Turismo sobre carris

Angola recebe dentro de uma semana o primeiro comboio turístico, proveniente de Dar Es Salaam, Tanzânia, que traz ao país mais de 100 turistas estrangeiros para uma estada de oito dias, num itinerário promovido pela sul-africana Rovos Rail.

Esta actividade foi hoje anunciada em conferência de imprensa pela coordenadora da Benguela Turismo, Rebeca Barreiros, e responsáveis do Ministério da Hotelaria e Turismo de Angola.

O comboio chega a Angola, entrando pela fronteira do Luau, província do Moxico, no dia 26 de Julho, com 53 turistas norte-americanos, suíços, australianos, belgas, neozelandeses, holandeses e sul-africanos, que pagaram pacotes turísticos entre 12.000 a 25.000 dólares (cerca de 10.700 a 13.360 euros).

Assim, Angola poderá encaixar entre 20 e 25 % do valor (de 12 a 25 mil dólares) que cada turista pagou para estar a bordo do primeiro comboio de luxo do operador turístico sul-africano Rovos Rail, que partiu a 14 de Julho de Dar Es Salaam, na Tanzânia, com destino a Angola, no âmbito de um safari de comboio transafricano denominado “Os dois oceanos”.

“Angola ganha muito do ponto de vista económico, porque para participar nesta viagem de 12 dias de comboio, o valor que os turistas pagam serve para alimentação e todo apoio necessário”, esclareceu, em Luanda, em conferência de imprensa, a coordenadora do escritório da Agência Benguela Turismo/Alive Travel, Rebeca Barreiros.

Rebeca Barreiros disse que o grupo chega a Angola a 26 deste mês (Julho), num comboio de luxo, similar a um hotel de 5 estrelas sobre carris, acrescentando que no primeiro grupo chegam 54 cidadãos e os outros 53 embarcam no Lobito em direcção à Tanzânia.

Com dez carruagens luxuosas apinhadas de turistas sul-africanos, norte-americanos, ingleses, suíços, holandeses, australianos e neozelandeses, o comboio vai entrar pela Zâmbia e atravessar a República Democrática do Congo, antes de chegar ao Luau, na fronteira de Angola.

Na conferência de imprensa, o director nacional de Infra-estruturas e Produtos Turísticos, Afonso Vita, disse que o sucesso para operações desta natureza conta com a intervenção da comissão de apoio aos navios cruzeiros que escalam o país, como o Ministério da Defesa, Cultura, Interior, através do Comando Geral da Polícia e o Ministério da Saúde.

“Angola como país ganha muito, tendo em conta as visitas que os turistas vão fazer. Passarão uma noite nos nossos hotéis. Este é o primeiro comboio turístico e ao chegar ao país vai divulgar a nossa imagem”, frisou.

Por seu turno, o director nacional da promoção turística, Lukeni Araújo, referiu que, com a chegada dos turistas, está a ser feito um esforço grande por parte do Executivo angolano para garantir que todas as condições estejam prontas para ter um turismo de sucesso.

Adiantou que os turistas embarcaram em Dar Es Salaam, acompanhados por mais 35 pessoas do staff da Rovos Rail, a principal companhia de caminhos-de-ferro de luxo em África.

Depois, a carruagem exclusiva para turistas segue do Luau, no Moxico, com destino ao Lobito, na província de Benguela, percorrendo 1.334 quilómetros na linha do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB).

Estão previstas paragens ao longo da viagem, nomeadamente nas estações de passageiros do CFB no Luena, no Moxico, e na do Cuito, Bié, para os turistas pernoitarem no comboio.

Fevereiro de 2015

O presidente do Conselho de Administração do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), Carlos Gomes, afirmou no dia 12 de Fevereiro de 2015 que o regresso da ligação ferroviária entre o litoral e o interior de Angola iria incrementar as relações económicas com os países vizinhos.
O responsável falava à margem da viagem do designado “comboio inaugural”, que partiu nessa altura do Lobito com destino ao Luau.

Em causa estava a construção, reabilitação e prolongamento de uma linha com 1.344 quilómetros de extensão, erguida ainda no tempo colonial português, destruída durante a guerra civil angolana.

A obra, em várias fases, foi concluída em 2014, com o troço final, e esteve a cargo da empresa China Railway Construction Corporation (CRCC).

“É uma garganta da economia de Angola. Vamos fazer tudo para que o Caminho-de-Ferro de Benguela retome o seu papel inicial, de 1903”, disse Carlos Gomes.

É que esta ligação permitirá o acesso ferroviário da fronteira leste de Angola ao porto de Lobito, na província de Benguela, com acesso pelo interior à linha férrea da República Democrática do Congo e da Zâmbia, e esta por sua vez, futuramente, para Moçambique.

Desde 1982 que a ligação entre os dois pontos estava interrompida, retomando-se desta forma o papel do chamado “corredor do Lobito”, permitindo a exportação por via marítima destes países no interior do continente africano, como acontecia anteriormente, recordou Carlos Gomes, citado pela RNA.

A chegada do comboio ao Luau inseriu-se na visita que o então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, promoveu àquela vila da província do Moxico.

Esta fase do CFB foi um empreendimento público mas de concretização totalmente chinesa, desde o projecto à construção da linha e das 67 estações, além do fornecimento de material circulante, num investimento avaliado na altura em 1,83 mil milhões de dólares (1,61 mil milhões de euros).

O troço final da CFB, entre Luena e Luau, de 334 quilómetros e com sete estações, foi concluído em 2014 e esteve em testes até à partida do designado “comboio inaugural”, ligando dois extremos do país e transportando 250 convidados numa viagem que teve a duração de mais de 30 horas.

A ligação entre o Lobito e a cidade do Luena foi restabelecida em 2012, sendo o transporte de passageiros agora alargado até à fronteira. Esta linha deverá garantir o transporte anual de 20 milhões de toneladas de carga e de quatro milhões de passageiros.

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