O país dorme e acorda, cada dia, com o cidadão, principalmente os 20 milhões de pobres, mais sobressaltado, face à dramática situação económico-social e política. O pobre, o desempregado, o desmobilizado, os trabalhadores de salário mínimo, viram promulgado, pasme-se, nesta fase critica, um decreto de proibição de consumo, até, da carne mais barata: o frango!
Por William Tonet
De quem é a culpa? Quem é o culpado? O Titular do Poder Executivo?
Infelizmente a actual Constituição e o próprio sistema de governo endossa a paternidade e responsabilidade do descalabro da situação de inflação, depreciação da moeda, aumento do preço dos principais e básicos produtos alimentares, desemprego galopante, exclusivamente, ao Presidente da República, João Lourenço, que concentra todos os poderes do Estado, numa réplica fiel do autoritarismo absoluto.
Ninguém no seu juízo perfeito imaginou que, em dois anos, o Executivo fosse competente na insensibilidade e que se marimbasse quanto à subida, astronómica e, quiçá, criminosa, não da galinha, do frango, mas das suas partes, “xuxuadas” ou não, como, triste e revoltantemente se pode constatar, antes do famigerado IVA 14%:
a) caixa de coxa de frango = 7.100 à 10 mil Kwz;
b) caixa de patas de frango = 7 mil Kwz;
c) peito do frango = 4.800 Kwz;
d) miudezas de frango = 7.800 Kwz;
e) caixa de galinha rija = 11.500 Kwz.
Numa só palavra, os sofridos povos de Angola, estão proibidos de comer frango e se a opção for o peixe, a situação não é diferente:
a) caixa de carapau de 30kg = 26.000 à 29.900,00 Kwz
b) caixa de cavala 20kg =18.500,00 Kwz
c) caixa de chopa 10kg = 8.100,00 Kwz
d) caixa de garoupa 10kg = 11.500,00 Kwz
e) Lambula (mais barato), 5 peixinhos = 1.000,00 Kwz.
Mas nas grandes superfícies, por exemplo, um peixe Dourada custa 3.000,00Kwz, se a opção for um kg, que chegam a ser duas unidades pode chegar mais ou menos a 8.000,00 Kwz.
Como se pode ver o sofrimento invade a panela (também ela esburacada) e a mesa da maioria dos angolanos, enquanto a tribo dirigente se refastela em jantaradas com o FMI (Fundo Monetário Internacional), rotando receitas distantes do verdadeiro sentir do cidadão, mas imputando-lhe a ele a responsabilidade sofrida de pagar a factura de financiamento de empréstimos aplicados, regra geral, em projectos megalómanos de idolatria ao regime ou ao líder. Só desta forma se pode entender como a província mais rica em carne, não tenha um projecto viável de aproveitamento das suas riquezas.
Não pode este povo heróico e trabalhador ser colocado na condição de pedinte, vivendo de doações de caridade, quando com cerca de 4 milhões de dólares, em três meses, se ergueriam micro e médias empresas, que inverteriam o actual quadro e em 12 meses, tornariam o Kunene na rota da auto-sustentação e condição de exportadora.
Três fábricas de curtume, para aproveitar a pele do gado que é desperdiçada, quando ela (pele) é uma mais-valia.
Duas fábricas médias de produção de calçado, pastas e carteiras de cabedal, com recurso a abundante matéria-prima local, precisamente a pele do gado, já transformada, nas fábricas de curtume.
Três fábricas de sabão, com base no aproveitamento de matéria-prima local, actualmente deitada fora, que é o sebo derivado dos ossos do gado bovino. Nestas produzir-se-iam, também, sabonetes, sabão líquido, por exemplo. Far-se-iam, também, duas fábricas de ração animal, com base nos ossos e chifres do gado.
Mas aí surge a questão de se falar da seca, no Kunene. É um falso problema, pois ela pode ser vencida em menos de seis meses, primeiro devido o lençol freático estar na superfície e permitir a produção de furos de água não muito onerosos.
