Após 30 dias na prisão da Kakanda, os activistas do Protectorado Lunda Tchokwe, movimento que reivindica autonomia administrativa e financeira da região, são agora acusados pela Procuradoria-Geral de Angola de possuírem armas catanas.
Por Orlando Castro
I mporta, neste contexto, recordar quando discursou em Agosto de 2012 no Estádio Nacional de Ombaka (Benguela) o então ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, hoje governador do Huambo, general Kundi Paihama, disse que os que lutarem contra o MPLA e contra José Eduardo dos Santos “vão ser varridos”.
E se Kundi Paihama o disse é porque é mesmo fazer isso. O regime, ou seja o MPLA, há muito que começou – embora de forma mais subtil – a pôr a razão da força acima da força da razão, mostrando que só é possível haver paz e democracia em Angola se tudo continuar na mesma.
Ao que parece, e ao contrário do que aconteceu em 2008, o regime tinha em 2002 indicações fidedignas de que os mortos se recusariam a votar no MPLA. Isso não foi, reconheçamos, impeditivo de uma solução alternativa, testada com êxito em anteriores eleições, em que em alguns círculos eleitorais apareçam mais votos do que votantes.
Se se estivesse a falar de um Estado de Direito e de uma comunidade internacional honesta, seria criticável que o partido que governa Angola desde 11 de Novembro de 1975, que tem como seu líder carismático e presidente da República alguém que está no poder há 36 anos, sem ter sido nominalmente eleito, sentisse necessidade de usar a intimidação violenta para ganhar eleições. Mas como nada disso se passa, tudo vai continuar a ser feito por medida e à medida do MPLA.
É para isso que o petróleo existe.
E porque o regime só reconhece a existências de um único deus, Eduardo dos Santos, não admite que existam dúvidas, não aceita que a sua liberdade termine onde começa a do Povo.
Vai daí, intimida, ameaça, espanca, rapta e mata quem tiver a veleidade de contrariar o “querido líder”. Como dizia o bispo emérito de Cabinda, Paulino Madeca, “quando um político entra em conflito com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade, torna-se um eterno ditador”. É o caso de Eduardo dos Santos.
Por alguma razão Kundi Paihama, tal como os restantes sipaios do regime, continua a pedir aos militantes do seu partido para que controlem “milimetricamente” todas as acções da oposição, para não serem “surpreendidos”. Na senda do que tem feito ao longo dos anos, o MPLA acusa a Oposição de enveredar por “manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando a desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus”.
Certamente graças ao árduo trabalho de Kundi Paihama, o MPLA diz. Continua a dizer, que tem em seu poder “informações secretas que apontam que a UNITA e outros opositores estão prestes a levar a cabo um plano B”. Plano que prevê, segundo os etílicos delírios dos dirigentes da ditadura angolana, “uma insurreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto, Tunísia e Síria”, sendo as províncias de Cabinda, Luanda, Huambo, Huíla, Benguela e Uíge as visadas.
Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder o poder. Para além do domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA sempre apostou forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.
E para esse papel, reconheça-se, não há ninguém melhor do que Kundi Paihama. Aliás, um dia destes vamos ver por aí Kundi Paihama afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam ter qualquer tipo de armas são terroristas (sejam afectos ao Protectorado Lunda Tchokwe, à UNITA, à sociedade civil de Cabinda) e que devem “ser varridos”.
E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada que tem na primeira linha das suas opções e que é tão do agrado das potências internacionais, pu seja a de que há perigo de terrorismo, de guerra civil. Kundi Paihama não tardará (por ele já o teria feito) a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia, certamente comer farelo.
Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou continua a mandar ou será o fim do mundo. Além disso, nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos armados que precisam de ser neutralizados.
Aliás, como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA e os seus aliados serão culpados até prova em contrário.
Numa entrevista à LAC – Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, era então ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA mantinha armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de voltar à guerra. Kundi Paihama, ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do MPLA, “se têm armas”, não é para “fazer mal a ninguém” mas sim “para ir à caça”.
Ora aí está. Tudo bons rapazes.
Quanto aos antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse que a conversa era outra e lembrou que mais cedo ou mais tarde seria preciso falar sobre este assunto.
Na entrevista à LAC disse textualmente: “Ainda hoje se está a descobrir esconderijos de armas”.