Os políticos podem tudo, até dizer as maiores barbaridades, quando em causa está a conquista de mais uns votos. É assim no mundo e, para nossa desgraça colectiva, Angola não foge à regra, pois, principalmente, em época de eleição, até condomínio e terrenos, no céu, prometem, com alguns a darem já o título de Direito de Superfície, com pastores dos supermercados da fé (igrejas político-corruptas).
Por Shenia Benjamim e Sílvio Van-Dúnem
O cantor Sebem enfrenta, desde 2014, uma doença parasitária rara, chamada “neurocisticercose fatal” (infecção do sistema nervoso central), quando ainda se encontrava a serviço da TPA, mais propriamente, no Canal II, sob gestão, face à ascendência, das empresas dos filhos do Presidente da República, Welwitcha dos Santos (Tchizé) e José Eduardo Paulino dos Santos (Coréon Du), onde apresentava um programa musical de Kuduro “Sempre a subir”.
Por ironia do destino, durante uma digressão artística, em Cuba, para participar nas comemorações da independência daquele país do Caribe, o cantor começou a sentir fortes dores de cabeça. Socorrido de imediato numa das unidades hospitalares foi-lhe diagnosticada a doença de que agora padece e necessita, acompanhamento médico permanente.
Infelizmente, por falta de recursos e apoio regular da entidade patronal (fê-lo no início), fizeram com que tivesse de regressar ao país onde o acompanhamento é precário. Ciente dessa realidade, um grupo de amigos e colegas de profissão, destacando-se os radialistas Miguel Neto e Almir Agria, têm, nos últimos tempos, levado a cabo, uma campanha de solidariedade, visando a recolha de fundos e não só, para permitir que o cantor prossiga o tratamento médico no exterior, de preferência em Cuba.
Atentemos neste apelo do radialista Miguel Neto: “Até ao momento ainda não conseguiram angariar fundos suficientes para comprar o gerador. Este que é necessário para ajudar na fisioterapia do cantor e também devido aos cortes excessivos de energia, na região em que o músico reside actualmente”.
Agora, uma pergunta se impõe. “Camarada João Lourenço, sabe que os seus aparelhos, correm o risco de não ter serventia?
Seguramente que se está marimbando, pois nem isso saiu mesmo do seu bolso, mas do povo sofredor que paga impostos, para alimentar as mordomias dos dirigentes. Por isso, quando se esperava mais dos políticos, principalmente deste candidato a cabeça-de-lista, eis que a doença de Sebem serve como moeda de propaganda enquadrada na sua campanha política (acompanhado da esposa, Ana Dias Lourenço e de uma delegação do MPLA), quando visitou o cantor na sua residência em Viana, no dia 25.03.2017, onde, pasme-se, fez a “mesmice” de lhe oferecer uma geleira, um fogão e um televisor plasma de 62 polegadas. Já agora poderia também ter levado um gerador…
Não está em causa o televisor, mas sim, a análise do estado de saúde de Sebem, feita por Lourenço, para na realidade, verificar se ele, no momento, é de televisor que mais carece. Seguramente que não. E, não, por tudo ter cheirado a um baixo aproveitamento sobre a “desgraça” alheia, precisamente, misturado no dia em que presidiu a um comício nas redondezas.
É deplorável. As pessoas sabem, ou pelo menos, deveriam saber, que seria mais nobre pagar, por exemplo, duas anuidades de “Seguro de Saúde na ENSA” ou levar uma carta de comprometimento da TPA, da “Semba Comunicação” ou mesmo do governo, comprometendo-se a garantir essa assistência médico-medicamentosa.
Mas tem mais. Se os médicos, no caso, até aconselham pouca presença do paciente, diante do televisor, porque carga de água, João Lourenço a ofereceu?
Para piorar ou melhorar a patologia do cantor?
Voluntária ou involuntária a acção incrimina, pois, seguramente, ficaria registado nos anais dos gestos políticos, se o candidato por exemplo, em seu nome, pagasse o equivalente a um “Plano Completo+c/Farmácia COP da ENSA”, no valor de Kwz: 421.805,45 (quatrocentos e vinte e um mil, oitocentos e cinco mil e quarenta e cinco cêntimos), anual. Este pacote inclui, inclusive evacuação e repatriamento, no exterior, podendo haver um consumo de gastos do paciente até o equivalente a USD 1.000.000,00 (um milhão de dólares), que inclui os seguintes serviços:
a) todas as acomodações no hospital (inclui cirurgias, medicamentos, consumíveis, tratamentos e serviços relacionados);
b) tratamento de fisioterapia como paciente interno;
c) tratamentos médicos (quimioterapia, radioterapia e hemodiálise);
d) tac´s e ressonâncias magnéticas (incluindo como paciente externo);
e) serviços locais de ambulância;
f) internamento e cirurgias no exterior do país;
g) despesas fora da rede prestadoras (em caso de urgência);
h) despesas do estrangeiro (em caso de emergência);
i) serviços de enfermagem ao domicílio (a seguir à hospitalização – até 180 dias);
j) tratamentos dentários (em caso de acidente);
k) transplante de órgãos (exclui custo de aquisição dos mesmos).
Como se pode verificar este pacote, nem chega a 5% do que o despesismo do MPLA gastou com o aluguer, por meio dia, dos Hiaces dos candongueiros (taxistas), que rondou os USD 1.300.000,00 (um milhão e trezentos mil dólares), só para pagar a estes profissionais.
E em quanto ficou o comício no Zango?
Uma fonte oficiosa do MPLA disse ao F8, ter ficado tudo avaliado, em cerca de USD 11.800,000,00 (onze milhões e oitocentos mil dólares), gastos só em metade de um dia. É muita fartura, quando partidos não conseguem gastar, sequer um milhão de dólares por ano e hospitais públicos, não têm fármacos para acudir pacientes ou escolas, carteiras, giz, portas e janelas, para uma aprendizagem eficaz dos alunos. Por este andar nada nos retira da rota do abismo financeiro.