Com cerca de USD 1,500.000,00 (Um milhão e quinhentos mil dólares), podem implantar-se na região cerca de 450 a 500 furos e estes irão servir pessoas e animais, bem assim, como permitir a agricultura familiar de massango e outros cereais e hortícolas.
Um furo, actualmente, fica entre 8 à 10 milhões de Kwanzas (USD 26.000,00 – vinte e seis mil dólares – câmbio oficial), inclui tubagem, tanque de retenção de 10 mil litros, seis painéis solares. Este sistema permite, abastecer uma aldeia com cerca de 2 mil pessoas e 5 mil cabeças de gado.
Um segundo investimento, para potenciar a agricultura, a ração natural do gado, para a melhoria da qualidade da carne, bem como o turismo, seria com USD 5 milhões de dólares dar-se início ao desvio do Rio Kunene para as zonas secas, numa transposição, não muito onerosa, mas cuja valia seria de extrema importância, para o desenvolvimento harmonioso da região.
A busca de soluções paliativas, como a mobilização do país, para doar produtos alimentares às populações desta província, pode configurar um crime contra as populações e o gado bovino, quando ela tem um potencial sufocado, pela miopia governamental, que teimosamente, nada faz para potencial o desenvolvimento económico.
Uma política responsável não pode aceitar a seca na região, quando ela tem um dos rios mais importantes, o Kunene, que bombeia para a Barragem do Kalueke e a jusante a do Ruacaná, responsáveis pelo abastecimento de água e energia ao norte da vizinha República da Namíbia, onde paradoxalmente, isso lhes permite ter carne fresca barata e entre nós, até a importada custa os olhos da cara, quiçá face aos interesses dos governantes/empresários, senão vejamos:
a) caixa de carne para bife 20kg = 39.800,00 Kwz
b) caixa carne guisado 20kg =38.500,00 Kwz
c) 1 Kg de peito alto = 1.800, 00 Kwz
d) 1 Kg de picanha = 4.000,00 Kwz
e) 1Kg de alcatra = 2.000,00 Kwz
f) caixa de dobrada 10kg = 7.600 à 8000,00 Kwz
g) fígado de vaca 13 Kg = 9.900,00 Kwz
h) fígado de búfalo 10Kg =7500,00 Kwz.
Como se pode verificar é uma aberração e a adopção cega do pacote do FMI, onde serão os pobres a pagar a factura do desvario, os preços tenderão a subir, ainda mais e as refeições serão mais difíceis, pois até o preço dos acompanhantes não param de subir.
a) saco de arroz de 25kg = 6.800,00 Kwz
b) saco de feijão 25 kg =14.500,00 Kwz
c) saco de fuba 25 kg = 7.500, Kwz
d) caixa de óleo Fula = 6.500,00 Kwz
e) caixa de massa esparguete = 2.700,00 Kwz
f) caixa de massa tomate (50 unidades pequenas) = 4.000,00 Kwz
g) caixa de vinagre = 2700,00 Kwz
h) balde de tomate = 2.500,00 Kwz
i) 10 kg de cebola = 4500,00 Kwz
j) 10 kg Batata Rena = 3.500,00 Kwz
l) cartão de ovo (30) = 1.600,00 Kwz
m) monte de batata doce = 500,00 Kwz
n) monte de mandioca = 700,00 Kwz
o) Repolho unidade = 200,00 Kwz
p) Couve pé = 150,00 Kwz.
Mas se a estes se tentar aliar algum produtos básicos, estes também desafiam os salários da maioria dos trabalhadores, pensionistas e desmobilizados das ex-Forças Armadas, que rondam os 25.000,00 (vinte e cinco mil Kwanzas).
a) lata de atum (unidade) = 400,00 Kwz
b) lata de sardinha (unidade) =350,00 Kwz
c) sal (saco 1kg) = 300,00 Kwz
d) pão cassete (mata enteado) = 120,00 Kwz
d) embalagem (4 rolos de papel higiénico = 500,00 Kwz.
