luanda, lembrando os créditos disponibilizados por três agências de cooperação gaulesas.

O embaixador francês em Angola, Sylvian Itté, que falava no encerramento do Fórum Angola/França, promovido pelo Clube de Empresários franco-angolano, lembrou que está disponível para apoiar projectos um montante de 1.500 milhões de euros por parte do Banque National de Paris (BNP), Banco Público de Investimento de França (BPIFRANCE) e Société Général.

Segundo o diplomata francês, as linhas de crédito estão disponíveis para investidores franceses ou angolanos, o que permitirá a realização de vários projectos privados em várias áreas, pondo de parte o domínio dos petróleos e gás.

Para salientar a importância que Paris está a dar ao sector agrícola em Angola, Sylvian Itté anunciou a vinda a Luanda, em Abril, do ministro da Agricultura e Alimentação francês, Didier Guillaume, que analisará com o homólogo angolano, Marcos Nhunga, a definição de projectos concretos já em estudo apresentados por duas comissões de trabalho.

Depois de terem sido assinados acordos oficiais nos sectores da agricultura e turismo, durante a visita, em Maio de 2018, do Presidente angolano, João Lourenço, a França, e Sylvian Itté indicou que serão realizados fóruns agro-industriais e agrícolas, estimando-se a participação de 20 a 30 empresas francesas.

Por seu lado, o ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social angolano, Manuel Nunes Júnior, presente no Fórum, indicou que Angola está a contar com a ajuda do Governo francês para edificar uma economia “forte, menos dependente do petróleo, competitiva e capaz de gerar prosperidade”.

Admitindo que as relações de cooperação entre os dois países “estão actualmente muito focadas no sector do petróleo e gás”, Manuel Nunes Júnior recebeu com agrado a intenção de Paris de apostar em força na agricultura em Angola, “país com solos férteis” e que pretende alcançar a auto-suficiência alimentar.

Nunes Júnior pediu também que França invista em Angola noutros sectores, como os da agro-indústria, indústria transformadora, transportes, finanças, saúde, pescas, turismo e construção no quadro da diversificação da economia.

Outra área tida como “especial” é a da Educação, tendo o ministro de Estado angolano destacado o papel importante que a França pode desempenhar na melhoria da qualidade do sistema de ensino no país.

Em Angola, a França tem uma forte presença no sector dos petróleos, através da multinacional Total, a maior operadora a explorar no offshore angolano, com produção de 700 mil barris/dia.

Quem esta no Poder é sempre bestial

Recorde-se que o Presidente francês, Emmanuel Macron, manifestou a 28 de Maio de 2018, em Paris, “todo o apoio às reformas iniciadas pelo Presidente” João Lourenço, no primeiro dia da visita oficial do chefe de Estado angolano a França. O mesmo tinha feito François Hollande em relação a José Eduardo dos Santos.

“Dou todo o meu apoio às reformas iniciadas pelo Presidente Lourenço. A luta contra a corrupção, a facilitação de vistos para os empresários, homens de negócios ou assalariados e a reforma do quadro do capital da economia que permite limitar os constrangimentos e abrir a economia angolana a parceiros, investidores e actores económicos estrangeiros, a meu ver vão na boa direcção”, afirmou Emmanuel Macron.

O Presidente francês destacou que esse é o caminho para “melhorar o crescimento do país, criar mais oportunidades e mais emprego e acelerar a diversificação da economia que é indispensável nos próximos meses e anos”.

As declarações foram feitas após a assinatura de quatro acordos de cooperação no domínio da defesa, da agricultura, da economia e da formação de quadros, acordos que, no entender de Emmanuel Macron, “vão levar a um maior empenho da França” em Angola.

Emmanuel Macron indicou, por exemplo, que na sequência de um acordo assinado em Março de 2018, a Agência Francesa de Desenvolvimento iria investir, numa primeira etapa, 100 milhões de dólares no domínio da agricultura e dar uma subvenção de 500 mil euros para a identificação de novos projectos.

O Presidente francês também disse que foram assinados acordos no sector petrolífero e sublinhou que o encontro do Presidente de Angola com 80 empresários franceses no MEDEF Internacional (Movimento das Empresas de França) vai nesse sentido.

Emmanuel Macron declarou-se “muito sensível” por João Lourenço “ter escolhido França para primeiro destino na Europa desde a sua eleição”, manifestou-se “muito empenhado no reforço das relações entre França e Angola” e disse que se trata de uma “etapa suplementar para reforçar a cooperação em todos os domínios”, incluindo o militar e de segurança marítima.

Em Abril de 2014 José Eduardo dos Santos visitou também França. Almoçou no Palácio do Eliseu com François Hollande, contando as crónicas que durante o repasto foi concluído o “armistício” entre os dois países e o reforçadas as posições francesas na economia angolana e não apenas no sector do petróleo.

Terá sido, de acordo com os relatos da imprensa, uma visita histórica que encerrou o caso “Angolagate” (venda de armamento russo a Angola, processos judiciais em Paris relativos a “infracções à legislação sobre as armas” e alegadas comissões ocultas a personalidades dos dois países).

A visita de José Eduardo dos Santos aconteceu depois de o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, se ter deslocado a Luanda e a seguir à conclusão, favorável a Angola, em 2011, do processo judicial em Paris (a “justiça” do MPLA não exigiu o envio do processo para Angola…) sobre o “Angolagate”.

Em termos políticos, diplomáticos e de segurança regional, a França contava e conta em África com Angola como aliado estratégico para controlar situações complicadas de crise na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo.

Foi igualmente dado um impulso para Paris reforçar posições em Angola no domínio da exploração do petróleo, energia, águas, transportes e finanças.

“Apesar dos fortes litígios políticos, jurídicos e diplomáticos que se verificaram entre ambos os países nos últimos anos, França manteve sempre, através da empresa Total, a maior fatia na exploração de petróleo angolano. A Total produzia, até agora, mais de 600 mil barris de petróleo por dia e pode passar a mais de 800 mil, em 2016, com a exploração de um novo projecto em Kaombo”, escrevia na altura o Expresso.

Folha 8 com Lusa

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