A JLo (ou JES?) do Huambo

A governadora da província do Huambo, Joana Lina, procedeu hoje, terça-feira, à remodelação (refrescamento, para usar a terminologia de João Lourenço na sua mais recente alteração ministerial) do Governo do planalto central, com a exonerações em catadupa e, é claro, novas nomeação, visando – diz – conferir maior dinamismo aos órgãos da administração local do Estado.

Por despacho (uma espécie de decretos a nível local), cessaram as funções os administradores da Chicala-Cholohanga, Luís Sabino Manuel Sampaio, do Ucuma, Júlio Cabral Paulo, e do Londuimbali, Luís Garcia Caíca, bem como os adjuntos da Caála para área Administrativa e Técnica, Hermenegildo Chilemo Raul, e da Chicala-Cholohanga para área Financeira e Orçamental, Ana Tatiana da Silva Neto.

Igualmente foram exonerados os directores Júlio Tchimbilundo de Paiva (Desenvolvimento Económico e Integrado), Baúdlio dos Santos Baptista Vaz (Comércio, Indústria e Recursos Minerais), José Albano Canombo Manuel (Cultura, Turismo, Juventude e Desportos) e Cecília Domingas Campos (Ambiente, Gestão de Resíduos e Serviços Comunitários).

Nesta conformidade, foram nomeados Manuel Vitongue como assessor para área Económico do Gabinete da Governadora, enquanto que para os cargos de administradores municipais foram nomeados Celestino Mela (Londuimbali), Paulo Moma Kondomboke (Chicala-Cholohanga) e Hermenegildo Chilemo Raul (Ucuma), sendo que Abel Victor Tchissanga Lucamba, é o novo director do Gabinete de Registos e Modernização Administrativa.

Também foram nomeados como directores Angelino Edmundo Elavoco (Desenvolvimento Económico e Integrado), Benvindo Maria Kalukembe (Comunicação Social), César de Osvaldo Pakissi (Ambiente, Gestão de Resíduos e Serviços Comunitários) e Jeremias Piedade dos Anjos Nambongue Chissanga (Cultura, Turismo, Juventude e Desportos).

Entre outras, a governadora Joana Lina nomeou ainda os chefes do departamento de Comunicação Institucional e Imprensa; Comunicação Social; Assessoria Jurídica Contencioso; Gestão de Carreiras e Capacitação Técnica; Juventude e Desportos; Turismo; Cultura, Património Histórico e Comunidades Tradicionais; Acção Cultural e Administrativo do Gabinete de Inspecção.

Constam ainda, os chefes os departamentos de Inspecção e Controlo; Coordenação e Monitorização Municipal; Registo Eleitoral Oficioso e Recenseamento Militar; Modernização Administrativa e Gestão dos BUAP; Promoção do Emprego e Fomento do Empresariado; Educação e Ensino; Ciências, Tecnologia e Inovação; bem como de Inspecção do Gabinete provincial da Educação.

A província do Huambo possui uma extensão territorial de 35.771 quilómetros quadros e uma população de 2.519.309 habitantes, distribuídos pelos municípios do Bailundo, Caála, Chicala-Cholohanga, Cachiungo, Chinjenje, Ecunha, Huambo, Londuimbali, Longonjo, Mungo e Ucuma.

Numa célebre carta que Marcolino Moco escreveu no dia 29 de Novembro de 2009 ao seu camarada Dino Matross, a dado ponto pode ler-se: “Vocês não conseguem nem ter sentido de humor e um mínimo de informalismo, como a camarada Joana Lina, que quase não aceitou os meus cumprimentos, toda ela feita deusa de uma religião que eu não professo”.

Ao ataque… nem que seja em fuga

Depois de ter colocado Luísa Damião como vice-presidente do MPLA, João Lourenço pegou na ex-primeira vice-presidente da Assembleia Nacional, Joana Lina, e tornou-a a primeira mulher a assumir o governo da província do Huambo, em quase 44 anos de governação ininterrupta do MPA.

Joana Lina Ramos Baptista sucedeu a João Baptista Kussumua, que governava a histórica província do centro de Angola – palco de várias batalhas durante a guerra civil.