Como se pode verificar deste pequeno diagnóstico a situação social não está boa, com a agravante de, para lá da retórica da corrupção, o governo tem-se tornado competentemente, incompetente, nos desacertos das opções económicas.
Em cada musseque, em cada mercado, o desalento é visível no rosto das pessoas que estão cada vez mais descrentes em João Lourenço e na sua estratégia, se é que ela existe e, sem se dar conta, ele que num passado recente, colocou José Eduardo dos Santos na condição da pior besta, de Angola na face da terra, do corrupto-mor, do marimbondo-chefe, está, paradoxalmente, a torná-lo, junto das populações, em menos de dois anos, em bestial.
E quando o jornalista diz ao cidadão, para acreditar, estar sereno, porque as mudanças impõem sacrifícios, mas que este governo, promete não fazer o mesmo que no tempo de José Eduardo dos Santos acusado de roubar e ser marimbondo, a resposta não se faz esperar e é transversal, nos bairros pobres e mercados: “Sim ele roubava, mas estes também participavam no banquete e não pediram perdão, mas pelo menos no tempo dele, nós trabalhávamos. Agora logo que o João Lourenço entrou começou a atacar os pobres com a Operação Resgate. Se depender do povo ele não vai ser reeleito, pois estamos fartos desse sofrimento”, disse ao Folha 8, Manuel Domingos Kapingano. Mais contundente foi Mbinji Futi que disse: “Eles, na minha província, em Cabinda, nunca mais vão ter voto. O MPLA e o João Lourenço neste pouco tempo estão a fazer sofrer e humilhar os Cabindas como nunca, por isso, em 2020 e 2022, mesmo com batota, vão ser riscados, não terão votos”, assegurou Futi, para quem, “o aumento do desemprego, bem como o abuso de despedimento no Malongo, são uma bomba relógio, que qualquer dia podem levar a paralisação da província, com todo povo na rua a exigir a expulsão do MPLA, que nos coloniza, pior que os colonos brancos portugueses”, concluiu.
Como se pode verificar a insatisfação popular caminha, em função da crise ter entrado na mesa do cidadão e, com isso, cresce um rastilho carente de controlo.
João Lourenço definitivamente, precisa refazer a sua estratégia, pois a actual não parece talhada para vencer a crise do momento.
Tem de deixar de fazer fugir o dinheiro, devido a uma política truculenta de terror, não deve persistir, em trocar seis por meia dúzia, caso não queira deitar tudo a perder. Neste momento o maior mérito, foi o de despertar o país para o combate a corrupção, aliando-se à velha bandeira da oposição, contra o regime do MPLA, mas ao querer fazê-lo isoladamente, tem estado a colher mais amargos de boca do que benefícios.
O trungungu e a vaidade umbilical de moralizar e combater este flagelo, sozinho, como se fosse Messias, sem uma base social de apoio forte e diversificada, assente na lei, na pluralidade e na reforma do sistema judicial e judiciário, valeram-lhe, uma visível e séria divisão no seio do MPLA, que lidera e na comunidade empresarial, não inspira confiança, pese tirar fotos no meio de alguns representantes de associações de classes, descredibilizados, junto dos trabalhadores.
Mais grave, ainda, sem um sistema bancário forte e credível os investidores estrangeiros, não aceitam investir na actual confusão e indefinição económica, onde para a simples expatriação dos lucros, para os seus países têm de estar reféns do Banco Nacional de Angola.
É possível inverter esta balbúrdia? É! A única medida é João Lourenço conclamar o país diferente, ouvir de ouvir, não ouvir de escutar e espezinhar na esquina.
O cidadão comum, principalmente, os que integram o exército dos 20 milhões de pobres, espera de si a humildade dos grandes homens, não do homem grande, para em conjunto, esboçarem um projecto de salvação que a todos identifique e contemple.