Cobardia da UNITA e da CASA-CE

A UNITA e a CASA-CE, como era esperado pelo MPLA e (talvez) ordenado pelo regime, não participam institucionalmente na manifestação cívica, do próximo sábado, contra a nomeação – pelo pai – de Isabel dos Santos para Presidente do Conselho de Administração da Sonangol.

Por Orlando Castro

Para o regime aceitar a manifestação com a normalidade constitucionalmente estabelecida era preciso Angola fosse o que não é, um Estado de Direito Democrático. Para que a UNITA e a CASA-CE participassem institucionalmente na manifestação era preciso ter o que não têm, coragem.

No entanto, perante a cobardia institucional destes dois partidos da suposta oposição, diversas personalidades vão marcar presença e defender a legalidade num país de ilegalidades. Lúcia da Silveira, presidente da AJPD, Justino Pinto de Andrade, presidente do Bloco Democrático, o antigo primeiro-ministro Marcolino Moco e o activista Luaty Beirão estarão presentes.

Mas também lá estarão Sizaltina Cutaia, William Tonet, Filomeno Vieira Lopes, Manuel Victória Pereira, Fernando Macedo, Dago Nível, Nuno Álvaro Dala e Mbanza Hanza.

Mais uma vez a UNITA acobarda-se e mostra aos angolanos, seus simpatizantes ou não, que cremou o Muangai para que – indiferente ao que o Povo precisa – não mais volte à mandioca. A lagosta é muito melhor. Jonas Savimbi deve andar aos tombos na tumba, tal a inoperância da partido que fundou e que gosta de mostrar cartões vermelhos ao governo, fechando-se em casa quando é preciso “lutar” nas ruas.

A UNITA, tal como a CASA-CE, não acredita na transparência e legalidade das grandes decisões tomadas por José Eduardo dos Santos, sendo que a nomeação da sua filha para PCA da Sonangol é apenas um exemplo, mas um exemplo paradigmático. Não acredita mas quando é chamada a agir… recua. Prefere reagir apenas quando sabe que isso não vai hostilizar o regime.

Tem sido assim desde 2002 quando trocou a mandioca pela lagosta. E como o MPLA sabe bem disso, continua a premiar os figurantes acéfalos e cobardes da política angolana com lagostas atrás de lagostas. E como a Oposição sabe bem disso, continua a fingir que faz oposição para não perder as… lagostas.

Os angolanos começam a perceber que, afinal, votar na UNITA (ou na CASA-CE) não significa uma perspectiva de mudança. Talvez acreditem que para pior… basta assim. E, portanto, o MPLA tem terreno livre para se manter no poder durante mais umas décadas.

A UNITA sabe isso. Convém-lhe, contudo, alinhar com o MPLA. Vai, mais uma vez, sofrer uma clamorosa derrota. Poderá, no entanto, escrever no seu epitáfio: Derrotados com a barriga cheia.

Isaías Samakuva diz que todos os que “pretendem uma Angola melhor do que a actual” devem agir. Dizer tal coisa quando os angolanos esperavam que a UNITA estivesse nas ruas, lutasse democrática e civicamente ao lado de todos os que que querem uma Angola melhor, é passar um atestado de menoridade aos angolanos.

Não admira que, perante tanta cobardia institucional, os angolanos gostem de ouvir a UNITA e a CASA-CE e nas próximas eleições vão votar no… MPLA.

Em que país vivem os dirigentes da UNITA? A UNITA quer, tanto quanto parece, transformar-se numa espécie mais moderna mas igualmente anacrónica de FNLA. Em que país vivem os dirigentes da CASA-CE?

Por outras palavras. A UNITA e a CASA-CE diagnosticam com bastante precisão, reconheça-se, a enfermidade do doente com malária. Mas quando toca a ministrar a medicação… fecham os olhos e espetam a injecção no doente ao lado que ali está a tratar uma bitacaia.

A UNITA e a CASA-CE sabem que um país mudo não muda. Quando têm uma oportunidade de, na prática, mostrar aos angolanos que devem falar, que devem dizer o que pensam, ficam… mudos. Só o MPLA fala. O regime está-se nas tintas para a UNITA e, como acontece crescentemente desde 2002, os angolanos também. É que a UNITA e a CASA-CE, corrobore-se, não agem, apenas (e quando o rei faz anos) reagem.

As teses de Isaías Samakuva e Abel Epalanga Chivukuvuku, apesar de correctas, são ineficazes. Os angolanos continuam sem saber se qualquer reflexão que ultrapasse o círculo mediático interno serve para acordar aqueles que sobrevivem com mandioca ou, pelo contrário, apenas se destinam a untar o umbigo dos que se banqueteiam com lagostas em Luanda.

Ao desertarem no apoio presencial e institucional à manifestação cívica do dia 26, os dirigentes da UNITA e da CASA-CE declaram-se vencidos e aceitam ir de derrota em derrota até à… derrota final. Limitam-se a posições cosméticas para tudo ficar na mesma. Não percebem, afinal, que estão em cima de um tapete rolante que anda para trás. Por isso limitam-se a andar. E, é claro, ficam com a sensação de estar a ganhar terreno mas, no final de contas, estão sempre no mesmo sítio.

Com atitudes destas, Isaías Samakuva e Abel Epalanga Chivukuvuku não são os líderes que os seus militantes querem. Não é de crer que sejam a alternativa que os angolanos gostavam de ter. Longe disso. Em vez de entender a mensagem, mandam “abater” o mensageiro.

Ninguém melhor do que Samakuva e Chivukuvuku para saberem se a UNITA e a CASA-CE vão conseguir viver sem comer. Um dia destes, talvez já em 2017, o MPLA virá dizer, com uma lágrima no canto do olho (sorridente) que exactamente quando estavam mesmo, mesmo quase, a saber viver sem comer… morreram.

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