Como esperado, afirma o MPLA, a culpa é (só pode!) da… UNITA

A UNITA recusou a autoria de um alegado plano para atentar contra as instituições do Estado e a tomada do poder pela força. Isto porque, segundo as etílicas e paranóicas teses do regime, um golpe de Estado está ali mesmo nas esquinas de Luanda.

Por Orlando Castro

A posição foi hoje assumida em conferência de imprensa pelo Secretário-geral do partido, Vitorino Nhany, que visou denunciar o que apelidou de um “plano macabro” das autoridades angolanas para imputar à UNITA as referidas intenções.

Tal como nos velhos tempos, o MPLA diz que a UNITA é a culpada de tudo. Não se sabe bem se, um dia destes, ainda vai descobrir que o Galo Negro é responsável pelo massacre do 27 de Maio de 1977. Nunca se sabe.

O que se sabe, no período anterior à morte de Jonas Savimbi, é que as balas das FAPLA/FAA só matavam os terroristas da UNITA, enquanto as das FALA só matavam civis.

Segundo Vitorino Nhany, o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, escreveu ao Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, para “denunciar a falsidade” de um documento forjado, supostamente produzido pelos Serviços de Inteligência do Presidente da República, mas atribuído ao Gabinete de Estudos, Pesquisas e Análise da UNITA – GEPA.

“O presidente Samakuva escreveu ao senhor Presidente da República para repudiar o objectivo velado de tal documento e garantir-lhe categoricamente que o documento é absolutamente falso”, referiu Vitorino Nhany.

O Secretário-geral da UNITA afirmou ainda que o documento “é falso” no seu conteúdo, autoria e origem que lhe é atribuída.

De acordo com Vitorino Nhany, o documento data de Dezembro de 2014, e a carta de Isaías Samakuva a José Eduardo dos Santos foi endereçada há cerca de três meses, sem, no entanto, merecer resposta do Presidente angolano.

Para a UNITA, o objectivo da elaboração de tal documento visou a extorsão de dinheiro do Orçamento Geral do Estado “alegando que precisam de milhões de dólares para abortar tais planos da UNITA”.

O dirigente da UNITA sublinhou que as acusações não visam criar tensões no país, mas alcançar entendimento. “Não estamos a esconder, estamos a informar, de novo, o próprio Presidente da República para buscarmos diálogo”, salientou.

Igualmente com intenção de buscar diálogo, Vitorino Nhany disse que em Maio foi endereçada uma carta ao Secretário-Geral do MPLA, partido no poder desde 1975, para a discussão de assuntos que afectam o país.

“A resposta fez-nos crer haver intenções de se adiar o encontro solicitado para as calendas gregas, o que por métodos diplomáticos significará, negar”, frisou o político.

A finalizar, Vitorino Nhany apelou à opinião pública nacional e internacional para a importância do assunto, que acredita tem, entre outros, o objectivo de “forjar um motivo para uma purga militar ou criminal contra a direcção da UNITA”.

E o culpado é…

Nada disto é novo. Em plena campanha eleitoral de 2012, o MPLA defendeu que a UNITA deveria pedir desculpas a algumas famílias devido ao que fez no passado.

Na altura, o secretário para os Assuntos Políticos do MPLA em Luanda, Norberto Garcia, virou-se para o passado no ataque à UNITA. É natural. Desde logo porque, como bem sabem os angolanos, o MPLA nunca – mas nunca – fez mal ao Povo.

Aliás, como todo o mundo sabe e nunca deve ser esquecido, tudo o que de mal se passou, passa ou passará em Angola é culpa da UNITA.

Mas há mais factos que dão razão às teses do MPLA. Todos sabem que a UNITA é que foi responsável pelos mais de 60.000 angolanos torturados e assassinados em todo o país depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.

E só por ter um espírito reconciliador, democrático e benemérito é que o MPLA, seguindo ordens de Eduardo dos Santos, não refere que a UNITA foi também responsável pelo massacre de Luanda que visou o seu próprio aniquilamento e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.

E é esse mesmo filantrópico espírito que evitou que ele dissesse os nomes de alguns angolanos que, esses sim, representam o povo angolano. A saber, entre muitos outros: Lúcio Lara, Iko Carreira, Costa Andrade (Ndunduma), Henriques Santos (Onanbwe), Luís dos Passos da Silva Cardoso, Ludy Kissassunda, Luís Neto (Xietu), Manuel Pacavira, Beto Van-Dunem, Beto Caputo, Carlos Jorge, Tito Peliganga, Eduardo Veloso, Tony Marta, Agostinho Neto.

Como evitou que se fale dos que não são angolanos, mas apenas oportunistas e criminosos. A saber, entre outros: Alda Sachiango, Isaías Samakuva, Alcides Sakala, Jeremias Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces, Elias Salupeto Pena, Jonas Savimbi, António Dembo ou Arlindo Pena “Ben Ben”.

Mas, apesar desta postura, o MPLA tem na manga muitas outras provas. Um dia destes vai provar que o massacre do Pica-Pau em que, no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA em Luanda… foram obra da UNITA.

Como irá provar que o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção, foi obra da UNITA.

Mas a lista é interminável. Entre 1978 e 1986, centenas de angolanos foram fuzilados publicamente, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda. Responsável? A UNITA.

Foi, aliás, a aviação da UNITA que, em Junho de 1994, bombardeou e destruiu Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores; que, entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, bombardeou indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.

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