A “Operação Resgate” está a decorrer dentro da normalidade e os resultados “são satisfatórios”, disse hoje fonte policial angolana, num balanço dos primeiros sete dias da iniciativa que visa repor a autoridade (é mais correcto falar de repor o autoritarismo) do Estado/MPLA no país.
Por não ter sido (ainda) possível repor o sentido de responsabilidade nem resgatar a competência, a conferência de imprensa de balanço começou com mais de duas horas e meio de atraso, o director do Gabinete de Informação e Comunicação Institucional da Polícia Nacional de Angola, comissário Orlando Bernardo, disse também não se terem registado “situações assinaláveis” que comprometam os objectivos da operação.
Se não se registaram ”situações assinaláveis” (na reposição da autoridade do Estado), porque razão se fez uma conferência de imprensa? João Melo, ministro da Comunicação Social, diria com certeza que foi para mostrar o interesse, relevância e patriotismo das “boas notícias”.
A operação visa reforçar com autoritarismo bélico a autoridade do Estado em todos os domínios, reduzir os principais factores que provocam desordem e insegurança, bem como os da violência urbana e da sinistralidade rodoviária, aperfeiçoar os mecanismos e instrumentos para a prevenção e combate à imigração ilegal e proibir a venda de produtos não autorizados em mercados informais.
O também porta-voz oficial da “Operação Resgate” destacou que foi possível, nos primeiros sete dias, aumentar a arrecadação de receitas do Estado (claro, os filhos das zungueiras estão a dar um bom contributo na sua luta para, como milhões de angolanos, aprenderem a viver sem comer), melhorar a fluidez e segurança no trânsito rodoviário, bem como no saneamento básico em alguns locais habitualmente utilizados para a venda ilegal na via pública.
Reconheça-se que se não fosse o brilhantismo dos ideólogos da “Operação Resgate” nunca se saberia da ligação directa, inequívoca e histórica entre o saneamento básico e venda ilegal na via pública.
“A operação despertou a população em relação às perdas que o Estado vinha sofrendo face ao não-pagamento dos impostos por grande parte dos proprietários e estabelecimentos comerciais de prestação de serviços”, acrescentou o director do Gabinete de Informação e Comunicação Institucional da Polícia Nacional. Por outras palavras, graças a este resgate a economia e as finanças vão respirar melhor. Muito melhor.
No entanto, alertou Orlando Bernardo, apesar das melhorias alcançadas, há correcções ainda a fazer, sobretudo na coordenação e interacção dos departamentos ministeriais envolvidos na operação, que devem ter maior fluidez na partilha de informação. Pois. Depressa e bem há pouco quem. Mas como era preciso mostrar serviço, a regra continua a ser… meia bola e força e fé em “Deus” (João Lourenço, é claro!).
“A vigilância dos preços de bens e serviços para evitar a especulação face ao encerramento voluntário de um elevado número de estabelecimentos comerciais de locais de venda de produtos de proveniência ilícita, o aumento da capacidade de atendimento das instituições públicas vocacionadas para a legalização das actividades e serviços” são outras “correcções necessárias”, acrescentou.
Em síntese, ao fim de 43 anos – acreditam os mentores da “Operação Resgate” – vai ser possível repor a autoridade do Estado/MPLA no país.
Orlando Bernardo falou também da necessidade de serem criadas condições para acomodar os vendedores retirados das ruas para evitar o regresso aos locais desactivados, para o que, disse, estão identificados locais que poderão instalar 31.000 vendedores.
“A Operação Resgate não visa somente a repressão de práticas abusivas, incivilidades e transgressões administrativas. É acompanhada também de uma estratégia de comunicação, para a sensibilização e a consciencialização permanente dos cidadãos”, sublinhou o porta-voz da operação.
Orlando Bernardo referiu que os primeiros sete dias da operação decorreram com uma “evolução normal”, sem registo de situações que possam comprometer os objectivos, sendo clara que esta fase está a incidir no “carácter pedagógico, esclarecedor e de sensibilização das populações”.
“Houve encerramentos voluntários de estabelecimentos comerciais e de minimercados, o abandono voluntário dos locais habituais de venda ambulante e de exposição de produtos na via pública, uma grande afluência de cidadãos aos postos de atendimento da AGT [Administração Geral Tributária] e das administrações municipais e dificuldades destas em dar resposta às preocupações dos cidadãos”, afirmou.
Por outro lado, foram detectadas situações de aumento especulativo dos preços de bens essenciais assim que foram encerrados os minimercados e posto termo a alguns locais da venda de rua, o que tem permitido “algumas melhorias” na fluidez no trânsito rodoviário e nas ruas e passeios, sobretudo na cidade de Luanda.
Orlando Bernardo destacou ainda o número de denúncias, 60, relacionadas com casos de extorsão, corrupção, imigração ilegal e comércio ilegal.
Sobre as eventuais “batatas podres” fardadas, como referiu o próprio comandante-geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, tudo está, presume-se, bem resolvido. Ou nem tanto. Mas também quem é que se vai preocupar com isso quando, no outro prato da balança, está o resgate do Estado?
Folha 8 com Lusa