Burrocracia económica é crime contra angolanos!

O angolano acorda a cada dia que passa mais triste. Triste por o sol da manhã, não brilhar, nem na janela, dos que a têm… Triste por não saber contar as estrelas (que lhe disseram ser do Povo) à volta dos cometas. E, nesta maré, emerge a desolação, por nem o poder da Lua Minguante se poder conjugar, hoje.

Por William Tonet

O desespero invade o âmago do autóctone, quando ainda ontem, a maioria, além da maioria bajulante, acreditava numa transição presidencial capaz de capitalizar o melhor e o pior do antes, para potenciar as sinergias de cada um, visando a construção de uma nova aurora.

Infelizmente, o homem da vez, o novo Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, quando em 2017 ascendeu ao poder, hasteou a bandeira da esperança e do combate à corrupção, mas ao rodear-se de “soldados da fortuna” (mercenários em tradução livre mas empírica) e impreparados, ao invés de um estado-maior, político, social e económico de inteligências, fez emergir a desilusão geral.

Em dois anos de poder (cerca de metade do mandato) a vida de uma criança pobre não pode ficar refém de meros discursos de intenção ou da magnanimidade das doações de fuba para fazer matete, no Kunene, quando o presidente se deleita com os golfinhos cubanos que, aliás, se alimentam melhor do que os povos cubano e angolano.

A heresia de marketing partidocrata, dos novos radicais do MPLA, destapa o desnorte programático de quem tem a obrigação de fazer melhor, com os recursos do Estado, mas que, pela crónica falta de capacidade de planificação, visando uma melhor distribuição de renda individual, em função da renda geral do país, serve-se, aboletada e criminosamente, quando deveria viver para servir. E assim sendo, e assim é, não serve para viver.

Afinal, quem tanto hasteou a bandeira da luta contra a corrupção, pensando ser esta uma luta contra o passado, crucificando, exclusivamente, a ala de Eduardo dos Santos, não tendo o condão de dignificar a Constituição e a Lei, não conseguiu mais do que meter medo e afastar o DINHEIRO das relações comerciais, retrair o empresariado e impulsionar a emigração de muitos jovens descrentes.

O combate à corrupção exigia e exige um “deadline”, uma linha divisória entre o passado e o futuro, porque aquele não volta e o outro é (ou deveria ser) o berço da institucionalização da ética e da moral dos agentes públicos e a mola inspiradora das futuras gerações.

Quando o MPLA de Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, o mesmo MPLA de João Lourenço, que nos (des)governa, exclusiva e egoisticamente, faz 44 anos, cria alas e diz que uns são mais corruptos do que os outros, ou seja, CORRUPTOS BONS (JLo) e CORRUPTOS MAUS (JES), não está a combater um cancro que dilacera o país, retirando educação, saúde e trabalho ao cidadão, mas a dizer que vai perpetuá-la.

A estratégia montada pelos soldados de João Lourenço não foi, nem é, a mais inteligente e avisada, pois denota muita raiva e ódio (ambos mesquinhos e próprios de seres moralmente menores), não cimentando a pretensão de aparecer como um grande líder. Líder que não se faz por decreto, líder que mande pelo exemplo.

Têm legitimidade de o querer e o visado de o ser, mas sendo discriminador, torna selectivo o combate, ele não alavanca credibilidade, nem investimento externo e interno, por não parecer justo, mesmo para os seus adversários que o queiram converter, amanhã, num reles ditador de esquina, que se aliou as quadrilhas de gatunos, para os acusar de ladrões.

Então o que fazer? Ser diferente dos outros ditadores, repelindo todos os disfarces e máscaras e recuperar o tempo perdido, pois na ânsia de acreditar que seria possível assassinar de vez José Eduardo dos Santos, a sua máquina converteu-se na maior agência de publicidade que “canonizou”, em menos de dois anos, o antigo ditador, que é o político, mais referenciado, face à crise económica e falta de soluções, junto das populações pobres.

“José Eduardo era mau, roubava, com toda a sua gangue do MPLA, mas deixava-nos trabalhar, deixava-nos viver” é a frase mais ouvida, nos mercados, nos candongueiros, nas zonas pobres, tudo isso graças à equipa de João Lourenço, que não tem visão política, mas vaidade barroca, que arruína o país.

É preciso e urgente um Pacto de Regime, institucionalizando, como ousadia, por exemplo, uma Assembleia Constituinte Multipartidária, de carácter paritário, entre as forças políticas e a sociedade civil, dirigida por um quadro apartidário e de reputada idoneidade, com o objectivo de alterar a Constituição, repondo as cláusulas pétreas violadas em 2010, devolver o semi-presidencialismo, como forma de haver pesos e contra-pesos, alterar o objecto da Comissão Eleitoral, tornando-a verdadeiramente independente, reformular o Ministério Público, despartidarizar o sistema judiciário, bem como elaborar uma legislação robusta de combate à corrupção, passando por uma forte moralização dos futuros agentes públicos.