O ciclo de homens a governar esta província começou com o deputado à Assembleia Nacional Agostinho Ndjaka, da bancada do MPLA, entre 1976 e 1977, função que, na altura, se designava comissário e não governador.

Seguiram-se Pedro Maria Tonha Pedale (1978-1979), Santana André Pitra Petrof (1979-1982), João Ernesto dos Santos Liberdade (1982-1984), Marques Monocapui Wassovava (1984) e Marcolino José Carlos Moco (1984-1986).

A província do Huambo também foi governada por Osvaldo de Jesus Serra Van-Dúnen (1986-1991), Graciano Mande (1991-1992), Baltazar Manuel (1995-1997), António Paulo Kassoma (1997-2008), Albino Malungo (2009-2010), Fernando Faustino Muteka (2010-2014) e Kundi Paihama (2014-2016).

A nova governadora, natural de Kamabatela, na província do Cuanza Norte, exerceu, entre 1991 a 1997, a função de secretária de Estado e Promoção e Desenvolvimento da Mulher, sendo Ministra da Família e Promoção da Mulher em 1997/1998.

Está também envolvida no associativismo desportivo e social, tendo sido dirigente da Federação Angolana de Futebol, do comité olímpico e paralímpico, do comité da mulher rural e já presidiu à Mesa da Assembleia da Associação dos Economistas.

Por exonerar continuam os “governadores” da corrupção, da roubalheira, da cleptocracia, da bajulação etc. Mas estão na calha. Tudo indica que antes de completar 100 anos de governo (44 já estão) o MPLA vai conseguir substituir estes “governadores”.

Entretanto, o velho Jeremias continua sentado num adobe à porta da sua cubata, numa sanzala do Huambo, e a sorrir. Já não consegue chorar…

Enquanto isso, a má nutrição severa (em português corrente significa “fome”) causou de Janeiro a Maio de 2019 a morte de 73 crianças, em 1.341 casos registados, na província do Huambo. Comparativamente a igual período do ano passado é um aumento de 30%. Coisa pouca, dirá o MPLA ou Joana Lina.

De acordo com declarações prestadas no dia 8 de Julho à ANGOP pela supervisora de Nutrição no Planalto Central, Cármen Adelaide Agostinho Mossovela, no período em referência faleceram 73 crianças (embora sejam do Huambo presume-se que sejam… angolanas), por malnutrição severa (fome), de um total de 1.341 doentes atendidos pelas autoridades sanitárias locais.

A supervisora de nutrição mostrou-se preocupada com o aumento de casos provenientes, na sua maioria, das zonas rurais dos municípios do Huambo, Caála, Bailundo, Mungo, Cachiungo e Londuimbali.

Cármen Adelaide Agostinho Mossovela lembrou que durante todo ano de 2018, as autoridades sanitárias haviam registado 123 óbitos, de um universo de 1.632 casos diagnosticados.

A responsável apontou o desmame precoce do bebé, por negligência ou ignorância das mães, a carência dos alimentos, o consumo de produtos industrializados ao contrário dos naturais e a guarda do menor por uma outra pessoa, como sendo as principais causas da malnutrição

Deste modo, quase parecendo acreditar (ou será que acredita mesmo?) que Angola é um Estado de Direito, Cármen Adelaide Agostinho Mossovela apelou às mães a cumprirem com as regras de aleitamento materno, que deve ser obrigatório e exclusivo nos primeiros seis meses e, posteriormente, introduzir outros alimentos, em prol do desenvolvimento saudável da criança, que, por sua vez, deve ser amamentada até aos dois anos de vida.

Não seria mau (mas isso o Governo não deixa que se diga) reconhecer que, num universo de 20 milões de pobres, as nossas crianças continuam a ser geradas com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com… fome.

Cármen Adelaide Agostinho Mossovela elucidou que o aleitamento materno, além de ser o melhor alimento para os bebés nos primeiros dias de vida, ajuda a prevenir o câncer da mama, referindo que, entre os sintomas da doença, destaca-se o emagrecimento excessivo, edemas nos membros inferiores, a falta de apetite e outros indicadores.

