Elogios consensuais
e gerais a Jaka Jamba

O vice-Presidente da República de Angola, Bornito de Sousa, escreveu hoje que o país perdeu um dos “seus filhos mais ilustres”, com a morte do deputado e dirigente histórico da UNITA, Almerindo Jaka Jamba, por doença, aos 69 anos.

Na mensagem da Casa Civil do Presidente da República, Bornito de Sousa – o Presidente João Lourenço encontra-se ausente do país – escreve que “foi com um sentimento de profunda consternação” que a notícia foi conhecida.

“Com este infausto acontecimento, Angola perde um dos seus filhos mais ilustres, intelectual de rara estirpe e incansável promotor da concórdia e harmonia entre os angolanos”, lê-se na mensagem.

“Nesta hora de dor, e em nome de Sua Excelência o Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, do Executivo e no meu próprio, apresento condolências à família do malogrado, na esperança de que a sociedade valorize, na sua acção quotidiana, o legado do nacionalista que parte prematuramente”, escreveu Bornito de Sousa.

Também o Presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, manifestou igualmente a sua profunda consternação pela morte do deputado Almerindo Jaka Jamba.

“Neste momento de dor, tristeza e luto venho em meu nome próprio, dos deputados e dos funcionários parlamentares exprimir as mais sentidas condolências e manifestar inteira solidariedade à família enlutada”, destacou Nandó numa mensagem dirigida à família enlutada.

Também o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, disse a morte de Almerindo Jaka Jamba deixa um “grande vazio” no seio da organização partidária.

Alcides Sakala recordou que o malogrado tinha uma visão muito profunda sobre a reconciliação nacional no país, e que deixa reflexões importantes que servirão de referência para a sociedade angolana, sobretudo reconciliada.

Por seu turno, o ministro da Comunicação Social, João Melo, recordaou, na sua página no Twitter, que trabalhou com Jaka Jamba na Assembleia Nacional e na Academia de Letras de Angola,, com quem fez uma “boa amizade”.

“Partilhamos algumas ideias e, quando imperioso, divergimos respeitosamente. Por isso, hoje é um dia triste para mim. Paz à sua alma”, escreveu João Melo.

Almerindo Jaka Jamba, de 69 anos, nasceu a 21 de Março de 1949 e era deputado da UNITA, partido político angolano ao qual aderiu em 1972. Era formado em Filosofia, pela Universidade Clássica de Lisboa, e ostentava, também, um Doutoramento em História.

Por força dos Acordos de Alvor, assinados em 1975, entre Portugal e os então movimentos de libertação angolanos (FNLA, MPLA e UNITA), ocuparia, no Governo de Transição, a pasta de secretário de Estado da Informação.

Foi vice-presidente da Assembleia Nacional (1997-2005) e embaixador na Missão Permanente de Angola junto do Organismo das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em Paris (2005- 2008).

Na UNITA ocupou vários cargos de destaque, tais como os de secretário de Educação, Informação, dos Negócios Estrangeiros, da Cultura e Herança Africana.

Em 1992, foi nomeado como segundo vice-presidente da Assembleia Nacional e porta-voz do grupo parlamentar da UNITA.

Jaka Jamba fez parte da Comissão Constitucional de Angola, em representação do maior partido da oposição angolana.

Em 2011, a propósito do discurso do então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a História do nosso país regista um dos seus mais brilhantes textos analíticos, na altura assinado com o pseudónimo de José Desencatado. Reproduzimos apenas uma parte, exactamente onde aparece uma referência a Jaka Jamba.

“Será que ele (José Eduardo dos Santos) ainda não percebeu que, a partir da sua casa e terminando no seu partido, ele está completamente cercado de fantoches? E que é ele que alimenta os fantoches? Olhemos para o MPLA. Para a velha e a nova geração. Já não falemos de Dino Matrosse, Kwata Kanawa e Rui Falcão, mas é com homens como Bento Bento, Bento Kangamba, o tal de Jesuino, jovens como Luther Rescova, o Norberto Garcia, o demagogo João Pinto que ele conta desenvolver este país?

Lembro que uma vez o camarada Lúcio Lara chorou em plena Assembleia Nacional quando se discutia a atribuição da vice-presidência a Jonas Savimbi, e na altura, entre lágrimas amargas, se perguntava como era possível que intelectuais da craveira de Jaka Jamba eram capazes de seguir um homem que queimava pessoas na fogueira.

Hoje, com as mesmas lágrimas no coração, pergunto-me como é possível que homens como Roberto de Almeida, Dino Matrosse, Paiva Nvunda, Ferreira Pinto, se humilhem perante um ditador e cheguem a chorar de medo quando falam no seu nome?

Como é possível que mulheres como Ângela Bragança, Rosa Cruz e Silva, Suzana Inglês, Luzia Sebastião, intelectuais como Pitra Neto, Carlos Feijó, Rui Ferreira, Gigi Fontes Pereira, Bornito de Sousa, Adão de Almeida, Cremildo Paka, Manuel Vicente, políticos como Nandó, Higino Carneiro, Kassoma, e tantos outros, sejam capazes de estar ao lado, bater palmas, e integrar um partido e o executivo dirigido por um homem como esse?

Como disse chorando na altura Lúcio Lara, «só pode ser feitiço». Talvez não o feitiço tradicional de Savimbi, mas o feitiço do dinheiro e do poder. Ou talvez, como eu até ontem, eles continuem ainda com a venda nos olhos e continuem a ver naquele presidente o homem que eu via quando era criança e ingenuamente acreditava no futuro nas mãos de um génio incompetente.”

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