A culpa é do mensageiro

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, negou este domingo a intenção de deportar o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, coautor de reportagens que colocaram em causa a imparcialidade da Operação Lava Jato, mas admitiu que possa ser preso no país.

Glenn Greenwald, jornalista a quem o ex-analista norte-americano Edward Snowden revelou os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana, é fundador e editor do portal de jornalismo de investigação The Intercept.

Recentemente, Glenn Greenwald e outros jornalistas têm vindo a revelar informações de um novo escândalo que ficou conhecido como “Vaza Jato”, que está a colocar em causa a imparcialidade da Lava Jato, a maior operação contra a corrupção já realizada no Brasil.

Durante uma entrevista dada este sábado aos jornalistas, no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro foi questionado sobre a possibilidade de Glenn Greenwald vir a ser deportado ao abrigo de uma portaria assinada pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, que permite a deportação sumária ou impedimento de ingresso de estrangeiros no Brasil, considerados “perigosos”.

“Malandro para evitar um problema desse tipo [deportação] casa-se com outro malandro ou adopta uma criança no Brasil. Ele [Glenn Greenwald] não vai ser, pode estar tranquilo. Talvez seja preso aqui, mas não lá fora”, declarou o chefe de estado brasileiro, citado pela agência Efe.

Jair Bolsonaro aludia ao facto de Glenn Greenwald ser casado com o deputado federal David Miranda, com quem tem dois filhos adoptivos.

Entretanto, estas declarações de Jair Bolsonaro já foram condenadas pela oposição e por associações de jornalistas, que as classificaram de “graves agressões à liberdade de expressão”.

Glenn Greenwald também já reagiu e afirmou que Bolsonaro “não tem poder para ordenar a prisão de ninguém”.

As reportagens do The Intercept sobre a Lava Jato começaram em 9 de Junho e desde então têm mobilizado a opinião pública no Brasil.

Baseadas em informações obtidas de fonte anónima, estas reportagens apontam que o ex-juiz e actual ministro da Justiça do país, Sérgio Moro, terá orientado os procuradores da Lava Jato, indicado linhas de investigação, cobrado manifestações públicas e adiantado decisões enquanto era juiz responsável por analisar os processos do caso em primeira instância.

Se confirmadas, as denúncias indicam uma actuação ilegal do antigo magistrado e dos procuradores brasileiros porque, segundo a legislação do país, os juízes devem manter a isenção e, portanto, estão proibidos de auxiliar as partes envolvidas nos processos.

Moro e os procuradores da Lava Jato, por seu turno, negam terem cometido irregularidades e fazem críticas às reportagens do The Intercept e seus parceiros (Folha de S. Paulo, revista Veja, El País e o jornalista Reinaldo Azevedo), afirmando que são sensacionalistas e usam conversas que podem ter sido adulteradas e foram obtidas através de crime cibernético.

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