Morrer à procura de viver

Mais de 3 mil imigrantes morreram, apenas este ano, ao tentarem cruzar o Mar Mediterrâneo e entrar ilegalmente na Europa. Os números são do relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), divulgado nesta segunda-feira na sede da entidade em Genebra.

A OIM registrou 4.077 mortes em todo o mundo, porém 3.072 delas, cerca de 75%, ocorreram no mar que separa o continente europeu do africano. A Europa é, portanto, de longe o destino mais perigoso para os imigrantes.

“Chegou a hora de fazermos mais do que apenas contabilizar as vítimas”, criticou Willian Lacy Swing, director-geral da organização, que trabalha em cooperação com as Nações Unidas. “É hora de o mundo se comprometer a acabar com essa violência contra imigrantes desesperados,” lembrou.

Desde 2000, as tentativas de imigração ilegal já causaram a morte de mais de 40 mil pessoas em todo o mundo. Willian Lacy  Swing ressaltou ainda que uma em cada sete pessoas em todo o mundo é actualmente considerada imigrante, e lamentou a “resposta dura do mundo desenvolvido à migração”.

“Precisamos por fim a esse ciclo”, afirmou, acrescentando que  “imigrantes sem documentação não são criminosos, mas seres humanos que precisam de protecção e assistência, e merecem respeito”.

O relatório foi divulgado semanas após uma das piores tragédias com imigrantes já registados, quando uma embarcação que transportava cerca de 500 refugiados provenientes de Síria, Egipto e dos territórios palestinos – inclusive cerca de 100 crianças – afundou. Dois sobreviventes afirmaram que os contrabandistas que organizaram a travessia afundaram a embarcação nas proximidades da ilha de Malta.

Na mesma época, na costa da Líbia, um barco com mais de 200 ocupantes afundou a apenas 20 quilómetros ao oeste da capital Trípoli. Segundo a Marinha local, 36 náufragos foram resgatados.

Os números das mortes registadas nos primeiros nove meses deste ano já representam mais do que o dobro do maior registo feito anteriormente. Em 2011, durante as revoltas da Primavera Árabe, 1.500 pessoas morreram.

O relatório afirma que as mortes são um reflexo do “aumento dramático no número de imigrantes que tenta chegar à Europa”. Mais de 112 mil imigrantes ilegais foram detidos apenas pelas autoridades italianas durante os oito primeiros meses de 2014 – quase o triplo do total do ano anterior.

“Muitos fogem de conflitos, perseguições ou da pobreza”, diz o documento da OIM. A maioria dos que chegaram a Itália vieram em busca de refúgio da guerra civil na Síria ou são fugitivos do regime repressivo na Eritreia. A piora da situação na Líbia, um país de trânsito para muitos imigrantes, também contribui para o aumento de pessoas que tentam chegar à Europa.

Na fronteira entre o México e os EUA, mais de 6 mil perderam a vida entre 1998 e 2013, o que equivale a uma média anual de 400 mortes. Já na costa da Austrália, cerca de cem pessoas morrem a cada ano desde 2000, enquanto milhares de outras perdem suas vidas no deserto do Saara e no Oceano Índico.

A OIM aponta ainda que o número real de mortes pode ser ainda maior do que o divulgado pelo relatório, pois há falta de estatísticas detalhadas e muitas mortes de imigrantes ao redor do mundo não são registaadas.

“Alguns especialistas acreditam que para cada corpo encontrado há no mínimo mais dois que jamais foram recuperados”, afirma a organização.

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