Cemitério de governadores

Ao lermos o requiem esganiçado do Wilson Adão sobre a procissão que conduziu o Rescova para o “cemitério de governadores”, na província de Luanda, vieram-nos à memória duas estórias do nosso percurso profissional, tragicómicas.

Por Domingos Kambunji

O João Esperto (nome fictício de uma personalidade real) teve sempre uma enorme capacidade para obedecer aos chefes. Estudou, estudou muito e conseguiu concluir com aproveitamento três mestrados e um doutoramento. Não aceitava que o tratassem pelo nome próprio ou por senhor. Exigia que se dirigissem a ele como o Doutor.

A sua capacidade para representar bem durante as entrevistas permitiu-lhe a oportunidade de ser nomeado para um cargo de destaque na Educação. “Todas as flores que tocava murchavam”. Assim, foi deslocado para diferentes ocupações, sempre exigindo que o tratassem por Doutor, até que, finalmente, pediu a demissão e foi para a reforma antecipada por incompetência, evitando que o demitissem (exonerassem como é moda em Angola).

A Carolina Siqueira (nome fictício de uma personalidade real) foi nomeada para um cargo de “chefe”. A descrição da sua actividade profissional exigia que desempenhasse funções de supervisão e de responsabilidade na realização de algumas actividades, em menor número, semelhantes às que efectuavam os seus subordinados. Na sua apresentação bangava sempre com os títulos académicos que conseguira e com o facto de ser chefe dos empregados A, B, C, D, E…

O tipo de empresa exigia uma gestão em que se deveria privilegiar a coordenação na supervisão dos trabalhadores em detrimento da chefia. No dia em que a C.S. iniciou as funções e tomou contacto com as primeiras tarefas que deveria executar rapidamente veio pedir ajuda aos subordinados para a ensinarem a trabalhar porque percebia nada do assunto. O seu conhecimento teórico não era suficiente para o sucesso na sua intervenção.

O Wilson diz que o Rescova não é muito jovem. De facto não é. Alguém que aos 38 anos ainda não demonstrou competência de liderança e espírito inovador não deverá esperar pelo dobro da idade para que isso aconteça. Nesse período de vida, o Rescova demonstrou ser apenas um fiel servidor do regime feudal do MPLA. Se tal não tivesse acontecido poderia ser considerado Revu e seria condenado a uma pena de prisão por se dedicar à leitura (tentativa de golpe de estado para derrubar o presidente).

O Wilson diz que o Rescova tem muita experiência política. Também o Nicolás Maduro da Venezuela tem muita experiência política… O Agostinho Neto também tinha muita “experiência política” quando deu ordens para fuzilarem muitas dezenas de milhar de angolanos no 27 de Maio. O José Eduardo dos Santos também tinha muita experiência política e quando abandonou o poder deixou Angola no lugar 141 em desenvolvimento, entre os países mais atrasados do mundo.

O Rescova foi deputado do MPLA do José Eduardo dos Santos durante 3 mandatos. O Bento Kangamba e o soba “Land Rover” também foram “eleitos” deputados do MPLA do José Eduardo dos Santos…

O Rescova foi membro do Conselho da Re(i)pública do José Eduardo dos Santos… Será esse elemento curricular, por si só, suficientemente elucidativo da enorme incompetência?

O Rescova foi membro do Comité Central e do Bureau Político do MPLA do José Eduardo dos Santos… Será esse desempenho uma nódoa demasiado evidente do cabritismo e do servilismo?

O Wilson demonstra uma enorme alucinação quando diz que o Rescova tem muita experiência política e conhecimento nos processos de decisão. Desde quando é que o Rescova esteve envolvido em processos de decisão quando quem decidia tudo era o Zédu, até quem deveria roubar mais? A República da Angola do MPLA foi e ainda é um país das “ordens superiores” e o Rescova foi sempre um servidor subserviente.

O Wilson diz que para se ser governador é necessário “ter peito”, porque Luanda é uma cidade onde todos mandam. Será que queria dizer que Luanda é uma cidade onde todos os dirigentes do MPLA roubam? As galinhas também “têm peito” e, pelo que se sabe, só puseram “ovos de ouro” para uma pequena minoria de dirigentes do MPLA e seus herdeiros.

O Rescova é professor Universitário… O João Pinto, mais conhecido por Doutor Atum, também é professor universitário e deputado. Essas são fasquias muito baixas em termos de prestígio curricular. Sem querer invocar o ranking mundial, ouvimos dizer que nenhuma universidade angolana está entre as melhores 100 universidades de África. Será verdade?

O Rescova é licenciado, mestre e doutorando em Direito numa dessas universidades de Angola que nem se consegue qualificar entre as melhores 100 universidades de África?!…

Todos nós sabemos como o Direito em Angola têm andado demasiado torto sob a governação do MPLA.

Se o Rescova foi nomeado para um cargo de Gestão e Administração de Empresas, com um curriculum académico de licenciado, mestre e doutorando em Direito, quando for exonerado irá exercer as funções de ginecologista, neonatologista, pediatra, fisioterapeuta, engenheiro químico, professor universitário de Física Quântica ou Ministro dos Satélites Angolanos Surdos e Mudos?

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