Carta aberta (também ao diálogo) do líder da FLEC

«Faço-o, na qualidade de Presidente da Frente de Libertação do Estado de Cabinda – FLEC, e de Comandante Supremo das Forças Armadas de Cabinda – FAC. A nossa vontade e determinação, para a tão nobre causa, abraçada há 45 anos de armas na mão, lutando pela autodeterminação do Povo de Cabinda, impõe-nos responsabilidades acrescidas, tendentes de encontrar soluções, alternativas para viabilizar as aspirações do nosso povo.

Por Emmanuel Nzita
Presidente da FLEC-FAC e Comandante Supremo das FAC

Aos poucos, o ecoar da voz da razão começa despertar, e a levar o Mundo a interpretar e entender a génese do nosso patriotismo, a razão da nossa força contra a força que nos opomos político militarmente, com os parcos meios ao nosso alcance.

Por mais que matemos ou morremos, jamais se encherão as covas, nem faltarão espaços para as trincheiras e, a nossa razão sempre rejuvenescida, não encontrará espaço para a sua sepultura em Cabinda, onde a força está condenada à morte, não obstante emprego de meios de bélicos modernos.

Factos da História antes, durante e depois das Grandes Guerras do séc. XX, continuam a marcar os títulos e páginas dos jornais, subentendendo que, um acordo em fracos e poderosos, é sempre uma vitória para as partes beligerantes, pois abrem o caminho da Paz, da Irmandade e da Concórdia, rumo ao Desenvolvimento.

Os factos, para o serem, devem ser respeitados, estimados, considerados, cumpridos e honrados, para nunca mais se repetirem.

Os factos do nosso “statu quo”, aos olhos do Mundo, estão identificados, pois já não constituem dúvidas para ninguém.

Conselhos agora, surgem de todo o lado, para que uma solução viável, seja encontrada no seio do Movimento Cabindês, perante realidade Político-Militar, entre os Estados de Cabinda e de Angola, à luz da Verdade, da Ética e da Justiça, que configuram o Direito Internacional.

Somos abordados para uma solução, ainda que, alternativa à partida, no quadro de um processo de Coordenação e Acertos, com o poder político vigente.

Concordamos sim, coordenar os acertos necessários e, sempre nos predispomos para um diálogo com o Governo angolano, franco, honesto e aberto, com uma agenda definida e um interlocutor emergido da nossa concertação, sem ingerências nem influências de espécie alguma.

Caros compatriotas,

Estamos perante mais um desafio, para o qual gostaria de contar com todos os líderes das Organizações de e para Cabinda, nas distintas qualidades e títulos respectivos, para pormos de lado as nossas diferenças, politicas, crenças e etnias e, unirmos os nossos esforços e sabedoria, para que Deus nos assista e nos guie, na busca de soluções válidas para o nosso objectivo comum, pelo qual temos lutado Político-Militarmente, desde 1963, de alcançar a Paz para o povo de Cabinda, de Miconje ao Yema e, de Massabi ao Zenze do Lucula.

Os nossos antepassados deixaram-nos um legado memorável, ao convidarem Portugal e, dele ser um Protectorado, estatuto que nos serviu de partida, para o trilho da marcha que prosseguimos, lema orientador, sem o qual o nosso caso, estaria perdido.

As suas memórias, são sempre veneradas enquanto a luta continua, na senda da qual uma luz começa a cintilar, para que a Paz e a Felicidade, não sejam madrastas para o Povo de Cabinda e seus filhos, mas atributos para viver em segurança num ambiente de prosperidade, na sua Terra, sua História e sua Cultura.

A luta de libertação de Cabinda não é monopólio de alguém, nem deve ser uma base de desavenças entre os filhos de Maloango, Macongo e Mangoyo. É um projecto dos nossos antepassados, continuado por Luís Ranque Franque, Nzita Henriques Tiago e Eduardo Sozinho e, que nós retomamos, missionários, militares, políticos e civis, no interior e na diáspora.

A ONU, OUA-UA,UE, Portugal e o Vaticano, conhecem a nossa realidade, desde Protectorado – 1885, Colónia – 1933, 39° Estado africano a descolonizar – 1963, Acordos de Alvor – 1975, Dec.458ª – 22 Agosto 1975, Província de Angola – 1975 e, todas as metamorfoses políticas, sofridas, numa verdade histórica, política, jurídica e cultural, confluída no processo da descolonização do Ultramar Português e que nunca passará despercebida do Mundo da Ciência e do Saber, que clama os seus incontornáveis subsídios, em todas as variáveis.

Caros compatriotas,

Tenho o dever moral de assim proceder, na qualidade e posição já referenciadas, por julgar ter a voz para desmobilizar as FAC que, nas matas se batem com muito sacrifício na terra ocupada, desde 1975, sem qualquer desprimor à luta conjunta, nem exclusão e reconhecimento de todos os esforços, pela terra que nos orgulhamos, apelando aos maus dizeres de uns, de que usamos a FLEC para os nossos interesses, enquanto outros edificando os alicerces sobre a área, aceitam ser satélites do adversário, para nos destruírem.

Chegou o momento de nos definirmos, se continuamos ou não o “statu quo”, num encontro onde “ninguém pode sobre nós, só connosco” e, de viva voz esclarecermos e clarificarmos definitivamente, sobre o nosso futuro.

Aos Deputados de Cabinda, no Parlamento, Ministros e Secretários de Estado no Governo, Membros no Comité Central e Bureau Político do MPLA e outros Partidos Políticos, Juízes e Procuradores, Diplomatas e Antigos Combatentes e Veteranos da Guerra, membros da Sociedade Civil e organizações religiosas, por favor, não fiquem indiferentes na emissão de opiniões. Está em causa o nosso futuro, como homens livres.

Esperemos tão-somente, que as Forças da Defesa e Segurança angolanas, não nos oprimam, na passagem desta mensagem, sob a pena de serem levantadas situações contrárias ao objectivo.»

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One Thought to “Carta aberta (também ao diálogo) do líder da FLEC”

  1. YG

    Pensamos ser o momento apropriado para se encontrar uma soluçäo viàvel sobre o Cabinda. Näo vamos eternizar a situaçäo em Africa, como Israel/Arabe, na Palestina. Dar à César o que é do César e à Deus, o que é de Deus. Afinal qual é o interesse naquela terra, o petroleo? Angola tem petroleo em toda a parte. Para quê nos matarmos so, por causa de riquezas que väo ficar? Os marimbondos sim, estes devem saber que cometeram, ao fazer parar o pais, com o dinheiro guardado nas quintas e nos bancos do mundo, a enriquecer àqueles que nunca väo trazê-lo de volta. Deveriam colocar o dinheiro nas bolsas e ganhar seus dividendos. Duvido muito que alguém venha devolver o dinheiro à Angola. Arranjemos outras historias e outros assuntos. E tal dinheiro levado, era na sua maioria, derivado da venda do petroleo. Por isso devolvem a soberania dos outros e vivemos como irmâos que também têm o direito de ser livres.

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