UNITA (também) goza com
a chipala dos angolanos

O vice-presidente da UNITA considera que Portugal se tem “vergado” nas relações com Angola, colocando-se numa “situação de verdadeira dependência” e defende que falta um olhar “de igual para igual”. Por outra palavras, Raul Danda acusa Portugal de ter a mesma postura (em relação ao regime) que a UNITA tem em relação ao MPLA. Quererá direitos de autor?

“O facto de lá para trás Portugal ter colonizado Angola não devia fazer com que se jogasse um papel mais ou menos inverso, que é o que eu observo”, disse Raul Danda, em entrevista à Lusa.

“Se surge um órgão de comunicação social a falar de um membro do Governo [angolano], uma alta figura na hierarquia do MPLA, zangam-se, fazem uma birra que nem crianças, agora não queremos mais Portugal e Portugal verga. Quando Angola diz que a ministra não vem, agora não queremos, Portugal verga. Quando gritam agora podem vir para vir à tomada de posse [do novo Presidente, João Lourenço], Portugal verga”, afirmou.

É verdade. Vejamos mais um exemplo de que a UNITA quer que os angolanos, e o mundo, olhem para o que ele diz e não para o que ela faz. O MPLA manipulou as eleições de 23 de Agosto e a UNITA não só se vergou (embora querendo passar a imagem de que esteve e está erecta) como se ajoelhou. A Comissão Nacional Eleitoral e o Tribunal Constitucional mostraram ser apenas e só sucursais do MPLA. A isto a UNITA fez “uma birra que nem crianças” mas, ao ver o chupa-chupa na mão do MPLA, sorriu e voltou a ser feliz…

Para o dirigente do maior partido da oposição angolano, “por uma questão de dignidade, a determinada altura é preciso que olhemos para os outros de igual para igual”. Será, Raul Danda, que esta verdade também se aplica- por exemplo – em relação aos eleitores da UNITA?

Actualmente, existe “uma relação de verdadeira dependência de Portugal em relação a Angola” e isso “não é bom”, diz o vice-presidente da UNITA, certamente consciente de que internamente, existe uma verdadeira e enorme dependência da UNITA em relação ao MPLA.

Raúl Danda rejeita que esteja apenas em causa a defesa dos interesses dos portugueses que investem e trabalham em Angola: “Neste momento, Angola precisa de Portugal e Portugal precisa de Angola. Não pode ser uma situação em que uns impõem as coisas como se os outros fossem os eternos necessitados. (…) Há angolanos que trabalham em Portugal e há portugueses que trabalham em Angola. Isto ficou uma aldeia global”.

O regime angolano, o mesmo há 42 anos, condenou que a imprensa portuguesa tenha noticiado a constituição como arguido do então vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, por corrupção activa.

Numa reacção sobre o assunto, em Fevereiro, o Governo do MPLA considerou “inamistosa e despropositada” a forma como as autoridades portuguesas divulgaram a acusação ao vice-Presidente de Angola, alertando que essa acusação ameaça as relações bilaterais.

No mês seguinte, o então ministro da Defesa angolano e candidato do MPLA às eleições de Agosto — em que foi eleito Presidente -, João Lourenço, exigiu “respeito” das autoridades portuguesas às “principais entidades do Estado angolano”, admitindo que as relações bilaterais estavam “frias”.

Na sequência deste facto, ficou adiada “sine die”, a pedido do governo de José Eduardo dos Santos, a visita da ministra da Justiça portuguesa, Francisca Van-Dúnem, a Angola, anunciada, em Luanda, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, durante a sua deslocação ao país, em Fevereiro, e que estava prevista entre 22 e 24 do mesmo mês.

Também não se concretizou a anunciada visita a Angola do primeiro-ministro português, António Costa, que chegou a estar prevista para a Primavera passada. Entretanto, o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, estará presente na posse de João Lourenço, esta terça-feira, em Luanda.

Estar ou não com a mão no tacho

Raul Danda defendeu também que o partido “tem de estar no Parlamento” angolano para “criar dificuldades” ao Governo e não deixar o MPLA actuar “como partido único”. Como piada até tem alguma qualidade. Não chegará para entrar no top dez do anedotário nacional, mas o caminho é esse.

“Temos de estar no Parlamento, para literalmente criarmos dificuldades àqueles indivíduos se não estiverem a governar como deve ser”, afirmou, justificando assim a decisão da UNITA de assumir os 51 lugares na Assembleia Nacional, depois de ter admitido não o fazer. Admitiu não o fazer, como era manifesto e público desejo dos seus apoiantes, mas quando o MPLA disse que se tal acontecesse a mandioca iria substituir a lagosta… o Galo Negro curvou-se servilmente.

Raúl Danda sustenta que se a UNITA, maior partido da oposição em Angola, “não tem estado no Parlamento e consequentemente na comissão eleitoral, muita coisa se teria passado, a batota teria sido legalizada”. Esta é novidade. Ao aceitar a batota como irreversível, ao colaborar com os batoteiros, a UNITA não está a legalizá-la?

“Se o MPLA ficasse no Parlamento sozinho, com uma maioria qualificada que lhe permite modificar a Constituição e alterar as leis a seu bel-prazer, daqui a um pouco teríamos um país onde o roubo e a malandrice ficariam legalizados. É preciso que a UNITA esteja ali”, sustenta. Mas estar ali para quê? Ah! Estar ali para dar cobertura legal a uma espécie de democracia e, convenhamos, sobretudo para beneficiar das mordomias de tida essa malandrice, de toda essa palhaçada.

“Eles prometeram mudança, não sei como é que eles conseguem fazer isso, [vamos ver] se vão fazer as coisas bem, se vão combater a corrupção, vamos ver o nepotismo e isso tudo”, acrescentou. Raul Danda dá, assim, o benefício da dúvida às raposas que estão dentro do galinheiro para – oficialmente – guardarem as galinhas.

O dirigente da oposição considera que “a única forma que a UNITA encontrou de defender os angolanos é estando presente”. Esta sim. Esta merece entrar directamente para o pódio do anedotário nacional. É que, para além de uma monumental hipocrisia, corresponde à assinatura de diplomas de matumbez que a UNITA passa a todos os angolanos.

“Eles gostam de se sentirem partido único, é preciso que não os deixemos”, sublinhou. É mesmo para rir.

Questionado se o líder da UNITA mantém a decisão de sair da presidência do partido, como anunciou no passado, Danda argumentou que Isaías Samakuva “é uma pessoa muito honesta, muito franca, muito recta e cumpre aquilo que promete”. Pois! Ai cumpre? Quem diria?

Folha 8 com Lusa

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