A província do Huambo conta com treze unidades especiais de tratamento de casos de malnutrição, instaladas nos 11 hospitais municipais, incluindo no central e no centro materno infantil do bairro da Chiva, arredores da cidade do Huambo.

Com 248 unidades sanitárias, sendo três hospitais de âmbito provincial, 11 municipais, 65 centros de saúde e 169 postos de atendimento médico, a província do Huambo, tem uma população estimada em 2.519.309 habitantes.

E assim vão os escravos do reino

Angola está com uma taxa de “desnutrição crónica” na ordem dos 38%, com metade das províncias do país em situação de “extrema gravidade de desnutrição”, onde se destaca o Bié com 51%”, anunciaram no dia 13 de Junho de 2018 as autoridades. Mais uma medalha para o MPLA, fruto de uma má governação que dura desde 1975.

A informação foi transmitida pela chefe do Programa Nacional de Nutrição de Angola, Maria Futi Tati, durante um seminário de lançamento da “Plataforma Multissectorial de Nutrição em Angola”, realizado, em Luanda, considerando a situação “muito séria e preocupante”.

“O grau de desnutrição, principalmente a crónica, a nível do país é muito sério. Temos que trabalhar bastante, estamos com uma desnutrição crónica com uma taxa de 38% e o padrão preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de menos de 20%”, disse.

De acordo com a responsável, “nenhuma das 18 províncias angolanas está em normalidade nutricional”, ou seja, “todas as províncias estão com problemas sérios de desnutrição”, demonstrando que “o país está mal”.

Que está mal já todos nós sabemos há décadas. Só o MPLA, que está no governo desde 1975 desconhece essa realidade. E desconhece porque é algo que não afecta os altos dignitários do regime.

As províncias do Bié com 51%, Cuanza Sul com 49%, Cuanza Norte com 45% e o Huambo com 44% são, segundo Maria Futi Tati, as que apresentam maiores indicadores de desnutrição.

“São cerca de nove províncias que estão em situação de extrema gravidade de desnutrição, sete províncias em situação de prevalência elevada e duas províncias em situação de prevalência média”, apontou.

Na ocasião, a chefe do Programa Nacional de Nutrição de Angola adiantou ainda que 64% das crianças angolanas padecem de “anemia grave”, porque “muitas vezes a criança já nasce desnutrida e depois alimenta-se mal, muitas vezes faz apenas uma refeição por dia e depois evolui para a anemia”.

Por alguma razão nós aqui no Folha 8 dizemos insistentemente que os angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem com fome.

Para (supostamente) inverter esse quadro, foi lançada a Plataforma Multissectorial de Nutrição em Angola, órgão que congrega diversos sectores ministeriais, Organizações Não-Governamentais e parceiros internacionais.

“No sentido de traçarmos estratégias e políticas que possam vir a melhorar o estado nutricional. Para isso vamos trabalhar, coordenando acções, porque as questões de nutrição não dependem apenas do sector da Saúde”, argumentou a responsável.

O quadro da malnutrição em Angola “deve envolver todos os actores, incluindo os políticos, pelo facto de o país ser ainda o terceiro da região austral do continente africano em situação de desnutrição crónica”, salientou Maria Futi Tati.

“E isto compromete o crescimento e desenvolvimento das crianças, que a maior parte das vezes vêm já afectadas a partir do ventre das mães e temos que olhar aqui também para as mulheres grávidas, melhorando a alimentação e o seu estado nutricional”, concluiu.

Por sua vez, o Secretário de Estado para a Saúde Pública, José Vieira Dias da Cunha, que discursava na cerimónia de abertura desse encontro, assumiu que a desnutrição crónica no país “é extremamente elevada”, defendendo a conjugação de esforços para a sua inversão.

“A situação da desnutrição no nosso país exige de todos nós muita atenção e dedicação, pois o bom estado nutricional e de saúde são factores incontestáveis para o desenvolvimento social e económico, portanto, a sua garantia advém de intervenções multissectoriais e de compromissos políticos assumidos”, afirmou.

Com a criação dessa plataforma, sublinhou, “devemos concentrar as nossas acções no desenvolvimento integral das nossas crianças que é um foco do Executivo”. Se é um foco do Executivo e os resultados são estes… estamos conversados.

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