O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, perspectivou hoje relações entre Angola e Portugal “muito boas”, demonstradas (Ufa! Ufa!) na ovação dada a Portugal na cerimónia de investidura do novo chefe de Estado angolano. João Lourenço não pensa da mesma maneira e excluiu hoje, no discurso de tomada de posse, Portugal da lista de principais parceiros.
Em declarações à imprensa, no final do ato de tomada de posse de João Lourenço, o chefe de Estado português destacou o “ambiente muito caloroso” entre os dois países, “que é preciso aproveitar”. Será que para Marcelo Rebelo de Sousa João Lourenço não representa o país? Ou é imbecil e não percebeu o “ambiente muito caloroso” entre Portugal e Angola?
Marcelo Rebelo de Sousa, que chegou na segunda-feira a Luanda para participar desta cerimónia, considerou “impressionante” a ovação dada a Portugal, que “foi de longe a maior”.
“E não foi a mim, foi a Portugal”, salientou, destacando os laços de fraternidade entre os dois povos. Pois. A gente sabe.
Por outro lado, indiferente à “impressionante” ovação dada a Portugal, que “foi de longe a maior”, o novo Presidente angolano excluiu hoje Portugal da lista de principais parceiros, no seu discurso de tomada de posse, sublinhando que Angola considerará todos que “respeitem” a soberania nacional.
A posição foi assumida por João Lourenço na cerimónia oficial de investidura como novo chefe de Estado angolano, que decorreu hoje em Luanda e na qual o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, foi o único chefe de Estado europeu presente.
“Angola dará primazia a importantes parceiros, tais como Estados Unidos da América, República Popular da China, a Federação Russa, a República Federativa do Brasil, a índia, o Japão, a Alemanha, a Espanha, a França, a Itália, o Reino Unido, a Coreia do Sul e outros parceiros não menos importantes, desde que respeitem a nossa soberania”, disse João Lourenço.
O novo chefe de Estado não fez qualquer referência a Portugal, principal origem das importações angolanas, no seu primeiro discurso oficial, numa altura de tensão na relação entre os dois países, decorrendo investigações das autoridades portugueses a altos dignitários do regime angolano.
“Devemos continuar a pugnar pela manutenção de relações de amizade e cooperação com todos os povos do mundo, na base dos princípios da não-ingerência nos assuntos internos e na reciprocidade de vantagens, operando com todo os países para salvaguarda da paz, da Justiça e do progresso da humanidade”, disse ainda.
João Lourenço garantiu que a prioridade nas relações internacionais de Angola será dada aos países vizinhos, nomeadamente na defesa, segurança e desenvolvimento da região da África austral.
“Angola deve, pois, manter o seu papel de actor importante na manutenção da paz na sua sub-região, actuando de forma firme nas organizações das quais faz parte”, apontou, acrescentando que a relação com os restantes países africanos de língua portuguesa “vai estar sempre presente nas opções” do Governo angolano.
Recentemente João Lourenço exigiu “respeito” das autoridades portuguesas às “principais entidades do Estado angolano”, admitindo que as relações bilaterais estavam “frias”. E, hoje, continuaram frias apesar de, citando Marcelo Rebelo de Sousa, Portugal ter sido calorosamente aplaudido durante a tomada de posse do novo presidente angolano.
Por outras palavras, o presidente João Lourenço está-se nas tintas que Portugal não “respeite” os angolanos, mormente os 20 milhões de pobres. No entanto, o mesmo não se passa com as “principais entidades do Estado angolano”. Com esses cuidado! Muito cuidado. Esses são angolanos de primeira.
João Lourenço, recorde-se, fez estas declarações em Maputo a propósito das relações do MPLA com Portugal, após a constituição como arguido do vice-Presidente da República, Manuel Vicente, por vários crimes entre os quais o de corrupção activa, numa investigação da Justiça portuguesa.
Mas é claro que falar de corrupção em Angola é um sacrilégio. Alguém acredita nisso, sabendo-se que o regime do MPLA é, em matéria de integridade e honorabilidade, impoluto e o paradigma dos paradigmas?
“As relações estão, de alguma forma, frias, apenas frias. Estamos obrigados, os dois governos, a encontrar soluções para a situação que nos foi criada”, disse João Lourenço. Disse e Marcelo Rebelo de Sousa ouviu e até deu o primeiro passa ao dar-lhes os parabéns pela eleição mesmo antes de haver resultados definitivos. Que mais poderia querer o MPLA?
Frias a ponto de nevar? Porque será que as “principais entidades do Estado angolano” não recordam que o Ministério Público português também investigou uma burla gigantesca ao Estado angolano, supostamente cometida por empresários portugueses com ligações a elementos angolanos do Banco Nacional de Angola? Em causa estavam mais de 300 milhões de euros em pagamentos do BNA para produtos que nunca chegaram a Angola, alguns completamente fictícios, como… limpa-neves.
“Nas relações entre Estados deve haver reciprocidade. Nós nunca tratamos mal as autoridades portuguesas e por esta razão exigimos, de igual forma, respeito pelas principais entidades do Estado angolano”, corroborou João Lourenço.
Desta forma, João Lourenço explicava aos que ainda duvidavam que com ele, tal como com José Eduardo dos Santos durante 38 anos, “respeito pelas principais entidades do Estado angolano” é sinónimo de impunidade total. Portugal fica proibido de investigar qualquer uma das principais entidades do regime, podendo no entanto fazê-lo em relação aos pilha-galinhas ou até mesmo aos dirigentes da Oposição.
Sobre esta matéria, ainda vai haver muitos erros de interpretações, repito, uma coisa não tem nada a ver com a outra e é muito normal dizer que a primazia a outros parceiros serão desde que respeitem a nossa soberania