Sangue? Só se for do MPLA

A UNITA, maior partido da oposição angolana, denunciou hoje em comunicado que cerca de 50 militantes foram impedidos de doar sangue no Hospital Geral de Luanda, numa altura em que o país enfrenta uma rotura de dádivas para transfusão.

Oincidente, de acordo a UNITA, teve lugar a 17 de Março, num hospital da capital angolana onde morrem diariamente 15 a 20 pacientes.

Contudo, a direcção daquela unidade hospitalar já veio a público esclarecer que o partido não terá informado previamente, por escrito, da mobilização deste grupo de militantes para a dádiva, alegando a necessidade de criar condições para a recolha de sangue.

A emenda é, de facto, pior que o soneto. O apelo à doação de sangue foi feito e, perante uma situação de calamidade, não é necessária nenhuma logística especial para recolher o sangue. Aliás, o único problema levantado foi o de os doadores serem simpatizantes, ou membros, da UNITA

“Fiquei chocado de ouvir que mais de 50 pessoas que ouviram o nosso apelo e foram apresentar-se ao hospital para darem o seu sangue e salvarem vidas, foram rejeitadas porque são da UNITA, quer dizer que se afinal até para salvar vidas é preciso o cartão de membro, então o país está mais uma vez estragado, não podemos também continuar assim”, afirma o presidente do maior partido da oposição, Isaías Samakuva, no mesmo comunicado.

“Vimos mães que vieram ter connosco pessoalmente, desesperadas, queriam até que nós déssemos o nosso sangue ali, para salvar as suas crianças”, aponta Samakuva, reiterando que algo vai muito mal num país em que é necessário ter cartão de membro (do MPLA) para doar sangue.

O crescimento de casos de malária devido às fortes chuvas e a epidemia de febre-amarela estão a agravar a falta de sangue nos hospitais de Luanda, onde são necessárias 200 dádivas diárias quando actualmente não chegam à centena.

Os números foram revelados hoje pela directora do Instituto Nacional de Sangue de Angola, Luzia Dias, admitindo que a actual “rotura” era “inevitável” porque se “ultrapassou tudo o que se pensava que podia acontecer”, sobretudo na província de Luanda, que conta com mais de 6,5 milhões de habitantes.

“Nunca houve tantas pessoas com malária, tantas crianças nos bancos de urgência, como tem havido agora”, reconheceu Luzia Dias, salientando que actualmente “há muito menos pessoas a doar sangue”.

Este incidente com militantes da UNITA foi denunciado horas depois de uma comitiva da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), o segundo maior partido da oposição, ter visitado o hospital Josina Machel, em Luanda, tendo divulgado imagens de cerca de 60 jovens militantes a doarem sangue.

A visita, que se realizou na terça-feira, foi liderada pelo presidente da formação política, Abel Chivukuvuku, que aponta a “realidade arrepiante” das unidades de saúde de Luanda, fruto da crise financeira do país e surto de doenças e falta de limpeza na capital, mas admitindo o hospital Josina Machel como uma excepção neste cenário.

Considerado o maior hospital de Luanda, conta com 1.896 funcionários dos quais 1.322 efectivos, para mais de 700 pacientes internados e cerca de 500 que ali se deslocam às urgências diariamente.

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