É urgente acabar-se com a baderna instalada na política institucional, que não inspira confiança, pelo contrário, ela está a alavancar um fenómeno perigoso, que é o racismo directivo, mostrando que eles, na verdade, não são como nós, pois aproveitam-se das minorias para os seus caprichos umbilicais e das maiorias, única e exclusivamente para fins eleitorais.

É avisado apontar o governador da Huíla, Luís Nunes como exemplo de governação, sendo ele empresário, maior empreiteiro a trabalhar para o Estado, membro do bureau político do MPLA, pelo que está a fazer na província (não está em xeque se bem ou mal), com as suas empresas, numa promiscuidade, público-privado, onde ronda o espectro da sobrefacturação?

A riqueza de Luís Nunes sempre foi questionada pelo tráfico de influência, agora conclamar os demais governadores provinciais a trilharem o mesmo caminho de comerciantes e empresários no Estado, não afastará do MPLA o ADN da corrupção, pelo contrário, haverá sempre alguém do Uíge, para o bem ou para o mal, verdade ou mentira, a lembrar-lhe que o novo secretário-geral do MPLA foi premiado, em função de uma governação incompetente e de se ter apoderado, ilicitamente, de bens móveis e imóveis da província. As denúncias não foram alvo de investigação, pelo que vigora, contra o visado a presunção de inocência.

Povo morre de fome, dirigentes ostentam riqueza

O peculato, o nepotismo e a corrupção, nunca foram tão noticiados, na comunicação social pública, que antes idolatrava Eduardo dos Santos, com o referencial de Nobel, cunhando-o, agora, “lourencinamente” com os mais abjectos impropérios, indiferentes a eventuais desvios e despesismo nos corredores do poder vigente.

Se os olhos vissem o aprovado, os critérios e onde se dirige o dinheiro que se nega aos mais necessitados, os pobres de que se envergonha, quem os remeteu na condição, seguramente, a indignação mereceria manchetes. Mas como os “Manuéis” da esquina agora se postam, na esquina do Manuel, mostram como se “camaleonam” contra o direito de uma informação plural ao cidadão.

Ademais, quando um jornalista não se indigna, ao ver ser negado a milhões de pobres, cerca de 2.5 milhões de dólares, para a construção de furos de água, que iriam debelar a seca, a má nutrição e as mortes de crianças, jovens e velhos, mas em contrapartida, abre com pompa e circunstância noticiários, comunicando a afectação de 5.6 milhões de dólares para a aquisição de 82 viaturas, das tropas da Guarda Presidencial, o cidadão pergunta, em que país estamos e que tipo de combate contra a corrupção se quer empreender…

Eu, no lugar do Presidente da República, mandaria importar peças de reparação, que não chegariam ao 1.200 milhões de dólares, com o benefício de empregar antigos combatentes e milhares de mecânicos das Forças Armadas, oferecendo-lhes esta nobre empreitada, que era rotineira no exército colonial, fomentaria, ainda, as pequenas indústrias de fabricação de peças e sobressalentes, com retorno de capital.

Quando a equipa económica não aconselha João Lourenço à contenção financeira, está a ajudá-lo ao suicídio, no curto reinado, com prejuízos incalculáveis, pois quando se assiste impávido e sereno, à “burocracia económica”, aumentar o preço da luz, combustíveis, água e lixo, para gáudio do FMI, não espanta que esta organização, corporizando o seu racismo natural, contra países africanos e subdesenvolvidos, liderados por líderes fracos e subservientes, aplique medidas económicas drásticas, cujas consequências são sempre imprevisíveis.

Infelizmente, houvesse ousadia cidadã, para se investir 6 milhões de dólares em poços de água, motobombas, para irrigação do campo e o Fundo Monetário Internacional rejeitaria, mas não o faz, quando o mesmo montante é aplicado nas forças armadas para proteger, quem eles acreditam defender os seus interesses imperiais de eterna dependência.

Quando um dirigente esquece que as horas, os minutos e os segundos, têm menos pressa que a fome, não se podem espantar a força do estômago, na liderança de uma revolução contestatária.

Nunca me opus e acredito que a maioria dos cidadãos também, à necessidade de um sério combate à corrupção mas a actual estratégia contabiliza uma série de tiros nos próprios pés, por falta de norte, com a agravante de os “soldados da fortuna” por não saberem ler a bússola, terem uma cartilha de raiva e ódio, caiem em campos minados, valorizando, para o mal ou para o bem, o bastão de 38 kg, que diziam querer combater.

É isso que está a matar a esperança do pobre, do professor, do intelectual, do empreendedor, do empresário, em João Lourenço, cada vez mais refém dos interesses dos bancários nacionais e internacionais, autênticas sanguessugas da economia e povos autóctones.

Foto: A natureza tem mais encanto quando o Presidente de Angola, João Lourenço, nada junto dos nossos 20 milhões de pobres. Perdão, quando nada junto dos golfinhos em Cuba.

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