Para que pensar de forma diferente não seja crime

O líder da UNITA, Isaías Samakuva, defendeu que actos como o realizado hoje em defesa dos 17 jovens activistas angolanos condenados a prisão por suposta e não provada rebelião e associação de malfeitores, devem repetir-se para consciencializar os cidadãos sobre o direito de fazer ouvir a sua voz.

Isaías Samakuva participou hoje, em Luanda, num “encontro de solidariedade” para com os 17 jovens activistas a cumprir prisão e de apoio a vítimas de intolerância política.

Segundo o dirigente da UNITA, o encontro foi positivo, sendo por isso necessária a participação dos cidadãos em actos do género e que mais iniciativas sejam organizadas.

“Actos como este devem realizar-se mais vezes, porque precisamos de consciencializar o cidadão que também é seu dever participar em actos como este, é seu dever fazer ouvir a sua voz, para que aqueles que nos oprimem, que oprimem o povo, saibam que não estamos de acordo e não aceitamos”, referiu Samakuva.

O dirigente da UNITA considerou que a luta pela liberdade de expressão e de comunicação fazem parte também de exercícios como o realizado hoje.

O encontro, organizado pelo jornalista e activista angolano Rafael Marques de Morais, em colaboração com a rádio Despertar, visou ouvir os testemunhos de familiares dos 17 jovens detidos e de sobreviventes e parentes de casos de intolerância política, maioritariamente contra militantes da UNITA, ocorridos em várias regiões de Angola.

Isaías Samakuva lamentou que muitas vezes as pessoas questionem o papel da UNITA na defesa dos cidadãos, realçando que “a luta” do seu partido é diária.

“Naturalmente há vítimas e queremos que muitos outros se juntem à nós e percebam que o ditador é conhecido, tem nome, como foi dito aqui, e este ditador é que nós temos que fazer com que saia do lugar em que está para que o povo viva em paz e liberdade”, sublinhou.

Sobre os jovens activistas, o líder da UNITA prevê que daqui há mais alguns meses sejam libertados.

“Na minha maneira de ver, toda a gente, inclusive o juiz, inclusive o próprio Presidente da República, que penso que é ele que manda nestas coisas, todos sabem que não há culpa nenhuma aqui, mas como acto de intimidação mantêm as pessoas na cadeia e há um simulacro aqui do tribunal supremo, que já sabe que deviam sair, mas é preciso intimidá-los para ficarem ainda ali a sofrerem para que fiquem com medo de repetir a mesma coisa, e daqui há mais alguns meses, já aparece o tribunal a dizer afinal que não há nada”, opinou.

“E depois vem a antiga cantiga, afinal a justiça funciona, as instituições funcionam, o processo correu. É o cenário que está aqui, não tenho dúvidas”, asseverou Isaías Samakuva.

Opinião de Rafael Marques de Morais

Rafael Marques de Morais mostrou-se convencido de que actos de solidariedade como o realizado hoje podem levar o Governo a “habituar-se” a ouvir quem “pensa diferente”.

Dezenas de pessoas, entre políticos e civis, juntaram-se hoje em Luanda num “encontro de solidariedade”, organizado pelo portal de investigação jornalística Maka Angola e a rádio Despertar, em que além de familiares dos jovens detidos, participaram também vítimas de actos de intolerância contra militantes da UNITA, ocorridos em algumas regiões do país e onde se registaram várias mortes.

Durante o encontro, familiares dos jovens activistas leram algumas mensagens dos detidos, contaram as dificuldades por que têm passado e apelaram à sua libertação.

A iniciativa, que surge na semana em que passa um ano das primeiras detenções em Luanda no caso dos 17 activistas, contou com dois momentos, tendo a segunda parte sido reservada a partidos políticos presentes no evento.

Representantes da UNITA, do Partido de Renovação Social (PRS), do Bloco Democrático e do Partido Democrático para o Progresso e Aliança Nacional de Angola (PDP-ANA) leram mensagens de encorajamento e apelaram à libertação dos jovens activistas.

Em declarações à imprensa, Rafael Marques de Morais disse que acções do género devem servir de reflexão para “ajudar o próprio Governo a habituar-se a ouvir as pessoas, a pensar diferente, a serem críticas”.

“Como o próprio Presidente até já disse que se quer retirar em 2018, então se há pessoas aqui a dizer que o Presidente deve abandonar o poder, então estão apenas a repetir aquilo que o Presidente já disse e isso não é crime nenhum, até porque o presidente já tinha dito que queria sair”, disse Rafael Marques de Morais.

Segundo o jornalista, o objectivo fundamental do encontro passou por garantir que haja protecção do direito à vida, pela vida dos cidadãos, que deve se estender a todos os cidadãos sem excepção.

Rafael Marques de Morais sublinhou que em Angola é costume pensar-se que a vida do adversário é inferior à de quem está do outro lado, daí que os organizadores decidiram estender a solidariedade também àqueles casos de intolerância política.

“Temos que ter essa consciência, porque durante anos fomos divididos, obrigados a pensar que aqueles que são da oposição ou de um partido diferente do que apoiamos ou de uma organização diferente do que a que apoiamos não merece o mesmo respeito que nós”, frisou.

Os participantes ao encontro puderam também ouvir testemunhas de casos de intolerância política, como o último registado contra uma delegação de parlamentares da UNITA na comuna de Capupa, província de Benguela, relatado na primeira pessoa pelo líder da bancada parlamentar do maior partido da oposição angolana, Adalberto da Costa Júnior.

Igualmente um sobrevivente do caso ocorrido no monte do Sumi, na província do Huambo, que envolveu o líder da seita angolana “A Luz do Mundo”, José Kalupeteka, contou os momentos vividos naquele dia em que morreram nove polícias e dezenas de civis, fiéis daquela igreja.

Artigos Relacionados

Leave a Comment