Estamos (quase) todos à porta do abismo

Os experts consideram o abismo como uma depressão natural, o relevo de uma paisagem ou uma profundidade vertical, onde escapando uma pedra, ela se perde na longitude infinita da cavidade.

Por William Tonet

Angola já não está à beira do abismo, vive nele, face à desgarrada condução dos seus destinos, por um regime talhado na arte de fazer mal à maioria dos cidadãos, para se perpetuar no poder.

Nesta tresloucada geografia estamos perante uma crise sem precedentes, onde até as albufeiras das barragens são justificativa da monumental incompetência de quem não consegue, regularmente, fornecer água e luz, nas zonas urbanas, porque nas recônditas da Angola Profunda, só mesmo a cintilante do pirilampo, do candeeiro ou da lenha, fazem companhia.

A escuridão propositada é pois o grande cartão postal, da máfia dos geradores, que relegam para segundo plano um dos maiores potenciais hidrográficos do mundo, cujas barragens, corruptamente avaliadas, desconseguem cumprir o objecto de bilionárias empreitadas.

Os angolanos, a maioria, sem energia eléctrica, está, também, carente de energia reivindicativa, anestesiados por uma campanha de propaganda que, prometendo tudo e nada, lhes oferece as baionetas, como medida de coacção. Daí não haver acções de contestação, capazes de alterar o actual quadro dantesco.

É preciso gritar. É preciso dar um basta, a esta governação incompetente, em nome de Angola e dos angolanos.

Os angolanos podem decidir pela mudança, já. Podem!

Não é difícil, basta que todos se unam, para correr com os corruptos alcandorados no poder, faz mais de 41 anos. Basta de ingenuidade popular, pois é preciso valorizar o poder de soberania, através do voto. É necessário esquecer a velha ladainha partidocrata do regime, de não haver alternativa.

Há alternativas. Ousemos como os outros povos, dando o benefício da dúvida, pois, ninguém, neste país, conseguirá a proeza negativista do Menos Pão Luz e Água (MPLA).

O exemplo está à mão de semear, o Presidente da República assume-se como um monarca, indiferente aos apelos dos organismos financeiros internacionais, para substituir (tirar) os filhos de importantes órgãos públicos: Fundo Soberano e Sonangol, como condição “sine qua non”, para o país voltar a receber, regularmente, dólares, importantes para o desenvolvimento do país.

Insensível a razoabilidade e ao definhar do país pertencente a maioria dos angolanos, que estão a ser prejudicados, Eduardo dos Santos mantém um capricho proteccionista a favor dos filhos… como se Angola fosse propriedade privada.

É legítimo que um pai queira o melhor para os seus, mas é ilegítimo exacerbar competências, em prejuízo da maioria, que sofre e morre nos hospitais por falta de importação de medicamentos e milhares de meninos impedidos de estudar por falta de escolas ou ainda aqueles que se suicidam por desempregados, não aguentarem o lamento familiar, devido a fome, que se alojou no lar.

O abismo mora, quando se afasta a moral e a ética da política e a oposição se torna cúmplice com o seu silêncio e apatia.

E como ninguém fala, ninguém sai à rua, eles continuam a procissão, mesmo em sentido contrário à Constituição, cientes que dos principais actores políticos, não haverá uma bandeira reivindicativa permanente, nas ruas, nas sanzalas, comunas, municípios, províncias, enfim, no país, igual a dos valorosos jovens dos 15+2, movendo um processo, baseado no art.º 127.º (Responsabilidade criminal), face aos casos “(…) de suborno, traição à Pátria e práticas de crimes definidos pela presente Constituição como imprescritíveis e insusceptíveis de amnistia”, tendo como factos probatórios, por exemplo, os montantes financeiros do Estado, transferidos ilegalmente, para uma empresa inexistente como a Caioporto SA, de um amigo e sócio do filho, que recebeu mais de 500 milhões de dólares, sem execução de nenhuma empreitada; os desvios e má aplicação dos fundos financeiros, mais de 5 mil milhões (biliões) de dólares, por parte do filho, Zenú dos Santos do Fundo Soberano; a concessão sem contrapartidas, para o Estado dos canais públicos de Televisão: Canal 2 e TPA Internacional, aos filhos, Welwitcha dos Santos e Coreon Dú ou ainda o montante público de mais de 20 milhões de dólares, que esteve na origem da UNITEL, outros tantos, na criação do BIC, cerca de 50 milhões, accionista no BFA, mais de 58 milhões de dólares, para além do controlo da Sonangol, por parte da filha primogénita Isabel dos Santos.

Como se pode verificar a oposição tem um grande acervo reivindicativo, mas, infelizmente, não muge, nem tuge…

Ora, não podemos continuar reféns de políticos comodistas, temos, enquanto cidadãos de ganhar consciência, sobre a urgente necessidade de se tirar o país do abismo político em que está mergulhado se queremos salvar a Mãe Angola.

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