Nos “mundiais” da má governação, MPLA tem
lugar cativo no pódio

Angola está com uma taxa de “desnutrição crónica” na ordem dos 38%, com metade das províncias do país em situação de “extrema gravidade de desnutrição”, onde se destaca o Bié com 51%”, anunciaram hoje as autoridades. Mais uma medalha para o MPLA, fruto de uma má governação que dura desde 1975.

Por Norberto Hossi (*)

A informação foi transmitida hoje pela chefe do Programa Nacional de Nutrição de Angola, Maria Futi Tati, durante um seminário de lançamento da “Plataforma Multissectorial de Nutrição em Angola”, realizado, em Luanda, considerando a situação “muito séria e preocupante”.

“O grau de desnutrição, principalmente a crónica, a nível do país é muito sério. Temos que trabalhar bastante, estamos com uma desnutrição crónica com uma taxa de 38% e o padrão preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de menos de 20%”, disse.

De acordo com a responsável, “nenhuma das 18 províncias angolanas está em normalidade nutricional”, ou seja, “todas as províncias estão com problemas sérios de desnutrição”, demonstrando que “o país está mal”.

Que está mal já todos nós sabemos há décadas. Só o MPLA, que está no governo desde 1975 desconhece essa realidade. E desconhece porque é algo que não afecta dos altos dignitários do regime.

As províncias do Bié com 51%, Cuanza Sul com 49%, Cuanza Norte com 45% e o Huambo com 44% são, segundo Maria Futi Tati, as que apresentam maiores indicadores de desnutrição.

“São cerca de nove províncias que estão em situação de extrema gravidade de desnutrição, sete províncias em situação de prevalência elevada e duas províncias em situação de prevalência média”, apontou.

Na ocasião, a chefe do Programa Nacional de Nutrição de Angola adiantou ainda que 64% das crianças angolanas padecem de “anemia grave”, porque “muitas vezes a criança já nasce desnutrida e depois alimenta-se mal, muitas vezes faz apenas uma refeição por dia e depois evolui para a anemia”.

Por alguma razão nós aqui no Folha 8 dizemos insistentemente que os angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem com fome.

Para (supostamente) inverter esse quadro, foi lançada a Plataforma Multissectorial de Nutrição em Angola, órgão que congrega diversos sectores ministeriais, Organizações Não-Governamentais e parceiros internacionais.

“No sentido de traçarmos estratégias e políticas que possam vir a melhorar o estado nutricional. Para isso vamos trabalhar, coordenando acções, porque as questões de nutrição não dependem apenas do sector da Saúde”, argumentou a responsável.

O quadro da malnutrição em Angola “deve envolver todos os actores, incluindo os políticos, pelo facto de o país ser ainda o terceiro da região austral do continente africano em situação de desnutrição crónica”, salientou Maria Futi Tati.

“E isto compromete o crescimento e desenvolvimento das crianças, que a maior parte das vezes vêm já afectadas a partir do ventre das mães e temos que olhar aqui também para as mulheres grávidas, melhorando a alimentação e o seu estado nutricional”, concluiu.

Por sua vez, o Secretário de Estado para a Saúde Pública de Angola, José Vieira Dias da Cunha, que discursava na cerimónia de abertura deste encontro, assumiu que a desnutrição crónica no país “é extremamente elevada”, defendendo a conjugação de esforços para a sua inversão.

“A situação da desnutrição no nosso país exige de todos nós muita atenção e dedicação, pois o bom estado nutricional e de saúde são factores incontestáveis para o desenvolvimento social e económico, portanto, a sua garantia advém de intervenções multissectoriais e de compromissos políticos assumidos”, afirmou.

Com a criação dessa plataforma, sublinhou, “devemos concentrar as nossas acções no desenvolvimento integral das nossas crianças que é um foco do Executivo”.

Nem vergonha têm

Em Fevereiro de 2016, a União Europeia, consciente de que Angola é um país… pobre e que, por isso, não tem meios para acudir às necessidades do seu Povo atribuiu 1,3 milhões de euros para apoiar mais de 190 mil pessoas, sobretudo crianças, das províncias do Cunene e da Huíla.

A União Europeia referiu então que a verba, a ser aplicada pela organização não-governamental Visão Mundial e o departamento nacional de nutrição do Ministério da Saúde de Angola, visa reduzir a mortalidade e morbilidade infantil causada pela desnutrição.

Com o referido valor iria ser proporcionado, durante um ano, a assistência nutricional a crianças com sintomas de malnutrição aguda ou moderada, nomeadamente menores de cinco anos.

A intervenção deveria também permitir um aumento da capacidade de resistência das populações rurais, bem como do seu conhecimento das melhores práticas para a prevenção e tratamento da desnutrição infantil no futuro.

A União Europeia considerava na altura “alarmante” a situação de insegurança alimentar que enfrentava o sul de Angola, particularmente as províncias do Cunene e da Huíla.

O apoio financeiro visava igualmente adquirir e distribuir alimentos terapêuticos e suplementares para os centros de nutrição, além das sessões de formação para o pessoal sobre a identificação e tratamento de crianças malnutridas.

Essa intervenção de emergência iria ser complementada com actividades de desenvolvimento previstas no 11º Fundo Europeu de Desenvolvimento, o maior instrumento de cooperação e financiamento da União Europeia em Angola, que se prolonga até 2020.

Com um financiamento total de 195 milhões de euros para intervenções nos sectores da agricultura, água e saneamento e educação superior, a União Europeia pretendia apoiar o Governo angolano no reforço da segurança alimentar e nutricional em Angola, dentro da sua estratégia global para acabar com a desnutrição infantil crónica mundial.

É fartar vilanagem

Perto de 28 milhões de pessoas da África Lusófona são desnutridas, sendo Angola, Moçambique e Guiné-Bissau os países mais problemáticos. E, como se sabe, com excepção de Angola, todos os outros países referidos são ricos, muito ricos…

“Não basta aprovar leis e estratégias. É preciso ir ao cerne do problema. É preciso produzirmos comida suficiente para alimentar os nossos povos”, dizia em 2012 a directora da organização moçambicana Mulher Género e Desenvolvimento (MuGeDe), Saquina Mucavele, falando em nome da Rede de Organizações para a Soberania Alimentar (ROSA).

Tinha e tem razão. Mas, é claro, é preciso dar tempo ao tempo e compreender que no caso de Angola, por exemplo, o MPLA só está no poder desde 1975, que o país só está em paz total há 16 anos.

Ora, para que deixem de existir cerca de 20 milhões de pobres em Angola é preciso que o MPLA se mantenha no poder aí durante mais uns 30 anos.

Saquina Mucavele disse também que a segurança alimentar e nutricional depende, em larga medida, de investimentos na agricultura, particularmente nos países pobres, onde a produção de alimentos ainda é muito baixa, apelando aos governos para alocarem mais investimentos para a produção de comida.

Essa recomendação, como é óbvio, não tinha nem tem cabimento em Angola. As preocupações do regime estão viradas para outras latitudes. Aliás, o Povo pode muito bem alimentar-se da mandioca que encontre nas lavras ou de farelo.

Por sua vez a Coordenadora da Organização Mundial da Agricultura e Alimentação (FAO) para o direito à Alimentação, Bárbara Ekwall, disse na mesma altura que a questão que se coloca é que a produção mundial de comida aumentou nos últimos anos mas, paradoxalmente, há cada vez mais pessoas padecendo de fome.

Angola é um dos países lusófonos com a maior taxa de mortalidade infantil e materna e de gravidez na adolescência, segundo as Nações Unidas.

(*) Com Lusa

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