O general angolano Bento “Kangamba” afirmou hoje que os seus rendimentos resultam da actividade de empresário na área dos diamantes e da construção e não da Presidência da República, como tem sido acusado. Obviamente.
E m causa está o facto de ter casado com a sobrinha do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos (filha do seu irmão mais velho), como o próprio reconheceu, questionado em Luanda pela agência Lusa.
“Por eu casar com a sobrinha do Presidente da República pensam que é aí onde eu ganho os fundos. É mentira, eu não ganho nada porque em primeiro lugar não sou funcionário da Presidência da República e em segundo lugar não sou membro do Governo, nunca fui. Até deputado à Assembleia Nacional eu rejeitei porque sou empresário e gosto de me sentir à vontade”, assegurou. Obviamente.
Actualmente a ser investigado em Portugal por suspeitas sobre a origem duvidosa dos seus rendimentos e bens, e após informações tornadas públicas sobre alegados ilícitos semelhantes em França e no Brasil – que nega peremptoriamente -, o general angolano de três estrelas recorda que “sempre” teve dinheiro. Obviamente.
Acrescenta que antes de casar com a sobrinha do Presidente angolano, já o acusavam de ser “possuidor de feitiço”, porque o seu dinheiro “não acabava”. “Nunca escondi de ninguém. Eu não sou uma pessoa pobre, sou uma pessoa rica”, afirma, recordando que em 49 anos de vida já fez “de tudo”, desde o garimpo de diamantes até à venda de rua. Obviamente.
Hoje assume-se como empresário na área dos diamantes, da construção civil e do futebol (dono do Kabuscorp do Palanca, actual vice-campeão angolano). E, é claro, recusou acusações que lhe são imputadas publicamente sobre o envolvimento em tráfico de mulheres e redes de prostituição de luxo. Obviamente.
“Quem diz que eu vendi uma ‘gaja’ para fazer dinheiro é feio, isso. Acha que eu vendo uma ‘gaja’ para ganhar dinheiro para ter um clube de futebol? É mentira”, assegura, recordando que a prostituição existe em Angola tal como em Portugal. Obviamente.
Mesmo recusando, diz, cargos governamentais, Bento dos Santos “Kangamba” tem vindo a assumir preponderância na estrutura de Luanda do MPLA, partido liderado por José Eduardo dos Santos e no poder no país desde 1975.
Bento “Kangamba” afirmou também que confia na Justiça portuguesa e que está disponível para explicar a origem do dinheiro encontrado em Portugal, que nega resultar de actividades ilícitas. Obviamente.
“Eu confio pela Justiça portuguesa porque não sou criminoso. Só quem tem de ter medo da polícia portuguesa e da Justiça portuguesa é o criminoso”, afirma Bento dos Santos “Kangamba”. Mesmo depois do que fizeram ao ex-primeiro-ministro José Sócrates? Obviamente.
Assegura que nunca foi notificado por Portugal da prática de qualquer crime, citando por várias vezes alegadas acusações de fraude fiscal e branqueamento de capitais, ou que tenha sido constituído arguido.
“Agora espero eu que a polícia e a Justiça portuguesa provem os crimes, aquilo que falaram de mim. Não tenho qualquer problema com Portugal, não tenho medo de nenhum juiz ou de procurador. Quando se diz que o fulano é ‘y’ tem que provar”, aponta. Obviamente.
Questionado sobre algum receio em voltar a Portugal, perante a investigação em curso, “Kangamba” desvalorizou: “Não tenho receio porque eu não cometi nenhum crime. E se for notificado para ir ao juiz posso ir normalmente, sem problema nenhum. Só se tivesse crime é que teria medo”. Obviamente.
Em causa estão buscas realizadas a 15 de Outubro às propriedades de Bento dos Santos “Kangamba” em Portugal, no âmbito de investigações do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) por suspeitas de branqueamento de capitais, alegadamente relacionadas com a actividade do militar angolano em território português.
O general nega também que tenham sido apreendidos, nas duas casas que confirma possuir “há mais de três anos”, oito milhões de euros em dinheiro, como foi noticiado. “É mentira. Nunca tive esse dinheiro em casa, mas podia ter”, diz, reconhecendo que não é “pobre”.
De acordo com o próprio Bento “Kangamba”, nestas duas casas, ambas seladas pelas autoridades e às quais espera reaver o acesso já na próxima semana, foram encontrados 1,7 milhões de euros. Dinheiro que, diz, servia para “pagar aos trabalhadores e colaboradores mais próximos” em Portugal.
Sobre este dinheiro, admite que possa ter cometido uma irregularidade ao não o declarar à entrada no país, o que garante ter acontecido há vários anos, mas assegura que é proveniente dos seus rendimentos e não de actividades ilícitas.
“Não sabia a lei de Portugal, mas isso não é crime. Pagam-se os impostos”, assegura.
“O dinheiro com que se comprou casa em Portugal é limpo, é normal. Não tem prolema nenhum. O dinheiro é meu, não é roubado, é a minha herança. Não é crime ter o dinheiro em casa”, assegura. Obviamente
Embora insatisfeito com as acusações de que diz estar a ser alvo de Portugal, rejeita colocar a responsabilidade em “todos os portugueses” ou reagir da mesma forma. Ainda assim, afirma: “Temos de saber de onde está a sair este fogo”.
Nesta entrevista à Lusa, o general chega mesmo a comparar o seu caso à detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates, pela “condenação” que diz já ter acontecido na “praça pública”, nos dois casos. “A Justiça que trabalhe, que investigue. Quando o engenheiro Sócrates for julgado e condenado as pessoas que falem (…) Eu estou a ser condenado pelos portugueses, que nem me conhecem. Quando eu nunca fiz mal aos portugueses”, afirma, insatisfeito com as notícias publicadas em Portugal. Obviamente.
“Não fiz nenhum negócio para branquear dinheiro em Portugal, em primeiro lugar. Em segundo lugar, tudo o que lá está é limpo e honesto. As casas foram compradas e paguei imposto. Pago água e luz, não tenho nada atrasado. Não tenho como esconder”, remata. Obviamente. Obviamente senhor general… de três estrelas.