O Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, confirmou hoje que irá receber na segunda-feira o ministro das Relações Exteriores angolano, a pedido deste, e considerou que as relações bilaterais com Angola estão “num momento muito bom”.
Sobre a audiência que irá conceder na segunda-feira ao ministro das Relações Exteriores de Angola, Marcelo Rebelo de Sousa disse que acontece a pedido de Manuel Augusto, no quadro da preparação de um fórum Europa-África que envolve o Conselho da Diáspora Portuguesa, do qual é presidente honorário.
“A explicação é muito simples. O senhor ministro das Relações Exteriores de Angola vem para uma reunião no quadro de uma instituição que é patrocinada pelo Presidente da República, que é o Conselho da Diáspora, que vai organizar uma reunião preparatória de um fórum Europa-África”, justificou.
“Sendo uma iniciativa que tem a ver com a Presidência da República, pediu audiência, e eu tenho um prazer muito grande em estar com o senhor ministro na próxima segunda-feira”, acrescentou.
Relativamente à agenda da reunião, adiantou: “Certamente iremos falar da colaboração dele no âmbito do fórum Europa-África e também das relações bilaterais entre Portugal e Angola, que estão num momento muito bom”.
Interrogado se nesse encontro ficará acertada a data da sua visita a Angola, respondeu: “Eu não sei. O senhor ministro pediu para falar comigo, mas não é provável. Isso é decidido entre governos”.
Embora tenham sido ditas em Agosto de 2017, é oportuno recordar as palavras de João Paulo Batalha, Presidente da Transparência e Integridade, ao Folha 8: “O corolário desta criadagem sabuja é a nota de duas linhas (envergonhada mas diligente) publicada pelo Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, congratulando João Lourenço por uma vitória que, roubo à parte, nem sequer foi ainda formalmente anunciada. A minha vergonha como cidadão português não pode hoje comparar-se ao justificado orgulho cívico do povo angolano”.
Marcelo Rebelo de Sousa, presidente (nominalmente eleito) de Portugal encontrou-se no dia 5 de Agosto de 2016, no Brasil, com o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, e com o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, e o embaixador de Angola no Brasil, Nelson Cosme.
Como se sabe e como, aliás, já aqui foi escrito, Marcelo Rebelo de Sousa é o político português mais habilitado (a par do primeiro-ministro António Costa) para não só cimentar como também alargar as relações de bajulação e servilismo com o regime do MPLA. Marcelo sabe que – do ponto de vista oficial – Angola (ainda) é o MPLA, e que o MPLA (ainda) é Angola. Portanto… Siga a fanfarra.
Angola é um dos países lusófonos com a maior taxa de mortalidade infantil e materna e de gravidez na adolescência, segundo as Nações Unidas. Mas o que é que isso importa a Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Rui Rio ou Assunção Cristas? Importante é saber que o regime foi, é e será um dos mais corruptos do mundo.
Aliás, muitos dos angolanos (70% da população vive na miséria) que raramente sabem o que é uma refeição, poderão certamente alimentar-se com o facto de assistirem um dia destes, ao vivo e a cores, ao beija-mão de Marcelo Rebelo de Sousa ao “querido líder” (versão II).
Os pobres em Angola estão todos os dias a aumentar e a diminuir. Aumentam porque o desemprego aumenta, diminuem porque vão morrendo. Mas a verdade é que esses angolanos não contam para Marcelo Rebelo de Sousa, tal como não contam para António Costa, tal como não contaram para Passos Coelho ou José Sócrates, tal como continuam sem contar para Rui Rio.
Marcelo Rebelo de Sousa sabe que o anterior presidente angolano esteve 38 anos no poder sem ter sido nominalmente eleito. Mas isso pouco ou nada importa… pelo menos por enquanto.
É claro que, segundo a bitola de Marcelo Rebelo de Sousa, continua a haver bons e maus ditadores. Muammar Kadhafi passou a ser mau e Eduardo dos Santos continua a ser bom. João Lourenço já é excelente. E que mais podem querer os bajuladores que enxameiam os areópagos políticos de Lisboa?
Portugal continua de cócoras perante o regime esclavagista de Luanda, tal como estava em relação a Muammar Kadhafi que, citando José Sócrates, era “um líder carismático”. Talvez um dia Portugal chegue à conclusão que, afinal, o MPLA e os seus dirigentes são um bando cleptocrático.
Será que alguém vai perguntar a Marcelo Rebelo de Sousa o que pensa dessa farsa a que se chama democracia e Estado de Direito em Angola? Não. Basta ver que, mesmo antes de ser declarado vencedor das eleições do dia 23 de Agosto de 2017, já João Lourenço era felicitado pelo Presidente da República de Portugal.
Certo será que, nesta matéria, Marcelo Rebelo de Sousa continua a pensar da mesma forma que Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho, Paulo Portas, António Costa, Assunção Cristas e Rui Rio, para quem Angola nunca esteve tão bem, mesmo tendo 20 milhões de pobres.
De facto, como há já alguns anos dizia Rafael Marques, os portugueses só estão mal informados porque querem, ou porque têm interesses eventualmente legítimos mas pouco ortodoxos e muito menos humanitários. Marcelo Rebelo de Sousa não escapa à regra.
Custa a crer, mas é verdade que os políticos portugueses (com excepção dos do Bloco de Esquerda) fazem um esforço tremendo (se calhar bem remunerado) para procurar legitimar o que se passa de mais errado com as autoridades angolanas, as tais que estão no poder desde 1975.
Em síntese, o MPLA queria que Portugal mantivesse, ou aumentasse, o nível de bajulação ao “querido líder”, seja ele quem for. E isso vai está a acontecer. O Parlamento português tem, no caso das relações com o regime do MPLA, uma esmagadora maioria de invertebrados bajuladores. PSD, CDS, PS e PCP fazem desse misto de sabujice e bajulação um modo de vida, uma forma de subsistência. A excepção é o BE.
E a cereja no cimo do bolo aconteceu com a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa.