A malta bebe vinho que se farta

A malta bebe vinho que se farta - Folha 8

Angola importa anualmente 780 milhões de euros em vinho, sendo a produção nacional ainda reduzida, segundo dados avançados, em Luanda, na inauguração da segunda edição do festival angolano do sector. O director do Angola Wine Festival, Miguel Pinho, sublinha tratar-se de um número que “representa bem” o peso de um “negócio muito grande” no país.

Estamos “a falar de grandes empresas, de grandes importadores. Empresas com mais de 40 anos de actividade e uma presença muito forte, o que revela o grande papel que o vinho tem na vida e na gastronomia angolana, que é um caso único em África”, sublinhou.

O negócio do vinho em Angola, que envolve anualmente, segundo os promotores deste evento, mil milhões de dólares (cerca de 780 milhões de euros), está essencialmente concentrado na importação, com a produção nacional ainda numa fase inicial.

Esta segunda edição do Angola Wine Festival decorre em Luanda e termina sábado, aliando a promoção da cultura do vinho com a gastronomia angolana.

O evento conta com 85 expositores, representando 500 marcas de vinho provenientes sobretudo de Portugal, mas também de países como Chile, África do Sul ou Itália, entre outros.

“Estamos com um aumento de 23 por cento de empresas presentes. São dados que mostram a importância do mercado angolano e a relevância crescente deste evento”, disse ainda o director do festival.

Angola começa, entretanto, a apresentar os primeiros projectos de produção vinícola, pelo que os primeiros produtores angolanos poderão estrear-se já na próxima edição do evento.

“São projectos de produção de vinho em Angola que apostam na qualidade, em afirmarem-se por essa via, por isso demoram mais tempo a entrar no mercado. A nossa intenção é claramente valorizar o que é nacional, feito em Angola, e em 2015 já poderemos ter essa representação no festival”, explicou Miguel Pinho.

Entre outras acções promocionais, este festival envolve provas comentadas e jantares vínicos, enfatizando a importância da associação do consumo do vinho à gastronomia angolana.

“O nosso objectivo é promover uma cultura enogastronómica de qualidade, de criar um consumidor mais exigente”, rematou.

Portugal exportou para Angola, no primeiro semestre do ano, cerca de 32 milhões de euros em vinho, assumindo uma quota de mercado superior a 90 por cento no país.

“Angola é o principal mercado para os vinhos engarrafados portugueses, em valor e volume, entre os que são considerados estratégicos para o sector vitivinícola”, afirmou o presidente do Instituto do Vinha e do Vinho (IVV), Frederico Falcão, à margem da abertura da segunda edição do Angola Wine Festival.

França ocupa o primeiro lugar das exportações portuguesas de vinho em valor, resultado “influenciado” pelo preço médio do litro de Vinho do Porto, logo seguida de Angola, país que lidera em volume.

De acordo com os números do IVV, as exportações de vinho de Portugal para Angola cresceram 8,6 por cento em todo o ano de 2013, para 94 milhões de euros, dos quais 72 milhões de euros corresponderam a vinhos engarrafados.

No primeiro semestre de 2014 o volume de exportação caiu, em termos homólogos, para 32 milhões de euros. Uma quebra de um milhão de euros que, segundo Frederico Falcão, não constitui motivo de alarme, por resultar da descida das vendas do vinho a granel, produto que “não está ligado ao território e não representa valor acrescido para a exportação”.

“Há uma subida dos vinhos engarrafados e dos vinhos certificados, quer em volume quer em valor. Houve um decréscimo nos vinhos a granel, mas em termos de vinhos DOP (Denominação de Origem Protegida) registamos uma subida de 14 por cento em valor”, acrescentou.

Em termos de volume (litros), as exportações de vinho português para Angola caíram globalmente 6,8 por cento no primeiro semestre, mas os vinhos de origem protegida subiram 11 por cento e os licorosos 360 por cento, ainda segundo o IVV.

“Portugal tem uma quota de mercado em Angola muito acima dos 90 por cento. É essencial manter esta presença, manter as acções, para que Portugal não perca esta quota e o crescimento dos últimos anos”, enfatizou Frederico Falcão.

A ligação histórica e cultural entre os dois países explica, segundo o presidente da Viniportugal, Jorge Monteiro, a liderança portuguesa nos vinhos vendidos em Angola, perante uma produção nacional praticamente inexistente.

“Estamos a falar de um consumo de vinho ‘per capita’ em Angola que andará ligeiramente abaixo do Reino Unido”, disse Jorge Monteiro, igualmente à margem da inauguração do Angola Wine Festival, em Luanda.

Os consumidores angolanos, garante ainda, estão “preparados e gostam” da marca portuguesa, em relação aos restantes presentes no mercado nacional, que importa anualmente, em termos globais, cerca de 780 milhões de euros em vinho.

Além disso, realça o presidente da ViniPortugal, os vinhos portugueses têm beneficiado da forte implantação e conhecimento de importadores nacionais que operam no mercado angolano, pelo que a tendência é de manter o crescimento do sector.

“Nos últimos dez anos, em valor, a exportação de vinhos portugueses para o mercado de Angola cresceu mais de 360 por cento e em termos de preço médio mais do que duplicou. A tendência é crescer”, admitiu, por sua vez, Frederico Falcão.

Artigos Relacionados

Leave a Comment